quinta-feira, 14 de julho de 2011

103- Hungria - séc. XX - Béla Bartók





Béla Viktor János Bartók de Szuhafo (Nagyszentmiklós, 25 de março de 1881 — Nova Iorque, 26 de setembro de 1945) foi um compositor húngaro, pianista e investigador da música popular da Europa Central e do Leste. Seu pai era diretor de uma escola de agricultura e inspirou no menino a paixão pela natureza e pela música. Aprendeu as primeiras noções de piano com sua mãe, a partir dos cinco anos. Quando tinha oito anos perdeu o pai.

Com a morte do pai, em 1894, o pequeno Béla acompanhou sua mãe até a cidade de Pozsony, atual Batislava, onde estudou piano e composição com Ladislas Erkel. Pozsony era um centro cultural importante, onde ele fez estudos musicais regulares. Tornou-se amigo de Erno Dohnâyi, que o iniciou nos estudos dos mestre alemães: Bach, Wagner e Brahms.

Em 1905 foi a Paris para o Concurso Internacional Rubisntein de Composição e Piano. Ali descobriu Debussy e sua escrita modal e, voltando à Hungria, empreendeu o seu interesse em canções populares. Dedicou-se, desde então, com a parceria do amigo, o compositor húngaro Zoltan Kodaly, a estudos científicos sobre as canções folclóricas.

Para colecionar estas canções, fez numerosas viagens pelos campos, munido de aparelhos registradores, cilindros e muito papel de música. Com estas pesquisas conseguiu dissipar o engano de Liszt, que havia confundido o folclore musical húngaro com o dos ciganos da Hungria.

Um ano depois, publicou com Kodaly, uma primeira coletânea de cantos populares húngaros, num total de 20, por eles harmonizados. Bartók estenderia, então, o campo de suas pesquisas à música romena, búlgara e oriental e também ao Egito a à Turquia, onde esteve em 1932 e 1936, depois de tomar contato com a música árabe em Biskra, em 1913. O resultado, para a arte do próprio Bartók, foi um estilo baseado em particularidades musicais, alheias à música da Europa Ocidental.

Bartók
é considerado um dos maiores compositores do século XX. As suas primeiras obras seguem, na composição, a tradição do século 19, como o poema sinfônico Kossuth (1903), embora fossem evoluindo rumo ao impressionismo, sob a influência de Claude Debussy. Aí se
encontra o seu Primeiro Quarteto de Cordas, até se inspirar na música popular do sudeste da Europa. Sobressaiu-se tanto por seu brilhantismo no piano e por sua atividade como professor desse instrumento na Academia de Música de Budapeste como por sua faceta de compositor, pois compôs, entre outras obras, 153 estudos para piano.

Durante a Segunda Guerra Mundial, decidiu abandonar a Hungria e emigrou para os Estados Unidos. Morando em Nova Iorque, Bartók decepcionou-se com a vida americana. Havia pouco interesse pela sua obra, e suas apresentações, onde sua segunda esposa, Ditta Pásztory também participava, lhe deram pouco retorno financeiro. Mesmo assim, decide-se estabelecer-se nos Estados Unidos. Fez viagens de concerto, em companhia de sua mulher, também pianista, apresentando a sua famosa Sonata para dois pianos e percursão.

Artista original de grande poder criativo, sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936,organizou uma exposição de "Música Degenerada" incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Não teve dúvidas.
Escreveu imediatamente para o ministro para que inscrevesse também nesse grupo o seu nome e a sua música, como forma de repulsa ao que acabara de saber.

Violentamente antirracista, e animado por um sentido muito firme de justiça, chegou mesmo a pensar, num certo dia de 1938, converter-se à religião judaica como forma de desabafo e ficar ao lado dos perseguidos. Não ignorava os riscos que corria ao estender a mão aos judeus, afirmando seu patriotismo com uma lealdade igual ao amor que sentia pela humanidade. É nessa ocasião que pede a sua mãe e tia que não falem em idioma estrangeiro mais que "quando seja absolutamente obrigatório" e de forma alguma utilizem o alemão.

Foi necessário esperar o fim da Primeira Guerra para que começasse a editar e executar sua música no estrangeiro. Em 1924 publicou uma coleção de cantos populares romenos e húngaros. Em 1926 produziu diversas peças para piano e o balé "O Mandarim Miraculoso". No ano seguinte partiu para sua primeira série de concertos na América e depois na Rússia.

Ajudado financeiramente por amigos, prosseguiu em sua carreira de compositor, sendo o sexto quarteto uma de suas últimas composições. Em 1939, Benny Goodman, famoso clarinetista de jazz, encomendou-lhe uma composição para clarinete. Quando viu a pauta Benny ficou
aterrorizado: "Vou precisar de três mãos para tocar isso, senhor Bartók. É a coisa mais difícil que jamais vi." Bartok riu-se: "Não se preocupe com isso. Toque aproximadamente o que escrevi." Mas o telentoso Benny Goodman fêz mais que isso e assim "Contrastes" foi gravado pela Columbia, com Joseph Szigeti no violino, Bartók ao piano e Benny Googman no clarinete.

Em 1944, sua saúde declina tanto que Bartók passa a viver no hospital, sob cuidados médicos. Apesar da sombria situação, compõe ainda o 3º Concerto para Piano e um Concerto para Viola, que fica incompleto, ao morrer aos 64 anos, de leucemia.

O reconhecimento do valor e da significação de sua obra não o alcança sequer nessa última arrancada final em que, precário de saúde e bens materiais, não deixou de trabalhar no hospital. Bartók compôs até o final de sua vida. Morreu em Nova York, em 26 de setembro de 1945, em uma miséria tão grande que não deixou sequer dinheiro suficiente para o pagamento de seu enterro.

Sua obra inclui peças para teatro, balé, coral, música de câmara, uma ópera e concertos para piano e orquestra, como o Concerto para Orquestra, uma Rapsódia para piano, o famoso "Allegro Barbaro" para piano, e a sonata Música para Instrumentos de Corda, Percussão e
Celesta. Também em 1926 começa a revelar-se outro aspecto decisivo da personalidade de Bartók: sua vocação pedagógica. O Mikrokosmos, coleção de exercícios pianísticos de dificuldades crescentes, principiada em 1926 e terminada em 1937, mereceu de vários
autores contemporâneos a denominação de "Cravo Bem Temperado do Século XX". No fim da vida adota um estilo romântico, que lhe proporciona grande êxito.

A sua única ópera "A Kekzakállu Herceg Vára" (O Castelo do Duque Barba Azul - 1911), provoca rejeição por parte das organizações musicais da Hungria, o que levou o compositor a fundar, juntamente com Kodaly e outros compositores jovens, a Sociedade Musical Húngara, infelizmente de pouca duração.
A obra foi revisada em 1912 e 1917 e tem apenas um ato e dois cantores em cena. Com libreto baseado num conto de fadas de Charles Perrault, feito por Béla Balázs, poeta amigo de Bartók, o qual demorou dois anos para escrevê-lo, foi pela primeira vez representada no ano de 1918, em Budapeste , com Oszkár Kálmán e Olga Haselbeck em cena.

O roteiro é baseado na lenda do Barba Azul, mas com uma pesada repaginação psicológica. A obra se passa em um grande e escuro hall de um castelo, com sete portas fechadas. No começo, Judith e Barba Azul chegam ao seu castelo. Ele pergunta se ela deseja ficar, ou se quer ir embora e ela se decide pela primeira opção. Por ser o castelo muito escuro, Judith insiste em que todas as portas sejam abertas, para que a luz entre no interior do castelo. Barba Azul não aceita, dizendo que eles têm lugares privados para que não sejam explorados por outros, e pede que Judith o ame sem questionamentos. Judith continua insistindo, e ele, enfim, rende-se ao seu pedido.
A primeira porta se abre e mostra uma câmara de tortura, cheia de sangue. Judith a fecha. Atrás da segunda porta, existe um armazém com armas, e atrás da terceira, um armazém de riquezas. Na quarta, há um jardim secreto de incrível beleza. Atrás da quinta, há uma janela com visita para o vasto reino de Barba Azul. Ele implora, pedindo para ela parar, dizendo que o castelo está tão iluminado quanto pode estar, mas ela se recusa a parar depois de ter ido tão longe, e abre a sexta porta, que é um cômodo onde não há sangue. Há apenas um lago, ‘lago das lágrimas’. Barba Azul pede a Judith que apenas o ame, e diz que a última porta deve permanecer fechada para sempre. Mas ela insiste, e o questiona sobre suas esposas anteriores, acusando-o de tê-las matado, sugerindo que seu sangue estaria nos quartos, suas lágrimas teriam preenchido o lago e que seus corpos estariam atrás da última porta. Atrás da última porta estão as três esposas anteriores de Barba Azul, mas ainda vivas, cobertas de jóias. Ele então cobre de jóias essa sua curiosa esposa, que são excessivamente pesadas para ela. E fecha a sétima porta, terminando de novo sozinho na total escuridão.











Seguem-se o balé "A Csodálatos Mandarin" (O Mandarim Miraculoso -1919) e as duas sonatas para violino e piano, produção em que a tonalidade se apresenta progressivamente mais livre e se afirma uma forte tendência expressionista, que se abrandaria na Tanz Suite (Suite de Danças - 1923), compostas especialmente para as festas de celebração do 50o º aniversário das cidades de Buda e Pest.

O trabalho propiciou a admiração de seus compatriotas, se bem que efêmera. A pouca receptividade dos conterrâneos e do público em geral para com as produções, mais acentuadamente modernas do mestre húngaro, se reduz ao final da Primeira Guerra Mundial, quando as sua obras são publicadas e ele se dedica, ainda mais ativamente à obstinada pesquisa folclórica, não apenas na Hungria, como na Bulgária, Eslováquia e Romênia.

Levaria ainda algum tempo para que o mundo pudesse ver em Bartók, na qualidade de uma invenção e inovação musical, poderosamente mergulhada nas raízes de sua terra, na indiferença a todos os modismos, nas novas sonoridades de sua orquestração, assim como no rigor intelectual, um dos maiores gênios musicais da primeira metade do século XX.

Levic

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