terça-feira, 26 de julho de 2011

110- A ópera na Finlândia - séc.XX - Aulis Sallinen

Um outro compositor de grande repercussão no meio da ópera é Aulis Sallinen.

Aulis Sallinen (nascido em 9 de abril de 1935) é um compositor contemporâneo de música clássica. Sua primeira experiência musical foi tocando violino. Com a improvisação (incluindo jazz) no piano, levou-o a escrever suas primeiras composições ainda quando era adolescente. Depois de estudar com Aarre Merikanto e Kokkonen Joonas da Academia Sibelius, foi administrador da Orquestra Sinfônica da Radio Finlandesa (1960-69), secretário e membro do Conselho de Administração (1958-73), então presidente (1971-73) dos compositores finlandeses, e também atuou, por vários anos, no Conselho de Administração do "Finnish National Opera".

Para ouvidos ocidentais, sua música situa-se na vertente de Sibelius e nas óperas de Mussorgsky, sendo influenciado pelos vizinhos russos Prokofiev e Shostakovich, embora pode-se encontrar também alguns toques de Janáceck, Britten e Tippett em suas composições.

Sua extensa lista de composições inclui oito sinfonias, grandes concertos de obras que envolvem vozes, como o "Dies Irae" (1978)- uma visão apocalíptica do nosso planeta destruído, "Songs of Life and Death" (1994)- uma expressão expansiva da ajuda humanitária, o credo e os diálogos Barrabás (2003), tocando a história da Páscoa.

Mas é no campo das óperas que seu trabalho ficou concentrado. Sallinen é um dos compositores de ópera acima de tudo, e ele compôs seis importantes obras de grande escala nesse gênero, que foram retomadas em várias ocasiões. São elas:

"Ratsumies" (l'homme aux chevaux),Ryttaren (sueco) O Cavaleiro, op. 32 (1974),
"Punainen viiva "(La ligne rouge), op.46 (1978) A Linha Vermelha , op. 46 (1978)
"Kuningas lähtee Ranskaan" (Le Roi se rend en France), op. 53 (1983), O Rei sai para a França,
"Kullervo", op. 61 (1988)
"Palatsi" (le Palace), op. 68 (1991-1993), O Palácio,
"Kuningas Lear" (Le roi Lear), op. 76 (1999), Rei Lear.

O Cavaleiro (1975) e A Linha Vermelha (1978) são dramas sociais enraizadas na cultura finlandesa, e desempenharam um papel crucial no estabelecimento da Finlândia, como exportador mundial da ópera contemporânea. O Rei sai para França (1983), encomendada pelo Festival de Savonlinna, foi apresentada no Royal Opera House e na BBC, e "The Palace" ( 1991-3) introduziu elementos de fantasia satírica.

No entanto Kullervo (1988) e Rei Lear (1999), com um libreto adaptado a partir da peça de Shakespeare, são tragédias que exploram as relações familiares e os sombrios aspectos da condição humana. O sucesso das óperas de Sallinen é demonstrado pelo fato de que quatro de suas óperas - O Cavaleiro, o Rei sai para a França, Kullervo e A Linha Vermelha- são sempre apresentadas na Europa nas grandes casas de ópera com bastante público, como também na Alemanha e Estados Unidos.

O Cavaleiro é dinâmico e, às vezes, tem o efeito de uma balada nacionalista, fixada a cerca de três ou quatro séculos no passado, quando o povo finlandês estava sendo espremido nos dois lados da Suécia e da Rússia. A linguagem é ao mesmo tempo moderna e arcaica, reforçando a poesia do libreto de Paavo Haavikko, e construida em três atos. O Cavaleiro tem um libreto original do maior poeta finlandês contemporâneo, que situa a história na Rússia e na Finlândia à época da união com a Suécia. O tema é, ao mesmo tempo, patriótico e histórico (a Finlândia como um pequeno país entre o imperialismo russo e sueco), humano (duas pessoas apanhadas numa determinada contingência) e alegórico (alguém que involuntariamente provoca a dissenção, além de questões como a do indivíduo frente à autoridade e à escolha). O libreto, assim, é bem poético e o efeito da música é forte e direto.

A ópera A Linha Vermelha se passa entre o povo de Korpiloukko, ao norte da Finlândia, em 1907. A história conta que Topi e Riika vivem com seus três filhos na maior pobreza. Um urso voltou a matar um de seus cordeiros e Riika impede que Topi mate o urso. Em sonhos, Topi fala com o vigário que não quer lhe dar o dinheiro da caridade, porque ele não vai à igreja. Quando desperta, decide que vai caçar pássaros para vendê-los.
Simana regressa da Suécia e canta canções para distrair Riika e as crianças, enquanto Topi vai a uma assembléia socialista, onde lá decidem que vão traçar com uma linha vermelha a papeleta do voto nas próximas eleições, significando a espera de melhores condições. Aparece um agitador que defende a abolição das classes sociais e exorta uma rebelião. Um jovem pastor adverte que a violência traz o derramamento de sangue. Riika lê um escrito revolucionário, segundo o qual a revolução poderá acabar com a fome e a miséria. Topi reflete que traçar a linha vermelha do sangue é tão difícil como matar um urso. Os cachorros começam a ladrar ao longe.
No dia das eleições, Topi e Riika traçam a linha vermelha no voto. Fica tudo por igual. No final da primavera as crianças ficam muito doentes e todas elas falecem, apesar dos "cuidados medicinais" da vizinha. Para economizar dinheiro, os três filhos são enterrados num mesmo caixão. A vizinha diz que Deus vai amaldiçoá-los.
Chega uma notícia de Helsinki que uma nova vida se avizinha e que o domínio da nobreza e dos curas já deve terminar. Topi ouve o ladrar outra vez dos cachorros e decide caçar o urso que já despertou da sua hibernação. Ao longe, Riika vê como seu marido luta com o urso corpo a corpo. Topi aparece morto. O sangue flui pelo seu corpo como uma linha vermelha.



A ópera Kullervo é baseada na obra teatral homônima de Aleksis Kivi, com o libreto do próprio compositor. Kullervo se inspira num episódio da epopéia nacional finlandesa, a Kalevala. Na música finlandesa erudita, composta a partir de temas do Kalevala, é especialmente a história trágica de Kullervo que tem inspirado vários compositores, começando por Jean Sibelius. Em 1992, no dia do Kalevala, foi estreada, em Los Angeles, a ópera Kullervo de autoria do compositor Aulis Sallinen.

Kullervo foi iniciada em 1986, e levou apenas dois anos para ser concluida. A obra narra uma solene história trágica envolvendo um anti-herói. Este papel de liderança domina o trabalho, e o sombrio destino de sombras do protagonista da ópera como nuvens pesadas. Kullervo apresenta um violento mundo primitivo onde a escuridão é apenas ocasionalmente iluminada por vislumbres de amizade e do amor romântico, além do amor maternal.

Aulis Sallinen explicou a razão da escolha de Kullervo para personagem principal da sua obra da seguinte maneira: "Não valeria a pena contar esta história se nela não houvesse aquela ária que se eleva acima de todas as outras, o tema da mãe de Kullervo, bordado com as cores profundas do ouro. Na personagem de um monstro humano, homem infeliz, vê a mãe um rapazinho, há muito perdido, cujo cabelo brilha com a cor amarela dos campos de linho. Hoje, depois de terminada a obra, ainda sou da mesma opinião. Ele resultou nisso mesmo."

O coro narra a discórdia entre os irmãos Kalervo e Unto, sendo que este acabou com a família de Kalervo, com exceção do jovem sobrinho Kullervo, que quis mantê-lo como escravo. Sua esposa o aconselha a matar também Kullervo, com medo que ele busque vingança. Entretanro, ele resolve vendê-lo a um ferreiro, como pastor. A jovem esposa do ferreiro, diante da frieza de Kullervo ante seus apelos, discute com ele sobre o seu trabalho como pastor que lhe desagrada. Kullervo indignado mata a mulher com o punhal herdado pelo seu pai. Seu amigo Kimmo o avisa que sua família, milagrosamente, sobreviveu ao ataque de Unto. Após cometer o crime, Kullervo foge, encontrando seus pais no caminho e não os reconhece. Kimmo se apressa a explicar a todos a situação. Kalervo, o pai, quer repudiar o filho por ter as mãos sujas de sangue, mas a sua esposa intercede por não querer perder o filho outra vez. Assim, o mensageiro Kimmo se culpa pela tragédia familiar, sendo levado à loucura. Após pesadelos que resultam na descoberta de um incesto com a irmão e o seu subsequente suicídio, Kullervo decide vingar-se de Unto e toda a sua estirpe. Kimmo, que ficou louco, se dirige a Kullervo como se fosse um Cristo que traz o dever de carregar todos os pecados do mundo. Kullervo assume o destino dado por Kimmo e elege a morte como um chamado.





Levic

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