terça-feira, 26 de julho de 2011

110- A ópera na Finlândia - séc.XX - Aulis Sallinen

Um outro compositor de grande repercussão no meio da ópera é Aulis Sallinen.

Aulis Sallinen (nascido em 9 de abril de 1935) é um compositor contemporâneo de música clássica. Sua primeira experiência musical foi tocando violino. Com a improvisação (incluindo jazz) no piano, levou-o a escrever suas primeiras composições ainda quando era adolescente. Depois de estudar com Aarre Merikanto e Kokkonen Joonas da Academia Sibelius, foi administrador da Orquestra Sinfônica da Radio Finlandesa (1960-69), secretário e membro do Conselho de Administração (1958-73), então presidente (1971-73) dos compositores finlandeses, e também atuou, por vários anos, no Conselho de Administração do "Finnish National Opera".

Para ouvidos ocidentais, sua música situa-se na vertente de Sibelius e nas óperas de Mussorgsky, sendo influenciado pelos vizinhos russos Prokofiev e Shostakovich, embora pode-se encontrar também alguns toques de Janáceck, Britten e Tippett em suas composições.

Sua extensa lista de composições inclui oito sinfonias, grandes concertos de obras que envolvem vozes, como o "Dies Irae" (1978)- uma visão apocalíptica do nosso planeta destruído, "Songs of Life and Death" (1994)- uma expressão expansiva da ajuda humanitária, o credo e os diálogos Barrabás (2003), tocando a história da Páscoa.

Mas é no campo das óperas que seu trabalho ficou concentrado. Sallinen é um dos compositores de ópera acima de tudo, e ele compôs seis importantes obras de grande escala nesse gênero, que foram retomadas em várias ocasiões. São elas:

"Ratsumies" (l'homme aux chevaux),Ryttaren (sueco) O Cavaleiro, op. 32 (1974),
"Punainen viiva "(La ligne rouge), op.46 (1978) A Linha Vermelha , op. 46 (1978)
"Kuningas lähtee Ranskaan" (Le Roi se rend en France), op. 53 (1983), O Rei sai para a França,
"Kullervo", op. 61 (1988)
"Palatsi" (le Palace), op. 68 (1991-1993), O Palácio,
"Kuningas Lear" (Le roi Lear), op. 76 (1999), Rei Lear.

O Cavaleiro (1975) e A Linha Vermelha (1978) são dramas sociais enraizadas na cultura finlandesa, e desempenharam um papel crucial no estabelecimento da Finlândia, como exportador mundial da ópera contemporânea. O Rei sai para França (1983), encomendada pelo Festival de Savonlinna, foi apresentada no Royal Opera House e na BBC, e "The Palace" ( 1991-3) introduziu elementos de fantasia satírica.

No entanto Kullervo (1988) e Rei Lear (1999), com um libreto adaptado a partir da peça de Shakespeare, são tragédias que exploram as relações familiares e os sombrios aspectos da condição humana. O sucesso das óperas de Sallinen é demonstrado pelo fato de que quatro de suas óperas - O Cavaleiro, o Rei sai para a França, Kullervo e A Linha Vermelha- são sempre apresentadas na Europa nas grandes casas de ópera com bastante público, como também na Alemanha e Estados Unidos.

O Cavaleiro é dinâmico e, às vezes, tem o efeito de uma balada nacionalista, fixada a cerca de três ou quatro séculos no passado, quando o povo finlandês estava sendo espremido nos dois lados da Suécia e da Rússia. A linguagem é ao mesmo tempo moderna e arcaica, reforçando a poesia do libreto de Paavo Haavikko, e construida em três atos. O Cavaleiro tem um libreto original do maior poeta finlandês contemporâneo, que situa a história na Rússia e na Finlândia à época da união com a Suécia. O tema é, ao mesmo tempo, patriótico e histórico (a Finlândia como um pequeno país entre o imperialismo russo e sueco), humano (duas pessoas apanhadas numa determinada contingência) e alegórico (alguém que involuntariamente provoca a dissenção, além de questões como a do indivíduo frente à autoridade e à escolha). O libreto, assim, é bem poético e o efeito da música é forte e direto.

A ópera A Linha Vermelha se passa entre o povo de Korpiloukko, ao norte da Finlândia, em 1907. A história conta que Topi e Riika vivem com seus três filhos na maior pobreza. Um urso voltou a matar um de seus cordeiros e Riika impede que Topi mate o urso. Em sonhos, Topi fala com o vigário que não quer lhe dar o dinheiro da caridade, porque ele não vai à igreja. Quando desperta, decide que vai caçar pássaros para vendê-los.
Simana regressa da Suécia e canta canções para distrair Riika e as crianças, enquanto Topi vai a uma assembléia socialista, onde lá decidem que vão traçar com uma linha vermelha a papeleta do voto nas próximas eleições, significando a espera de melhores condições. Aparece um agitador que defende a abolição das classes sociais e exorta uma rebelião. Um jovem pastor adverte que a violência traz o derramamento de sangue. Riika lê um escrito revolucionário, segundo o qual a revolução poderá acabar com a fome e a miséria. Topi reflete que traçar a linha vermelha do sangue é tão difícil como matar um urso. Os cachorros começam a ladrar ao longe.
No dia das eleições, Topi e Riika traçam a linha vermelha no voto. Fica tudo por igual. No final da primavera as crianças ficam muito doentes e todas elas falecem, apesar dos "cuidados medicinais" da vizinha. Para economizar dinheiro, os três filhos são enterrados num mesmo caixão. A vizinha diz que Deus vai amaldiçoá-los.
Chega uma notícia de Helsinki que uma nova vida se avizinha e que o domínio da nobreza e dos curas já deve terminar. Topi ouve o ladrar outra vez dos cachorros e decide caçar o urso que já despertou da sua hibernação. Ao longe, Riika vê como seu marido luta com o urso corpo a corpo. Topi aparece morto. O sangue flui pelo seu corpo como uma linha vermelha.



A ópera Kullervo é baseada na obra teatral homônima de Aleksis Kivi, com o libreto do próprio compositor. Kullervo se inspira num episódio da epopéia nacional finlandesa, a Kalevala. Na música finlandesa erudita, composta a partir de temas do Kalevala, é especialmente a história trágica de Kullervo que tem inspirado vários compositores, começando por Jean Sibelius. Em 1992, no dia do Kalevala, foi estreada, em Los Angeles, a ópera Kullervo de autoria do compositor Aulis Sallinen.

Kullervo foi iniciada em 1986, e levou apenas dois anos para ser concluida. A obra narra uma solene história trágica envolvendo um anti-herói. Este papel de liderança domina o trabalho, e o sombrio destino de sombras do protagonista da ópera como nuvens pesadas. Kullervo apresenta um violento mundo primitivo onde a escuridão é apenas ocasionalmente iluminada por vislumbres de amizade e do amor romântico, além do amor maternal.

Aulis Sallinen explicou a razão da escolha de Kullervo para personagem principal da sua obra da seguinte maneira: "Não valeria a pena contar esta história se nela não houvesse aquela ária que se eleva acima de todas as outras, o tema da mãe de Kullervo, bordado com as cores profundas do ouro. Na personagem de um monstro humano, homem infeliz, vê a mãe um rapazinho, há muito perdido, cujo cabelo brilha com a cor amarela dos campos de linho. Hoje, depois de terminada a obra, ainda sou da mesma opinião. Ele resultou nisso mesmo."

O coro narra a discórdia entre os irmãos Kalervo e Unto, sendo que este acabou com a família de Kalervo, com exceção do jovem sobrinho Kullervo, que quis mantê-lo como escravo. Sua esposa o aconselha a matar também Kullervo, com medo que ele busque vingança. Entretanro, ele resolve vendê-lo a um ferreiro, como pastor. A jovem esposa do ferreiro, diante da frieza de Kullervo ante seus apelos, discute com ele sobre o seu trabalho como pastor que lhe desagrada. Kullervo indignado mata a mulher com o punhal herdado pelo seu pai. Seu amigo Kimmo o avisa que sua família, milagrosamente, sobreviveu ao ataque de Unto. Após cometer o crime, Kullervo foge, encontrando seus pais no caminho e não os reconhece. Kimmo se apressa a explicar a todos a situação. Kalervo, o pai, quer repudiar o filho por ter as mãos sujas de sangue, mas a sua esposa intercede por não querer perder o filho outra vez. Assim, o mensageiro Kimmo se culpa pela tragédia familiar, sendo levado à loucura. Após pesadelos que resultam na descoberta de um incesto com a irmão e o seu subsequente suicídio, Kullervo decide vingar-se de Unto e toda a sua estirpe. Kimmo, que ficou louco, se dirige a Kullervo como se fosse um Cristo que traz o dever de carregar todos os pecados do mundo. Kullervo assume o destino dado por Kimmo e elege a morte como um chamado.





Levic

segunda-feira, 25 de julho de 2011

109- A ópera na Finlândia - séc.XX - Sibelius, Merikanto


A Finlândia tem-se apresentado com muito interesse pela música operística principalmente a partir das três últimas décadas do século 20, sendo que seu marco decisivo foi no ano de 1975, quando foram estreadas as óperas "Ratsumies" (O Cavaleiro), de Aulis Sallinen e "Viimeiset kiusaukset" (As Últimas Tentações), de Joonas Kokkonen. O grande entusiasmo pelas óperas fizeram-na tomar o formato de grandes óperas baseadas no folclore, apresentadas em teatros ao ar livre, e óperas com temas campestres, apresentadas por grupos amadores locais. Rapidamente, o título de ´ópera` foi aplicado em obras que na realidade eram "Singspiele", ou musicais. O termo ópera deixou de ser uma denominação desconhecida para o público em geral.

O conceito de 'ópera' foi um tanto generalizado desde então, mas por outro lado, serviu para aumentar o interesse do público em geral pelo gênero lírico, o qual assim se expandiu e se renovou. Há óperas religiosas, incluindo cânticos para a comunidade e hinos, óperas para ocasiões festivas montadas à beira de um lago, ou num museu ao ar livre, como também as óperas para crianças e adolescentes ou ainda as óperas desportivas. É um conceito moderno de ópera.

Muito do seu desenvolvimento se deve também aos grandes festivais de óperas que acontecem a partir de 1967, como o Festival de Ópera de Savonlinna que foi reativado, tornando o Castelo de Olavinlinna, do século XV, o segundo mais importante teatro lírico da Finlândia depois da Ópera Nacional da Finlândia. O Festival cresceu rapidamente e tornou-se um evento de importância internacional.

Na década de 90, a ópera finlandesa ganhou finalmente um teatro digno da sua categoria. O novo Teatro de Ópera em Helsinque foi inaugurado em novembro de 1993, e providenciou à Ópera Nacional da Finlândia um espaço de classe internacional. Como resultado, surgiram pequenas e competentes companhias de ópera procurando uma nova forma de expressão lírica. A tendência, que começou nos anos 70, resultou numa reforma do conteúdo na ópera. As pequenas companhias ressuscitaram um gênero que estava quase esquecido - a ópera de câmara. Este fato deu a muitos novos compositores a oportunidade de escreverem óperas.

Ainda se pode dizer que com o surgimento de sociedades líricas, onde estrearam dezenas de óperas, tiveram uma grande importância para os compositores como Tauno Marttinen ( 1912), de quem quase todas as óperas eram compostas por encomenda por pequenas sociedades líricas e estreadas fora de Helsinque.

Entretanto, o status da ópera na Finlândia foi reforçado principalmente pelas tournés da sua Ópera Nacional pelo estrangeiro, com grande sucesso no final dos anos 70 e na primeira parte dos anos 80. Em geral, essas tournés apresentavam as óperas de Joonas Kokkonen, "Viimeiset kiusaukset" (As Últimas Tentações) e de Aulis Sallinen, "Punainen viiva" (A Linha Vermelha). Por fim, a Ópera Nacional da Finlândia foi convidada para se apresentar, na Primavera de 1983, na Metropolitan Opera de Nova Iorque.

Assim, pode-se falar de grandes compositores na Finlândia, além do já tão conhcecido Jean Sibelius que compôs apenas uma ópera e não tão conhecida pelo sucesso, que é a chamada de "Jungfrun i tornet", (A Senhora na Torre). Ele dedicou-se mais às sinfonias, assim como Beethoven.

Jean Sibelius (Hämeenlinna, 8 de dezembro de 1865 — Järvenpää, 20 de setembro de 1957) foi um compositor finlandês de música erudita, e um dos mais populares compositores do final do Século XIX e início do século XX. Sua genialidade musical também teve importante papel na formação da identidade nacional finlandesa. Dentre as composições mais famosas de Sibelius, destacam-se: Concerto para Violino e Orquestra em ré menor (obra de grande expressão, melodiosidade profunda e virtuosismo, que goza de grande popularidade entre os violinistas e o público, tornando-se em um dos concertos para violino mais executados nas salas de concerto), Finlandia, Valsa Triste (o primeiro movimento da suíte Kuolema), Karelia Suite e O Cisne de Tuonela (um dos quatro movimentos da Lemminkäinen Suite). Sibelius não fez ópera. Seu nome entra aqui pela importância de sua influência musical nas obras de outros compositores.

Como exemplo de sua música deixo um excerto de Finlandia:


Uma das belas canções feitas por Sibelius,"The Tryst", cantada por Karita Mattila.



Aarre Merikanto (29 de junho de 1893, Helsinki - 29 de setembro de 1958) foi um compositor finlandês, filho de Liisa Häyrynen e do famoso compositor romântico, professor Oskar Merikanto. Sua infância foi passada em Vilppula , na Finlândia. Ele é considerado um dos compositores mais notáveis da Finlândia, assim como Einojuhani Rautavaara e Jean Sibelius. Estudou música em Helsinque em 1911, e depois em Leipzig 1912-1914 e Moscou 1916-1917.
Merikanto foi diagnosticado com câncer de pulmão no verão de 1957, e morreu no ano seguinte. Seu filho é o escultor Ukri Merikanto .

Compôs sinfonias, concertos, poemas sinfônicos , mas grande parte de sua composição foi perdida, através dos tempos. Escreveu a ópera "Juha" (1922), que é a única mais famosa. Antes, ainda muito novo e incentivado por seu pai, escreveu a ópera Helena, uma obra com acompanhamento de piano, concluída em 1912 e apresentada uma vez em um evento de gala beneficente, em Helsinque.

Pode-se dizer que a ópera finlandesa alcançou um nível internacional com a obra de Aarre Merikanto (1893-1958) que lançou a pedra fundamental para o Modernismo finlandês, escrevendo uma música inspirada na obra de Alexander Scriabin.

Entretanto, a sua ópera "Juha" (1922) teve de esperar quatro décadas antes de ser estreada, posto que suas tendências eram demasiadamente modernistas. "Juha" é uma obra fundamental da ópera finlandesa e, depois de sua estreia, que foi palco em Lahti em 28 de outubro de 1963, ficou com um lugar garantido no repertório básico dos teatros líricos finlandeses.

A história se passa na década de 1880 e está situada no Kainuu (uma região selvagem do norte da Finlândia), na Carélia e Uhtua do lado russo da fronteira. Os acontecimentos da ópera, na fronteira entre o Oriente e o Ocidente, são provocados pela dura realidade, de que a vida é diferente do outro lado da fronteira, o que causa uma falta de entendimento por uma lado e a auto-suficiência pelo outro.
Ao invés de retratar os eventos em si, a música reflete os modos e as cargas emocionais gerados pela ação.
Juha se baseia no romance de mesmo nome de Juhani Aho, publicado em 1911, e é uma síntese magistral do modernismo nacional e internacional em um espírito impressionista expressionista. Apesar de fazer uma descrição pitoresca da sociedade agrária finlandesa, é acima de tudo um drama intemporal triangular com a música que ainda tem um novo recurso: o envelhecimento de Juha, sua jovem esposa Marja, e o sedutor Shemeikka.

Veja alguma coisa desta ópera, através dos vídeos abaixo, e sinta a beleza de sua dramaticidade.




Continua no próximo post.

Levic

sábado, 23 de julho de 2011

108- Ainda um pouco da França


Antes de continuar a evolução histórica da música no gênero de ópera até os dias atuais, não posso deixar passar duas obras que são classificadas dentro de musicais, mas que são do estilo operístico com toda a pompa que exige: excelentes cantores, drama musical dividido em atos, música orquestral em grande estilo, e corpo de ballet com grande performance. Estou me referindo às obras " Notre Dame de Paris"(O Corcunda de Notre Dame) e "Les Miserables"(Os Miseráveis).

Notre Dame de Paris é um musical francês-canadense que estreou a 16 de setembro de 1998, em Paris. É baseado no romance Notre Dame de Paris do romancista francês Victor Hugo. A música foi composta por Riccardo Cocciante (também conhecido como Richard Cocciante) e as letras são de Luc Plamondon.

Desde sua estréia, tem se apresentado por toda a França, Coréia do Sul, Bélgica, Suíça e Canadá. Uma versão mais curta em inglês foi realizada em 2000 em Las Vegas, Nevada (E.U.A.) e numa produção de Londres, também em inglês, com público para dezessete meses. Canções populares da série, como "Belle" e "Le temps des Cathédrales" também foram traduzidas para o catalão, alemão, tcheco, polonês, lituano e o bielorrusso.

"Notre Dame de Paris", de acordo com o "Guinness Book of Records", teve a campanha mais bem sucedida antes de qualquer musical.

O Corcunda de Notre Dame é um belo espetáculo com qualidade na montagem, nas músicas, na coreografia, no texto, na iluminação, nos cenários, revelando ser uma obra indispensável aos amantes da música. Na 1ª parte apresenta um total de 27 músicas e na outra parte mais 25, recheadas de emoção e sensilibidade.
Esse musical foi apresentado como estreia em 1999, no Palais des Congrès de Paris, nos dias 16 e 17 de janeiro.
Um dos trechos mais bonitos é a música "Belle", onde os três enamorados - Quasímodo(o corcunda), Frollo(o padre) e Phoebus ( o tenente) cantam o seu amor a Esmeralda, cada um de seu modo.









É preciso destacar o desempenho de Garou como Quasímodo, sem desfazer dos outros que estão muito bem. Garou é maravilhoso.

Les Misérables, também conhecida informalmente por Les Mis ou Les Miz, é uma obra composta por Claude-Michel Schönberg em 1980, com libreto de Alain Boublil e letras de Herbert Kretzmer. É um dos musicais mais famosos e mais encenados pelo mundo.

Baseado no romance épico francês Les Misérables, de Victor Hugo, a história se passa na França do início do século XIX e acompanha as histórias entrelaçadas de um elenco com personagens que lutam por redenção e pela revolução.

Dessa trilha sonora, vencedora do Tony Award, se destacam canções como I Dreamed a Dream, cantada em solo pela personagem Fantine durante o primeiro ato. Diversos artistas gravaram versões dessa canção desde a premiere do musical, em outubro de 1985, incluindo Neil Diamond, Aretha Franklin, David Essex, e Michael Crawford. I Dreamed a Dream ressurgiu em popularidade em 2009, quando a escocesa Susan Boyle cantou a canção ao vivo em sua audição para um programa britânico de reality show, "Britain's Got Talent".

Claude-Michel Schönberg (nascido em 6 de julho de 1944 em Vannes, França) é um produtor musical francês, ator, cantor, compositor e compositor de teatro musical, mais conhecido por suas colaborações com o compositor Alain Boublil. Suas obras incluem os musicais: La Révolution Française (1973), Les Misérables (1980), Miss Saigon (1989), Martin Guerre (1996), The Pirate, Queen (2006), Marguerite (2008).




Acho que assim como Lloyd Webber na Inglaterra, ele que escreveu a maioria das músicas para o musical francês, pode ser considerado um compositor de ópera rock.

A história de Os Miseráveis narra a vida de Jean Valjean, um simples francês preso ainda jovem por roubar um pão. Depois de servir cinco anos para a criminalidade, bem como um adicional de 14 tentativas de fuga, Valjean é liberado em condicional.
Ao iniciar uma vida social, ele muda o seu nome e iludindo seu agente da condicional, se torna o pai adotivo de uma menina e ainda se torna um prefeito, mas com a Revolução Francesa ele descobre que não pode mudar o homem ele é.

Les Miserables é típico do teatro nos anos 80, com efeitos extravagantes nos números de todo o elenco. O escore é cheio de emoção e humor, incluindo as canções memoráveis e notáveis como "Look Down", "Do You Hear the People Sing?", "Bring Him Home", "Empty Chairs at Empty Tables", e o onipresente " On My Own ".

Les Miserables é uma ópera dos tempos modernos.












É possível que muita gente não concorde que estas obras sejam operísticas, mas acredito já ter colocado minha opinião em posts anteriores sobre o conceito moderno de ópera.



Até mais!
Levic

quinta-feira, 21 de julho de 2011

107- Dinamarca - séc. XX - Carl August Nielsen



Carl August Nielsen (9 de junho, 1865 – 3 de outubro 1931) foi um maestro, violinista, e compositor da Dinamarca. Carl Nielsen é especialmente admirado pelas suas seis sinfonias e concertos para violino, flauta e clarinete.

Nielsen foi o sétimo dos doze filhos de uma família camponesa pobre em Sortelung (Nørre Lyndelse), ao sul da cidade de Odense, Dinamarca. Seu pai era um pintor e músico amador.
Carl conseguiu aprender violino e piano em criança. Ele também aprendeu a tocar instrumentos de sopro, o que o conduziu a um trabalho como corneteiro no 16 º Batalhão em Odense. Mais tarde estudou violino e teoria musical no Conservatório Musical Copenhage, mas nunca teve aulas de composição formal. Apesar disso, ele começou a compor.

Carl August Nielsen escreveu muito durante a primeira parte do século XX. Embora fosse o mais importante compositor dinamarquês de sua geração, e talvez de todos os tempos, a sua música ainda é pouco conhecido fora da Dinamarca. Suas seis sinfonias são as obras que lhe deram reputação internacional, mas ele também escreveu obras para piano, órgão, câmara, teatro e música coral, incluindo duas óperas.

Sua música, ao mesmo tempo, tem um som um tanto neo-clássico e moderno, com bases na música folclórica escandinava. Nielsen utiliza elementos da música de épocas que vieram antes dele, mas também, às vezes, mistura com estilos modernos. Parece que um canhão ou uma fuga pode surgir em qualquer momento em sua música.
Ele também foi um dos grandes mestres de contraponto e mantém um grande apreço e compreensão pela música de Bach.

Outras peças bem conhecidas são a música incidental para o drama "Oehlenschläger Adam's Aladdin", as óperas 'Saul og David" e "Maskarade", os concertos para flauta, violino e clarinete, o quinteto de sopros, e a insinuação Helios, que retrata a passagem do sol no céu ao amanhecer e ao anoitecer. A grande maioria dos dinamarqueses conhecem e cantam as músicas de vários poetas, com a música de Carl Nielsen.

"Saul og David " é uma ópera em quatro atos, composta 1898-1901, produzida e conduzida por Nielsen em Copenhague, no "Royal Theatre", em 28 de novembro de 1902. A história fala que quando Davi derrota Golias, Saul fica com ciúmes e proíbe-o de ver sua filha. David foge com Michal, filha de Saul e este comete suicídio após perder uma batalha contra os filisteus, o que torna Davi um poderoso rei.






Assim como seu contemporâneo, o finlandês Jean Sibelius, estudou a polifonia renascentista de perto, que é responsável por grande parte da melódica e harmônica "sensação" de sua música.

Levic

quarta-feira, 20 de julho de 2011

106- No tempo das operetas






Gostaria de deixar registrado no meu blog um artigo escrito por Arthur Torelly Franco, intitulado "No tempo das Operetas", que melhor que ninguém explica tão bem o valor de Franz Lehár para o mundo da música. Caso haja alguma dúvida quanto ao meu acesso para postar no meu blog um artigo publicado de outra pessoa, deixo que estou, a qualquer momento, apta a fazer qualquer mudança necessária ou retificações. O e-mail do autor do artigo é torelly@polors.com.br


"O Dicionário de Ópera de Charles Osborne traz a seguinte definição de Opereta:
Opereta – Termo empregado para designar uma ópera ligeira com diálogo falado, canções e danças. A opereta desenvolveu-se a partir da opéra comique francesa da primeira metade do século XIX, embora seu equivalente de língua alemã na Áustria também tivesse antecedentes de que Die Zauberflöte(A Flauta Mágica) de Mozart, é um dos primeiros exemplos.

As operetas de Offenbach, Messager e outros na França, bem como de Johann Strauss Fº, Lehár e seus seguidores em Viena, levaram, com o passar do tempo, à comédia musical e ao musical, à medida que compositores da Europa Central se dirigiram para o Novo Mundo.

Franz Lehár (1870-1948) – Dois anos após a estréia de sua opereta A Viúva Alegre (Die Lustige Witwe) já havia se transformado no Andrew Lloyd Webber da sua época. Graças a essa criação ele ficou multimilionário e sua peça atingiu em Londres, a sua 778ª performance.

O rei Eduardo VII, deslumbrado pela música de Lehár assistiu esta opereta por quatro vezes. A Viúva Alegre foi pioneira em termos de "merchandising". Em Nova Iorque vendia-se de tudo com este nome. Desde cigarros a coquetéis, bem como chocolates e peças íntimas do vestuário feminino.

Lehár era filho de um chefe de banda militar e passou a infância vivendo junto ao Regimento de seu pai, circulando pelas principais cidades do Império Austro-Húngaro. Ao atingir a adolescência passou a estudar no Conservatório de Praga. Em poucos meses, Dvorak, seu professor, ordenou ao aluno: - Guarde seu violino e comece a compor.

O início foi difícil, já que suas primeiras operetas não obtiveram aprovação popular. A sorte sorriu para Lehár no dia em que ele recebeu o libreto de A Viúva Alegre, escrito por Oscar Léon e Leo Stein, autores de Sangue Vienense (Wiener Blut), uma das obras mais populares de Johann Strauss.

Durante os ensaios no "Theater an der Wien" – o mais famoso teatro de operetas de Viena – seus administradores passaram a temer que a peça não tivesse futuro. Eles ofereceram à Lehár cinco mil coroas para desistir do espetáculo. O compositor foi irredutível e apesar de forte
oposição conseguiu estrear sua obra no dia 30 de dezembro de 1905.

Apesar da reação positiva da platéia, nas primeiras semanas de exibição o espetáculo atraiu um público pequeno. Lehár chegou a distribuir dezenas de ingressos gratuitos para manter a casa cheia. Com o passar das semanas, auxiliada pelos comentários positivos da exigente crítica vienense, A Viúva Alegre transformou-se num sucesso.

Até hoje ela é a campeã em número de apresentações, no Theater an der Wien. Até a popular peça Cats não conseguiu suplantar a opereta de Lehár na temporada de verão.

O compositor colheu alguns fracassos com as obras lançadas após o retumbante sucesso da Viúva Alegre, mas logo voltaria a triunfar em 1909 com O Conde de Luxemburgo (Der Graf Von Luxemburg) e em 1910 com Amor Cigano (Zigeunerliebe). Ambas as obras tiveram sucesso mundial e até hoje são produzidas nos teatros da Europa Central.

O sucesso de Franz Lehár foi ampliado quando o tenor Richard Tauber passou a ser seu principal intérprete. Ele tornou-se uma lenda na interpretação da música de Lehár. Hoje se denomina "Tauberlied" o ciclo de canções por ele imortalizadas e que se tornaram mais famosas
que as operetas as quais pertencem. A mais famosa das interpretações de Tauber, Meu coração é todo teu (Dein ist mein ganzen Herz), pertence ao último triunfo internacional de Lehár, a opereta A Terra dos Sorrisos (Das Land des Lächelns) cuja estréia ocorreu em Berlim, em 1929.

No Natal de 1930, durante os festejos dos sessenta anos do músico, duzentas produções de A Terra dos Sorrisos eram executadas em toda Europa.

A última grande produção de Lehár foi Giuditta, que estreou na Ópera Estatal de Viena em 1934. Pela primeira e única vez uma opereta foi executada neste templo da ópera. Na noite da estréia, 120 rádios de diversos países irradiaram para o mundo os sons da nova obra de Lehár."





Agora, concordam comigo que o artigo é uma beleza, de clareza , leveza no discorrer das idéias e preciso nas informações. Obrigada, Arthur, por enriquecer o meu blog.

                                                         A Terra dos Sorrisos


Complementando, deixo um vídeo com Richard Tauber.


Em apêndice, consultar o site http://www.portal.ecclesia.pt/pub/42/noticia.asp?jornalid=42&noticiaid=63715

Até um próximo post!
Levic

segunda-feira, 18 de julho de 2011

105- Hungria - séc. XX- Franz Lehár




Franz Lehár nasceu no dia 30 de abril de 1870, e morreu em 24 de outubro de 1948, conhecido em húngaro como Ferenc Lehár. Foi um compositor húngaro, mais conhecido por suas operetas. Franz Lehar foi introduzido na música por seu pai, e entrou para o Conservatório de Praga, na idade de doze anos para estudar violino e teoria.


Após a formatura, em 1899 ele se juntou à banda de seu pai, em Viena, como maestro assistente. Em 1902, ele tornou-se maestro do teatro histórico de Viena, o "Theater an der Wien", onde a sua primeira opereta "Wiener Frauen" (opereta em três atos) foi realizada no mesmo ano.


Lehar iniciou sua carreira como violinista e diretor de bandas militares em Trieste, Budapeste e Viena. Adotou a opereta como seu gênero preferido e é um dos expoentes máximos da música festiva austríaca do século XX. Suas composições combinam a graça vienense com o folclore eslavo, mas há, em suas últimas obras, uma aproximação à ópera-bufa e à comédia musical.

Algumas de suas peças mais conhecidas são: A Viúva Alegre (estreada em 1905), O Conde de Luxemburgo (1909), Paganini (1925) e Giuditta (1934). Destaca-se O Zarevitz, que estreou em Berlim em 1927, uma das grandes operetas trágicas da última fase. Em 1929, compôs a opereta romântica O País do Sorriso. Seu sucesso se deve principalmente às canções de suas operetas, muitas das quais se tornaram clássicas.

"The Merry Widow "(em alemão: Die lustige Witwe)- A Viuva Alegre- é uma das mais famosas de suas operetas. Os libretistas, Viktor Léon e Leo Stein, basearam-se numa história sobre uma viúva rica, Hanna Glawari, e sua tentativa de encontrar um marido em um jogo de comédia de 1861, L'attaché d'ambassade (A Embaixada Adido) por Henri Meilhac.

A opereta foi estreada no "Theater an der Wien em Viena", em 30 de dezembro de 1905 com Mizzi Günther como Hanna, Treumann Louis como Danilo, Natzler Siegmund como o Barão Zeta e Wünsch Annie como Valencienne. Foi o primeiro sucesso grande de Lehár , tornando-se internacionalmente a mais conhecida opereta de sua época.

A opereta visitou a Áustria e em 1906 produções apreciadas em "Neues Hamburg Operetten-Theater", e em Berlim no "Berliner Theater" (estrelado por Gustav Matzner como Danilo e Ottmann Marie como Hanna, que fez a primeira gravação completa em 1907) e ainda em Budapeste no" Magyar Szinhaz".

Em sua adaptação para o inglês por Basil Hood, com letra de Adrian Ross, a opereta tornou-se sensação em Londres, com início em junho de 1907, estrelado por Lily Elsie e Joseph Coyne e com Robert Evett e Gabrielle Ray, com figurinos de Lucile. Esta produção fez 778 apresentações em Londres e viajou extensivamente na Grã-Bretanha. A versão em inglês, inaugurado em outubro 1907 na Broadway, foi outro sucesso com mais de 416 apresentações e tocou na Austrália, em 1908. Posteriormente, ela foi apresentada na América.









Devido ao sucesso da opereta, A Viuva Alegre foi um dos primeiros trabalhos eruditos adaptados para o cinema, com a direção do lendário Ernst Lubitsch em 1934. O elenco contou com grandes nomes do cinema musical da época, como Jeanette McDonald e Maurice Chevalier.



No decurso de de 35 anos de composição, Franz Lehár enriqueceu o repertório do teatro musical com mais de 30 obras que vão desde a alegria cintilante da era pré-1914 para a sensualidade trágica de suas posteriores obras como Frederica e Giuditta.

Embora a maioria das obras sejam muitas vezes realizadas no idioma original alemão, apenas só algumas tiveram o seu devido reconhecimento em inglês.

Ele é mais famoso por suas operetas, mas também escreveu sonatas, poemas sinfônicos, marchas, e uma série de valsas, sendo a mais popular "Silber und Gold", composta para o Baile "Ouro e Prata"da Princesa Pauline von Metternich, em janeiro de 1902.



Lehár fez obras especialmente para a voz do tenor Richard Tauber, que cantou em muitas de suas operetas, começando com Frasquita (1922), em que Lehár novamente encontrou um lugar adequado ao estilo de guerra. Entre 1925 e 1934, escreveu seis operetas especificamente para a voz de Tauber.

Em 1935, ele decidiu formar a sua própria editora, Glocken-Verlag ( "Publishing House of the Bells"), para maximizar seu controle pessoal sobre os direitos de desempenho nos seus trabalhos.

Franz Lehár passou a maior parte de sua vida adulta fora da Hungria, mas, no entanto, manteve-se na língua húngara, sua primeira língua, até a sua morte. Ele continuou a assinar seu nome na moda húngara, o nome de família em primeiro lugar, com um diacrítico sobre o "a". Morreu em 1948 em Bad Ischl, perto de Salzburgo, onde também foi sepultado. Seu irmão mais novo, Anton tornou-se o administrador de sua propriedade, e o grande promotor da popularidade da música de Franz Lehár.

Levic

sexta-feira, 15 de julho de 2011

104- Hungria - séc. XX - Zoltán Kodály



Zoltán Kodály, em húngaro Kodály Zoltán (Kecskemét, 16 de Dezembro de 1882 - Budapeste, 6 de Março de 1967) foi um compositor, etnomusicólogo, educador, linguista e filósofo da Hungria.

Kodály foi um dos mais destacados músicos húngaros de todos os tempos. O seu estilo musical atravessou num estágio inicial uma fase pós-romântica vienense e evoluiu para um período de mistura de folclore e complexas harmonias, num estilo partilhado com Béla Bartók.

Estudou em Galánta, cidade a que dedicou as suas conhecidas Danças, e em Nagyszombat. Depois, em Budapeste, foi aluno na Academia de música Franz Liszt, onde estudou com Hans von Koessler.

Em 1906, depois de terminado o curso de letras, fez uma viagem de estudo a Berlim. Começou nesse ano a investigar sobre o folclore húngaro, tarefa essa que contaria com o apoio posterior de Bartók.

Kodály compôs durante toda a sua vida. Chegou a recolher mais de 100.000 canções, peças, trechos e melodias populares húngaras, as quais aplicava nas suas composições com singular perfeição técnica.

Em 1907 passa a lecionar na Academia Franz Liszt, onde dá aulas de composição. Dessa época são as suas produções de dois quartetos de cordas (op.2, 1909 e op.10, 1917 respectivamente), uma sonata para violoncelo e piano (op.4, 1910) uma sonata para violoncelo (op. 8, 1915), e um duo para violino e violoncelo (op.7, 1914).

Todos estes trabalhos são de grande originalidade de forma e conteúdo, misturas de grande interesse da mestria ocidental da tradição da composição clássica, romântica, impressionista e modernista com o profundo conhecimento e respeito pelas tradições folclóricas húngaras,
eslovacas, búlgaras, albanesas e de outros países do leste europeu.

Devido à Primeira Guerra Mundial e às consequentes mudanças geopolíticas na região, e também devido a uma certa timidez pessoal, só em 1923, com a obra "Psalmus Hungaricus" estreado no concerto de celebração do 50º aniversário da união de Buda e Pest, Kodály atinge uma consagração definitiva e fama mundial.

Com a morte de Bartók (1945) continuou sozinho suas pesquisas e juntou outros títulos e nomeações. Tornou-se membro da Academia Húngara de Ciências (1945) e seu Presidente (1946-1949), Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford (1960), pela Universidade de Berlim-Leste (1964) e pela Universidade de Toronto (1966), membro honorário da Academia das Artes e das Ciências dos E.U.A. (1963), entre outros.

Outros destaques de brilho foram a ópera cômica Háry János (1926), o Te Deum (1936), uma das grandes obras no gênero, e a Sinfonia em dó maior (1961), uma das suas últimas obras importantes. Morreu em Budapeste, aos 84 anos. Tem seu nome associado ao Método Kodály, que revolucionou o sistema de aprendizagem musical, que tornou-se muito aplicado em escolas de música.
No entanto, não foi o autor isolado dos princípios diretores do método: a sua filosofia da educação serviu de inspiração aos seus discípulos que coletivamente compilaram e desenvolveram o método ao longo dos anos.

Na ópera, sua marca é pequena, tendo criado apenas uma: "Hary Janos", que é a história de um camponês sem muita cultura mas com grande imaginação, que gosta de contar histórias ou façanhas criadas por ele, despertando grande interesse nos aldeões. A narração é baseada naquilo que Hary gostaria que fosse, onde não tem nada a ver com a realidade. No prólogo alguém pergunta:"Que história será que Hary Janos vai contar hoje? Um estudante aponta para o retrato de Napoleão, o que Hary retruca: eu o fiz prisioneiro com as minhas próprias mãos, certa vez." E daí passa a relatar sua relação com Maria Luiza, a imperatriz austríaca e a sua corte napoleônica.









Permaneceu em Budapeste durante a Segunda Guerra Mundial, algo que os húngaros sempre viram como sinal de amor patriótico. Faleceu como herói nacional, respeitado na Hungria e internacionalmente.

Levic

quinta-feira, 14 de julho de 2011

103- Hungria - séc. XX - Béla Bartók





Béla Viktor János Bartók de Szuhafo (Nagyszentmiklós, 25 de março de 1881 — Nova Iorque, 26 de setembro de 1945) foi um compositor húngaro, pianista e investigador da música popular da Europa Central e do Leste. Seu pai era diretor de uma escola de agricultura e inspirou no menino a paixão pela natureza e pela música. Aprendeu as primeiras noções de piano com sua mãe, a partir dos cinco anos. Quando tinha oito anos perdeu o pai.

Com a morte do pai, em 1894, o pequeno Béla acompanhou sua mãe até a cidade de Pozsony, atual Batislava, onde estudou piano e composição com Ladislas Erkel. Pozsony era um centro cultural importante, onde ele fez estudos musicais regulares. Tornou-se amigo de Erno Dohnâyi, que o iniciou nos estudos dos mestre alemães: Bach, Wagner e Brahms.

Em 1905 foi a Paris para o Concurso Internacional Rubisntein de Composição e Piano. Ali descobriu Debussy e sua escrita modal e, voltando à Hungria, empreendeu o seu interesse em canções populares. Dedicou-se, desde então, com a parceria do amigo, o compositor húngaro Zoltan Kodaly, a estudos científicos sobre as canções folclóricas.

Para colecionar estas canções, fez numerosas viagens pelos campos, munido de aparelhos registradores, cilindros e muito papel de música. Com estas pesquisas conseguiu dissipar o engano de Liszt, que havia confundido o folclore musical húngaro com o dos ciganos da Hungria.

Um ano depois, publicou com Kodaly, uma primeira coletânea de cantos populares húngaros, num total de 20, por eles harmonizados. Bartók estenderia, então, o campo de suas pesquisas à música romena, búlgara e oriental e também ao Egito a à Turquia, onde esteve em 1932 e 1936, depois de tomar contato com a música árabe em Biskra, em 1913. O resultado, para a arte do próprio Bartók, foi um estilo baseado em particularidades musicais, alheias à música da Europa Ocidental.

Bartók
é considerado um dos maiores compositores do século XX. As suas primeiras obras seguem, na composição, a tradição do século 19, como o poema sinfônico Kossuth (1903), embora fossem evoluindo rumo ao impressionismo, sob a influência de Claude Debussy. Aí se
encontra o seu Primeiro Quarteto de Cordas, até se inspirar na música popular do sudeste da Europa. Sobressaiu-se tanto por seu brilhantismo no piano e por sua atividade como professor desse instrumento na Academia de Música de Budapeste como por sua faceta de compositor, pois compôs, entre outras obras, 153 estudos para piano.

Durante a Segunda Guerra Mundial, decidiu abandonar a Hungria e emigrou para os Estados Unidos. Morando em Nova Iorque, Bartók decepcionou-se com a vida americana. Havia pouco interesse pela sua obra, e suas apresentações, onde sua segunda esposa, Ditta Pásztory também participava, lhe deram pouco retorno financeiro. Mesmo assim, decide-se estabelecer-se nos Estados Unidos. Fez viagens de concerto, em companhia de sua mulher, também pianista, apresentando a sua famosa Sonata para dois pianos e percursão.

Artista original de grande poder criativo, sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936,organizou uma exposição de "Música Degenerada" incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Não teve dúvidas.
Escreveu imediatamente para o ministro para que inscrevesse também nesse grupo o seu nome e a sua música, como forma de repulsa ao que acabara de saber.

Violentamente antirracista, e animado por um sentido muito firme de justiça, chegou mesmo a pensar, num certo dia de 1938, converter-se à religião judaica como forma de desabafo e ficar ao lado dos perseguidos. Não ignorava os riscos que corria ao estender a mão aos judeus, afirmando seu patriotismo com uma lealdade igual ao amor que sentia pela humanidade. É nessa ocasião que pede a sua mãe e tia que não falem em idioma estrangeiro mais que "quando seja absolutamente obrigatório" e de forma alguma utilizem o alemão.

Foi necessário esperar o fim da Primeira Guerra para que começasse a editar e executar sua música no estrangeiro. Em 1924 publicou uma coleção de cantos populares romenos e húngaros. Em 1926 produziu diversas peças para piano e o balé "O Mandarim Miraculoso". No ano seguinte partiu para sua primeira série de concertos na América e depois na Rússia.

Ajudado financeiramente por amigos, prosseguiu em sua carreira de compositor, sendo o sexto quarteto uma de suas últimas composições. Em 1939, Benny Goodman, famoso clarinetista de jazz, encomendou-lhe uma composição para clarinete. Quando viu a pauta Benny ficou
aterrorizado: "Vou precisar de três mãos para tocar isso, senhor Bartók. É a coisa mais difícil que jamais vi." Bartok riu-se: "Não se preocupe com isso. Toque aproximadamente o que escrevi." Mas o telentoso Benny Goodman fêz mais que isso e assim "Contrastes" foi gravado pela Columbia, com Joseph Szigeti no violino, Bartók ao piano e Benny Googman no clarinete.

Em 1944, sua saúde declina tanto que Bartók passa a viver no hospital, sob cuidados médicos. Apesar da sombria situação, compõe ainda o 3º Concerto para Piano e um Concerto para Viola, que fica incompleto, ao morrer aos 64 anos, de leucemia.

O reconhecimento do valor e da significação de sua obra não o alcança sequer nessa última arrancada final em que, precário de saúde e bens materiais, não deixou de trabalhar no hospital. Bartók compôs até o final de sua vida. Morreu em Nova York, em 26 de setembro de 1945, em uma miséria tão grande que não deixou sequer dinheiro suficiente para o pagamento de seu enterro.

Sua obra inclui peças para teatro, balé, coral, música de câmara, uma ópera e concertos para piano e orquestra, como o Concerto para Orquestra, uma Rapsódia para piano, o famoso "Allegro Barbaro" para piano, e a sonata Música para Instrumentos de Corda, Percussão e
Celesta. Também em 1926 começa a revelar-se outro aspecto decisivo da personalidade de Bartók: sua vocação pedagógica. O Mikrokosmos, coleção de exercícios pianísticos de dificuldades crescentes, principiada em 1926 e terminada em 1937, mereceu de vários
autores contemporâneos a denominação de "Cravo Bem Temperado do Século XX". No fim da vida adota um estilo romântico, que lhe proporciona grande êxito.

A sua única ópera "A Kekzakállu Herceg Vára" (O Castelo do Duque Barba Azul - 1911), provoca rejeição por parte das organizações musicais da Hungria, o que levou o compositor a fundar, juntamente com Kodaly e outros compositores jovens, a Sociedade Musical Húngara, infelizmente de pouca duração.
A obra foi revisada em 1912 e 1917 e tem apenas um ato e dois cantores em cena. Com libreto baseado num conto de fadas de Charles Perrault, feito por Béla Balázs, poeta amigo de Bartók, o qual demorou dois anos para escrevê-lo, foi pela primeira vez representada no ano de 1918, em Budapeste , com Oszkár Kálmán e Olga Haselbeck em cena.

O roteiro é baseado na lenda do Barba Azul, mas com uma pesada repaginação psicológica. A obra se passa em um grande e escuro hall de um castelo, com sete portas fechadas. No começo, Judith e Barba Azul chegam ao seu castelo. Ele pergunta se ela deseja ficar, ou se quer ir embora e ela se decide pela primeira opção. Por ser o castelo muito escuro, Judith insiste em que todas as portas sejam abertas, para que a luz entre no interior do castelo. Barba Azul não aceita, dizendo que eles têm lugares privados para que não sejam explorados por outros, e pede que Judith o ame sem questionamentos. Judith continua insistindo, e ele, enfim, rende-se ao seu pedido.
A primeira porta se abre e mostra uma câmara de tortura, cheia de sangue. Judith a fecha. Atrás da segunda porta, existe um armazém com armas, e atrás da terceira, um armazém de riquezas. Na quarta, há um jardim secreto de incrível beleza. Atrás da quinta, há uma janela com visita para o vasto reino de Barba Azul. Ele implora, pedindo para ela parar, dizendo que o castelo está tão iluminado quanto pode estar, mas ela se recusa a parar depois de ter ido tão longe, e abre a sexta porta, que é um cômodo onde não há sangue. Há apenas um lago, ‘lago das lágrimas’. Barba Azul pede a Judith que apenas o ame, e diz que a última porta deve permanecer fechada para sempre. Mas ela insiste, e o questiona sobre suas esposas anteriores, acusando-o de tê-las matado, sugerindo que seu sangue estaria nos quartos, suas lágrimas teriam preenchido o lago e que seus corpos estariam atrás da última porta. Atrás da última porta estão as três esposas anteriores de Barba Azul, mas ainda vivas, cobertas de jóias. Ele então cobre de jóias essa sua curiosa esposa, que são excessivamente pesadas para ela. E fecha a sétima porta, terminando de novo sozinho na total escuridão.











Seguem-se o balé "A Csodálatos Mandarin" (O Mandarim Miraculoso -1919) e as duas sonatas para violino e piano, produção em que a tonalidade se apresenta progressivamente mais livre e se afirma uma forte tendência expressionista, que se abrandaria na Tanz Suite (Suite de Danças - 1923), compostas especialmente para as festas de celebração do 50o º aniversário das cidades de Buda e Pest.

O trabalho propiciou a admiração de seus compatriotas, se bem que efêmera. A pouca receptividade dos conterrâneos e do público em geral para com as produções, mais acentuadamente modernas do mestre húngaro, se reduz ao final da Primeira Guerra Mundial, quando as sua obras são publicadas e ele se dedica, ainda mais ativamente à obstinada pesquisa folclórica, não apenas na Hungria, como na Bulgária, Eslováquia e Romênia.

Levaria ainda algum tempo para que o mundo pudesse ver em Bartók, na qualidade de uma invenção e inovação musical, poderosamente mergulhada nas raízes de sua terra, na indiferença a todos os modismos, nas novas sonoridades de sua orquestração, assim como no rigor intelectual, um dos maiores gênios musicais da primeira metade do século XX.

Levic