terça-feira, 19 de abril de 2011

90- Inglaterra séc.XX -9- Britten part.7


As óperas " A Midsummer Night's Dream","Owen Wingrave" e "Death in Venice" ( que não são nem tradicionais e nem de câmara), e que mostraram ser viáveis tanto em grandes como pequenos teatros, serão abordadas agora. Digamos que elas pertenceriam a um 4º período na composições de Britten.

"A Midsummer Night's Dream" (Sonho de uma Noite de Verão) é uma ópera em tres atos, com o libreto feito pelo compositor e Peter Pears, com base na peça de Shakespeare, cuja estreia foi em 1960 no Festival de Aldeburgh.Transformar uma obra prima em algo de valor comparável em outro meio de expressão é extremamente raro. Entretanto, foi o que conseguiu Britten. E há quem afirme que a peça de Shakespeare nunca será mais a mesma, depois desta criação.

A parte dada às fadas ,e em especial a Oberon ( o rei das fadas), é uma posição de destaque, como todas as cenas no bosque. A música evolui em tres níveis diferenciados: o das fadas, o dos mortais e o dos artesãos.

No interior do bosque mágico de Atenas e no breve tempo de uma noite de verão em que os limites entre sonho e realidade desaparecem e nada é o que parece, cruzam-se e entrecruzam-se três mundos contrapostos: o misterioso mundo das fadas e dos elfos, com os seus reis Titânia e Oberom e o gnomo Puck, o mundo lírico dos amores contrariados de uns jovens amantes da corte de Teseu que fogem da cidade - Lisandro, Demétrio, Hermia e Helena – e o mundo burlesco dos rústicos amadores de teatro que estão a preparar uma função para celebrar o casamento do duque de Atenas, Teseu, com Hipólita, rainha das amazonas.

Oberom, zangado com Titânia, que não quer ceder-lhe um rapazinho índio que lhe tinham oferecido, espalha o suco de uma erva mágica sobre os olhos da rainha adormecida, o que faz que esta se apaixone pela primeira criatura que veja ao despertar. Puck, com o seu peculiar sentido do humor, pensa fazer do tecelão Bottom, um dos rústicos, uma criatura com cabeça de burro, e Titânia apaixona-se por ele imediatamente ao abrir os olhos. Por esse mesmo procedimento o gnomo transtorna também as conflituosas relações dos apaixonados.

Ao chegar a manhã, as coisas resolvem-se favoravelmente: Oberom faz desaparecer a cabeça de burro, faz as pazes com Titânia e ambos se dirigem ao palácio de Atenas onde celebram os casamentos dos duques e os dos jovens amantes.



"Owen Wingrave" é uma ópera em dois atos, cujo libreto foi feito por Myfanwy piper, com base no conto de Henry James e encomendada pela BBV Television que foi transmitida em 1971.

Por ter sido composta para ser exibida em televisão,o trabalho deve ter estimulado a criatividade de Britten especialmente na passagem das cenas. Mais uma vez foi buscar inspiração em James (como em The Turn of the Screw), cujo tema central agora é a tentativa do jovem herdeiro da família Wingrave de escapara à tirania do passado e à tradição militarista dos seus ancestrais, ou ainda melhor dizendo, de impor sua consciência pacifista num contexto adverso. Em certo sentido, é o que consegue, mas deve pagar um preço por isso. Em resumo, é uma história assombrosa sobre o conflito brutal entre uma família militar e seu filho pacifista.



"Death in Venice (Morte em Veneza) é uma ópera em dois atos, com o libreto de Myfanwy Piper, com base na novela de Thomas Mann e sua estreia se deu em 1973, no Festival de Aldeburgh.
Foi a última grande ópera de Britten , uma adaptação do romance de Thomas Mann sobre um escritor de quem a obsessão com um jovem garoto prova ser sua ruína. Britten adiou uma cirurgia cardíaca somente para terminar o trabalho. Depois da cirurgia, ele estava muito fraco para reger ou tocar em público e nunca mais comporia outra ópera.

Em 1976, a Rainha Elizabeth II agraciou Britten com uma honra singular para um compositor: o título vitalício de Barão Britten de Aldeburgh. Mais tarde, naquele mesmo ano, Britten morreu. Ele foi enterrado no cemitério da igreja de Aldeburgh , juntamente com Peter Pears e a amiga Imogen Holst, quem o ajudou a fundar o Festival de Aldeburgh.

A história se passa em Munique, Veneza e o Lido, em 1911 e conta o drama de Aschenbach que já velho apaixona-se pela beleza e juventude de um adolescente ( cuja família polonesa está hospedada no mesmo hotel que ele), tornando-se uma obsessão doentia, que o faz acompanhá-lo, observá-lo sem possibilidade de comunicação. enfim, Britten coloca o protagonista da história como narrador também , permitindo-lhe assim transmitir toda a sensibilidade que a peça requer.

Na ópera, Britten constroi um grupo de bailarinos que representam a atração e auto-destuição de Aschenbach, que são os representantes da família polonesa e as outras crianças, as quais brincam na praia e deste modo ele não só enriquece com os meios de expressão próprios da ópera, mas com a dimensão do balé e da mímica ( no lugar do emprego do balé como mero expediente decorativo), enfatizando a impossibilidade em que se encontra Aschenbach de falar a Tadzio, sua incapacidade de traduzir em palavras os seus pensamentos, um fracasso fundamental no terreno da comunicação.



Ainda teria mais coisas para falar de Benjamin Britten pela importância que ele exerceu na ópera inglesa, mas creio que estes sete posts dedicados a ele, já deem uma visão geral de sua criatividade e ousadia ao abordar temas contraditórios e polêmicos. Há de se ressaltar também que foi uma vida inteiramente dedicada à música e à arte.

Levic

segunda-feira, 18 de abril de 2011

89- Inglaterra - séc.XX 9- Britten 6ª parte

O período que Britten dedicou-se às parábolas foi resultado do sucesso de Noye's Fludde, também para serem executadas em igrejas. As tres parábolas - Curlew River, The Burning Fiery Furnace e The Prodigal Son - evidenciam uma nova concisão, com obras pouco mais de uma hora e uma certa economia de meios, pois só precisavam de 20 cantores e orquestra de câmara de sete ou oito músicos. É interessante notar que essas parábolas aconteceram numa fase crítica da trajetória criativa do compositor, provocada por anos consecutivos da aclamação do público, chegando ao auge com a consagração de War Requiem. Foi tão difícil digerir a fama quanto o período anterior em que suas obras não encontravam repercussão.

Curlew River nasceu de sua empolgação com o teatro nô japonês, que lhe causou enorme impressão quando da sua viagem ao Extremo Oriente e Tóquio, em 1956. Sete anos depois, ele pede a William Plomer que transformasse a peça nô "Sumidakawa" numa Primeira Parábola de Execução em Igreja, e esta peça vai servir de referência para a concepção de toda a série. O enredo e o clima evocativo foram preservados, mas a ambientação japonesa deu lugar a uma versão moderna do drama litúrgico da Idade Média inglesa, com música baseada no canto gregoriano. A fórmula teve tal êxito que as parábolas subsequentes se desenrolam da mesma forma: uma procissão no início da peça e cujos integrantes, todos homens, interpretam todos os persoangens, masculinos e femininos.

Curlew River(O Rio dos Maçaricos), com libreto de William Plomer, estreia em Aldeburgh, em 1964, na igreja de Oxford. De maneira geral o enredo não se afasta muito do nô japonês Sumidakawa, como transparece na descrição da peça feita em seu diário pelo príncipe de Hesse e do Reno,que acompanhou Britten a Toquio. O barqueiro espera em seu barco , quando chega um viajante dizendo que logo a seguir virá uma mulher louca. O barqueiro não quer transportar uma mulher nessas condições, mas acaba cedendo. Durante a viagem da travessia do rio, o barqueiro conta a história de um menino que percorreu este mesmo caminho, quando estava muito cansado pois havia escapado de um bando de assaltantes. Atravesssou o rio, mas morreu de exaustão na outra margem. A mulher começou a chorar: era o seu filho. Entristecido, o barqueiro a conduz até o túmulo do menino. A mãe é representada por um homen alto vestido de mulher, com uma pequena máscara feminina no rosto. Diferentes acessórios cênicos contribuem para a compreensão do que se passa. A ópera conclui com um coro.



The Burning Fiery Furnace ( A Fornalha Ardente) é uma parábola com o mesmo libretista anterior, de 1966. A história foi extraida do Velho Testamento, tendo como tema central a resistência à tirania.

Na Babilônia, no séc. VI a.C., três jovens israelitas foram feitos prisioneiros. A conselho de Daniel são designados pelo rei Nabucodonosor para governar três províncias, tendo seus nomes mudados para as formas babilônicas de Shadrach, Meshach e Abednego. Num festim, eles se recusam a renegar a fé de seus ancestrais, comendo e bebendo com os cortesãos, e o astrólogo convence o rei de que se trata de um insulto à nação e a sua fé. O arauto anuncia que todos deverão reverenciar a grande imagem de ouro do deus babilônico Merodak, quando for ouvida a música real, mas os tres recusam-se a adorá-la. Por ordem de Nabucodonosor, uma fornalha é preparada para a execução dos três, que nela são atirados, mas um anjo junta-se a eles, que com sua fé são protegidos das chamas. Quando ressurgem intactos, o rei repudia o astrólogo e se converte à fé dos estrangeiros.

The Prodigal Son (O Filho Pródigo), extraida do Novo Testamento, conta a história de uma família constituida pelo pai, o filho mais velho, o filho mais novo e seus criados, que vivem do fruto do seu trabalho na terra. Quando o filho mais velho e o pai vão trabalhar no campo, o filho mais moço ouve uma voz que o tenta com prazeres desconhecidos, seus desejos mais secretos. Ele, então, pede a sua parte da herança e a obtem, partindo para uma viagem, mas na cidade os parasitas o espoliam e ele fica só e sem dinheiro. Junta-se a um grupo de mendigos, compartilhando sua vida miserável, e então decide voltar para casa e pedir perdão ao pai. É recebido com júbilo, mata-se um bezerro gordo para uma grande refeição. Mesmo o filho mais velho sentindo ciúme, acaba compreendendo o pai e se reconcilia com o irmão.

Esta parábola foi feita em 1968, com sua estreia no Festival de Aldeburgh.



Levic

sábado, 16 de abril de 2011

88- Inglaterra séc. XX 9 Benjamin Britten 5ª parte

Passamos para as óperas infantis, cuja finalidade didática é familiarizar as crianças (e outros) com os elementos e as convenções da ópera. britten sempre se preocupou com as crianças e fez vários corais usando as vozes infantis. Quatro cantores profissionais adultos são necessários, o restante das funções são para crianças.

The Little Sweep é uma ópera para crianças em três cenas , com um libreto por Eric Crozier. Foi apresentada pela primeira vez no Festival de Aldeburgh em 14 de Junho de 1949. Originalmente fazia parte de um longo "entretenimento para os jovens" chamado "Let's Make an Opera", e a primeira parte mostra o elenco ensaiando a ópera. Conta a história de um limpa-chaminés jovem, Sam, e sua tentativa de escapar de Iken Hall, o seu mestre cruel e afastá-lo do comércio perigoso.

Esta ópera, "The Little Sweep", inclui todos os grandes elementos da ópera tradicional - árias, recitativos, um coro, uma história simples, desafiando a música, e um personagem central que vence uma grande adversidade. Mas o que faz "The Little Sweep" ser diferente é que a história gira em torno de um rapaz e um grupo de crianças que trabalham juntos em um esforço para salvá-lo do trabalho da chaminé com a música sempre comentando sobre si mesma e o seu lugar dentro da ópera. É divertido e o final é, naturalmente, feliz.



"The Golden Vanity" é uma outra ópera infantil, mas pouco conhecida.


A terceira ópera infantil feita para ser cantada em igreja é Noye's Fludde (O Dilúvio de Noé), que é na verdade o mistério de Chester musicado, cuja estreia foi na Igreja Oxford, durante o Festival de Aldeburgh, em 1958.

O gênio de Britten para vozes infantis e de jovens é abertamente presenciado em várias de suas óperas, mas nesta é de importância vital, no que diz respeito à participação de adolescentes.

Noé e sua mulher, assim como a voz de Deus, são interpretados por adultos , mas o essencial do elenco e da orquestra é constituido de crianças, que contribuem para com o colorido da partitura. As crianças são encarregadas do coro, das cordas, de grupos de flautas doces e cornetas e também da percussão, tornando o espetáculo mais emocionante.



Levic

quinta-feira, 14 de abril de 2011

87- Inglaterra- séc.XX 9 Benjamin Britten 4 ª parte



Albert Herring, é uma ópera cômica , composta com o libreto escrito por E. Crozier após a história de Guy de Maupassant, "Le Rosier de Madame Husson", e que foi apresentada pela primeira vez em Glyndebourne, em 20 de junho de 1947.

A história se passa na pequena cidade do leste de Suffolk Loxford, 1900.
Em um pequeno mercado da cidade de Suffolk, Gedge, que é o Sr. Vigário, o superintendente da Polícia, Budd, o senhor Upfold que é o prefeito e o chefe local, a professora Miss Wordsworth, reunem-se na casa de Lady Billows para escolher uma Rainha de Maio, como um incentivo à castidade local.

Diante de uma lista de possíveis candidatas, Florença Pike, a governanta de Lady Billows, recusa a todas as moças, armada com os relatos de comportamento indigno que condena cada uma delas, aparecendo, então, a sugestão de, em vez de uma rainha, escolher um rei de maio.

O filho inocente e obediente de uma lojista viúva, o chamado Albert Herring é escolhido e o grupo informa a Albert e a sua mãe, que estão dentro da loja, que ele será o Rei de Maio, cujo prêmio é de 25 soberanos de ouro, o que deixa a mãe eufórica, embora Albert tenha recusado e é repreendido pela mãe, que o coloca de castigo. Albert, por imposição da mãe, não trata bem as crianças do vilarejo, que sempre aproveitam a oportunidade para tirar algumas frutas da loja.

Na cerimônia, em uma tenda no jardim do vicariato, o assistente do açougueiro, Sid , coloca bastante rum na limonada de Albert, de modo que a contribuição do rei para a ocasião foi constituída, em grande parte, de soluços e silêncio, mas foi aplaudido como se estivesse discursado. Algumas crianças lhe rendem homenagem.

Mais tarde, de volta à loja, Albert lança olhares invejosos para a relação afetiva entre Sid e sua namorada Nancy e, de posse do dinheiro do prêmio, e ainda incentivado por Sid, sai em busca de uma pequena aventura de indepedência.

Na tarde seguinte, o interesse da aldeia está crescendo com o desaparecimento de Albert. A polícia é chamada pela mãe, que nada imagina a não ser uma tragédia.Os aldeões acham que ele deve ter chegado a um fim ruim, e a mãe começa a chorar. A atmosfera tensa cresce quando é encontrada a coroa de Albert esmagada na estrada por um carro.

Mas, eis que surge Albert na rua, alegre e feliz, contando a sua noite de aventuras, o que cai como um conto de horror para todos. Entretanto, quando todos estão a censurá-lo, ele simplesmente agradece à Comissão do Festival pelo dinheiro que gastou na sua maravilhosa noite que passou fora pela primeira vez. Todo mundo fica com raiva do seu conto bêbado e saem apressadamente. Albert finalmente levanta-se e dirige-se a sua mãe, colocando a culpa nela pela vida de repressão e mimos em que ele sempre viveu. Embora revoltados, todos puderam reconhecer a sabedoria de Albert Herring, e a partir daí não mais zombaram dele, somente as crianças ainda mexem com ele. Mas logo ele procura desfazer isso, convidando-as a entrar no loja e comer maçãs.



Outra versão abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=GF1X7gfThns

"The Turn of the Screw" (A Volta do Parafuso) encerra este 2º período de ópera de câmara. É uma ópera com um prólogo e dois atos, com o libreto de Myfanwy Piper, com base no conto de Henry James, preservado em quase todos os datalhes e nenhum episódio foi omitido.


A história se passa em Bly, uma residência de campo inglesa, nos meados do século XIX.
No prólogo, estabelece-se a moldura da história: um homem, após as mortes de seu irmão e cunhada na Índia, passa a ser o tutor do casal de sobrinhos. Sem a menor aptidão para os atributos práticos e afetivos de uma paternidade acidental, o tio instala as crianças em uma casa de campo em Bly, deixando-as aos cuidados diretos de uma jovem preceptora, que, em dado momento, morre em circunstâncias misteriosas.

Diante do fato fúnebre, o tio contrata uma nova preceptora, também jovem e bonita como a anterior, para a educação e orientação das crianças, firmando um contrato com três cláusulas: não incomodar o tutor com notícias em menhuma hipótese, não pesquisar sobre a história de Bly House e nunca abandonar as crianças. Ela teria deixado um diário com as suas impressões.

Quando a governata chega à residência é recebida pela criada e pelas crianças. Depois é informada que Miles, com 10 anos de idade, fora expulso da escola por um problema sério, mas que ninguém sabe do que se trata e ele se nega a contar. A governanta não acredita que seja um menino mau, embora ele mesmo diga que o é.

O isolamento em Bly, intensificado pela "condição principal" imposta pelo tio, que era a de não ser nunca incomodado, é fundamental para a criação da atmosfera neblinosa em que a história se desenvolve, na verdade um relato em tom de diário escrito pela nova governanta. Nesse relato, há, predominantemente, a presença das crianças, de uma empregada da casa e, é claro, da própria autora do manuscrito, sendo os outros personagens figuras muito apagadas, quase ausências. Mas,ao longo da história, vem o anúncio dos primeiros sinais da presença de outros personagens mais sinistros.

A governanta começa ver vultos pela casa e fica sabendo que são os fantasmas de dois ex-empregados, Peter Quint, manobrista do mestre, e Miss Jessup, a ex-governanta. Em pânico crescente, a governanta suspeita que Quint teria abusado sexualmente das crianças, particularmente de Miles, mas não podia acreditar nisso.

Mais tarde, a governanta se senta ao lado de um lago com Flora e esta recita os nomes dos mares do mundo, terminando com o Mar Morto, fazendo uma comparação com Bly House. A governanta de repente vê uma estranha mulher através do lago, que parece estar chamando Flora e então horrorizada percebe que a mulher é um fantasma, o fantasma de Miss Jessel, que voltou para buscar Flora.

Naquela noite, Miles e Flora saem para a floresta para atender Miss Jessel e Peter Quint. Na verdade, as crianças fantasiam sobre um mundo onde os sonhos se tornam realidade. A governanta e Sra. Grose chegam a ver as crianças como que estão prestes a serem possuídas, e tentam afastar os espíritos. Miles canta uma música de assombro sobre como ele tem sido um mau menino.

Diante dos fatos, a governanata resolve escrever ao tutor e comunica isso a Miles. A voz de Quint chama por Miles, aterrorizando-o . As luzes se apagam e o fantasma paira sobre a criança apavorada. Quint diz a Miles para roubar a carta e o menino vai à sala, vê a carta, levando-a para o seu quarto.

Na manhã seguinte, a governanta encontra Flora no lago , e a força para admitir que a aparição está perto delas, mas Flora meramente lança desculpas à governanta, dizendo que nada vê. Mrs. Grose, convencida de que a governanta teria ido muito longe, com raiva leva Flora para casa.

A governanta questiona severamente a Miles sobre o roubo da carta, e as pressões do fantasma de Quint sobrepujam sobre o menino, que esgotado diante da força histérica da governanta, confessa por fim que pegou a carta. O fantasma da Quint desaparece. Miles, então, cai morto no chão, com a governanta chorando e pegando a criança nos braços, num desespero pergunta a si mesma se fez a coisa certa.

Desde que o conto de H. James foi publicado em em 1898, ele tem provocado muitas interpretações pelo caráter ambíguo dos personagens.

Entretanto , o tratamento da novela de Henry James dado por Britten é considerado uma de suas melhores obras, em parte porque é eficaz mantendo a ambigüidade velada do conto. Muito do sucesso da ópera depende de não responder às nossas perguntas sobre os fantasmas ou a confiabilidade da governanta. Manter essa ambigüidade permite ampla latitude de interpretação. Nem James e nem Britten especificaram o que queriam os fantasmas, ou mesmo se eles são reais. Será que eles existem apenas na mente da governanta? O certo é que o trauma é tão ruim, que as crianças estão aterrorizadas com as perguntas da governanta, porque elas não estão equipadas para lidar com isso.

Ficamos na dúvida sobre a verdadeira natureza do mau comportamento de Miles na escola, mas suspeitamos de algo velado, sexualizado.
"The Turn of the Screw" é mais do que uma história de fantasmas sobre duas crianças assustadas.







A obra de James já foi para cinema, TV e adaptações teatrais:

The Turn of the Screw (1959) um início num programa de televisão ao vivo , dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Ingrid Bergman.

Talvez a adaptação mais conceituada seja "The Innocents" (1961), dirigido por Jack Clayton e estrelado por Deborah Kerr.

O filme de 2001 "The Others", estrelado por Nicole Kidman, é uma adaptação livre do romance de James.

Bem Dan Curtis, considerado diretor faz o filme de TV "The Turn of the Screw" (1974) com Lynn Redgrave.

A adaptação de 1974 para TV francesa.

The Turn of the Screw (1982), uma versão alemã feita da adaptação operística.

A adaptação de 1989, para Shelley Duvall 's Classics Nightmare estrelado por Amy Irving
Rusty Lemorande 's The Turn of the Screw (1994) com Patsy Kensit e Julian Sands, que atualizou a história para os anos 1960.

O filme de TV "The Haunting of Helen Walker" / The Turn of the Screw (1995)com Valerie Bertinelli.

A adaptação teatral de Jeffrey Hatcher em que uma mulher faz a governanta e um homem preenche o resto dos papéis.

"Presence of Mind" (1999), uma adaptação espanhol aclamada feita com Sadie Frost e Harvey Keitel.

A adaptação para TV britânica The Turn of the Screw (1999), com Jodhi May e Colin Firth.

Um filme de 2006, "Em um lugar escuro", é baseado neste romance.

A história também foi convertida em um balé por William Tuckett.

Levic

terça-feira, 12 de abril de 2011

86- Inglaterra - 9 Benjamin Britten 3ª parte

Gloriana é uma ópera em três atos, de Benjamin Britten com um libreto inglês feito por William Plomer, baseado em Elizabeth e Essex, escrito por Lytton Strachey. A primeira apresentação foi realizada no Royal Opera House, Londres, em 1953, durante as celebrações da coroação da rainha Elizabeth II.

Gloriana foi o nome dado pelo poeta do século 16, Edmund Spenser, para seu personagem que representa a rainha Elizabeth I, em seu poema "The Faerie Queene". Tornou-se o nome popular dado a Elizabeth I. Há registros de que as tropas em Tilbury saudou-a com gritos de "Gloriana, Gloriana Gloriana", após a derrota da Armada Espanhola em 1588.

Gloriana foi a oitava ópera feita por de Benjamin Britten (embora no estilo esteja classificada no 1º período), e foi o seu primeiro fracasso real. Os críticos atualmente colocam-na como uma grande ópera, mas a desaprovação feita pela rainha Elizabet II , na época, fez esta obra ser reconhecida como escândalo na estreia e depois ficar na gaveta, até quase os dias de hoje.

Em 1952, Britten decidiu escrever uma "Ópera Nacional", baseado no livro de Lytton Strachey, Elizabeth e Essex, e a idéia foi recebida com aprovação real e a garantia de que, se o Covent Garden não pudesse pagar as despesas de comissão, o Tesouro Real o faria. Gloriana, composta para a comemoração da coroação da rainha Elizabeth II, foi apresentada pela primeira vez no Covent Garden durante a Semana da Coroação, de 1953, e baseia-se na relação entre Elizabeth I e Lorde Essex.

A condução do enredo da ópera parece ter irritado a jovem rainha, que não gostou da sua famosa antecessora ser representada em flertes amorosos. Há quem diga que teve outros motivos. Quaisquer que sejam as razões, a recepção geral para Gloriana não foi positiva para a rainha e o público manifestou desprezo, tédio e desdém, além da imprensa crítica ter ficado descontente com o trabalho. Britten sentiu-se desanimado e deprimido por sua falha e durante sua vida, esta ópera permaneceu esquecida, embora um revival em 1966 por Sadler's Wells, em comemoração ao aniversário de Britten 50 anos, tenha podido resgatá-la do seu esquecimento. Gloriana recebeu apresentações mais freqüentes e gravações nos últimos anos.

A ópera se passa na Inglaterra em torno de 1600.
Em um torneio real, o ambicioso conde de Essex provoca uma luta com Mountjoy e é ferido. A punição dada pela rainha Elizabeth aos dois é que, doravante, deverão comparecer no tribunal sempre juntos. Eles se tornam amigos.

Cecil ( secretário do Conselho) adverte a sua majestade sobre a indisciplina de Essex, e sobre a ameaça provável de uma Armada da Espanha. Trabalhando por obter apoio, Essex lisonjeia a rainha e pede-lhe para ser nomeado seu vice na Irlanda, para sufocar o rebelde Tyrone . Elizabeth, vê nele a esperança de uma nação e consciente de sua posição como monarca, mas também preocupada com a sua impetuosidade, concede-lhe o pedido.

O fracasso de Essex na Irlanda está ligado à esperança da rainha no futuro do país e daí a sua frustração tomar proporções maiores. Essex deseja vê-la e nesse encontro ela desabafa sua decepção e o acusa de não haver justificado a confiança que nele depositou. Essex assegura-lhe a sua devoção, mas a indignação da soberana se transforma em dor. Sua decisão, no entanto, é tomada quando Penélope faz um pedido a favor de Essex, afirmando que este merece o perdão não só pelos serviços prestados à rainha mas pela posição que ocupa. Enfurecida, e enciumada, Elizabeth manda que lhe tragam a ordem de prisão, para assiná-la na presença da mulher que acaba de lhe mostrar o perigo de Essex.









Gloriana e seu compositor foram duramente atacados injustamente. A corte e a imprensa inglesas consideram um insulto mostrar o lado mais humano, e nem tão real, da rainha antecessora. A ópera é muito bonita e bem feita e se vê o empenho do compositor em compor uma ópera nacional para uma grande ocasião.

Entrando no 2º período, a ópera de câmara, vamos falar de "The Rape of Lucretia".

"The Rape of Lucretia"(O Estupro de Lucrécia) é uma ópera em dois atos e o libreto de Ronald Duncan, com base na peça "Le Viol de Lucrèce" de André Obey, sendo que sua estreia se realizou em Glyndebourne em 1946. Depois, essa montagem saiu em turnê pela Inglaterra, com elenco duplo.

A história se passa em Roma e seus arredores, 500 anos a.C.
Num acampamento, os oficiais discutem o resultado da aposta que fizeram na noite anterior, quando voltassem as suas casas sem avisar, para surpreender suas mulheres. Só Lucrécia, mulher de Colatino, foi encontrada no lar, pois todas as outras estavam em situações comprometedoras.

Tarquinio, príncipe de Roma, proclama que Colatino ganhou a aposta e que Júnio está sendo corneado. Tarquinio e Júnio começam a brigar, mas são separados por Colatino. Júnio sai furioso da tenda e, terrivelmente enciumado da castidade de Lucrécia, jura vingar-se e, assim, sugere a Tarquinio que nem ele ousaria pôr em prova a castidade de Lucrécia.

Lucrécia está em seu lar, quando chega Tarquinio que vem lhe pedir a hospitalidade , a qual Lucrécia não pode recusar. À noite, Tarquinio invade o quarto de Lucrécia e confessa o seu desejo de amá-la. Lucrécia implora piedade e Tarquinio trata de dobrar a sua resistência. Lucrécia pega uma espada para defender-se, mas Tarquinio consegue subjugá-la, possuindo-a à força.

No dia seguinte, Lucrécia surge vestida de roxo, em sinal de luto, e manda chamar Colatino. Conta para o marido o ocorrido, evocando a dor e a vergonha para ambos. Colatino quer perdoá-la, mas ela acaba por se apunhalar, morrendo em seus braços.









No final da ópera o coro masculino canta que nem tudo está acabado, pois Jesus se encarregará de tudo.Assim, finaliza abrindo um caminho à ética cristã para extrair um moral dessa história pagã. Alguns críticos apelaram que esta entrada é bem uma apelação.

Levic

domingo, 10 de abril de 2011

85- Inglaterra séc.XX 9 - Benjamin Britten part.2

As 16 óperas de B.Britten constituem uma incessante busca da forma operística apropriada ao séculoXX, na qual o compositor percorreu basicamente quatro caminhos diferentes. O primeiro de linhas tradicionais, que incluem "Peter Grimes","Billy Bud" e "Gloriana".

Em seguida, ele inventou uma nova forma de ópera de câmara, inicialmente com uma pequena orquestra, sem coro, poucos solistas e destinadas a teatros pequenos, que vamos incluir: "The Rape of Lucretia", "Albert Herring", "The Beggar's Opera"(em cima da ópera de Peppuch) e "The Turn of the Screw".

Ainda mais originais, e também compostas para conjuntos e teatros menores, vieram então as óperas infantis: "The Little Sweep", "The Golden Vanity" e "Noye's Fludde", sendo que esta última destinada à apresentação em igrejas.

Uma quarta categoria, bem inovadora, é a das parábolas de igreja, compreendendo"Curlew River", "The Burning Fiery Furnace", e "The Prodigal Song". Cada uma dessas formas contrastantes comporta ainda, com uma certa flexibilidade: " A Midsummer Night's Dream",
"Owen Wingrave" e "Death in Venice" ( que não são nem tradicionais e nem de câmara), que mostraram ser viáveis tanto em grandes como pequenos teatros.

É portanto a diversidade que caracteriza suas óperas de Gloriana, composta para a coroação da rainha Elizabeth II, com seus grandes solos, suas cenas espetaculares e balés, à simplicidade de "Noye's Fludde" com seus tímpanos afinados e banda infantil de cornetas. Ou então da comédia farsesca de "Albert Herring" à concepção quase ritualística de "The Turn of the Screw", ou ainda das parábolas de igrejas quase monódicas às mudanças rápidas de clima de "Owen Wingrave". Mais ainda do tradicionalismo de "Peter Grimes" ao anticonvencionalismo de "Death in Venice".

Quando já se julgava encerrado o ciclo houve o reaparecimento de "Paul Bunyan" que havia saido de circulação. Nesta ópera, ele não se preocupa em preservar ou desafiar as normas operísticas, tratando apenas de inventar a sua própria linguagem, improvisando um aparato cênico, a partir do libreto escrito por Auden. Na época da sua estreia, com estudantes, foi um verdadeiro fracasso e por isso Brittem congelou-a até sua revisão, em 1976.(texto extraido do livro Kobbé Óperas)

Começaremos, pois, com ela.
Paul Bunyan é uma opereta "coral", composta por Benjamin Britten, com o livro e letra de WH Auden, que fala de um lenhador gigante que realiza atos sobre-humanos no folclore americano.

A ópera se concentra num acampamento, onde um grupo de lenhadores na América, nos tempos do pioneirismo, trabalha para construir uma nação. Os homens, trazidos de países ao redor do mundo, devem trabalhar juntos para encontrar um capataz e lidar com as dificuldades da vida no Novo Mundo. Paul Bunyan é um madeireiro gigante (concebido como projeção do espírito coletivo de um povo empenhado em dominar a natureza), por sua vez, luta para encontrar uma mulher de seu tamanho. Paul Bunyan tem uma filha, Tiny, de uma beleza que encanta a todos os madeireiros. Tiny é muito popular com os madeireiros e logo ela e o cozinheiro, Hot Biscuit Slim (Biscoito Fino), o bom cozinheiro, se apaixonam. No final, os madeireiros e todos os trabalhadores estão prosperando, como um bom sinal de que a América vai ser um sucesso.

Peter Grimes
é uma opera em um prólogo, três atos e epílogo , libreto de Montagu Slater, com base em poema de George Crabble. Estréia em 7 de junho de 1945 em Saddler's Wells, Londres.

Grimes não era um bom candidato para herói e Britten o transformou de maneira inesperada. Britten não via Grimes como um criminoso malvado, mas sim como um desajustado, rude e mal educado. O Grimes operístico compete em vão pelo respeito de seus vizinhos, mas nunca pode integrar-se completamente no círculo fechado da comunidade do burgo. Apesar de rodeado por sedutores, viciados em ópio e prostitutas, de alguma forma, é Grimes o bode expiatório para o descontentamento do município.

No inicio da ópera, Grimes está num inquérito sobre a morte de seu aprendiz. Grimes descreve como tentou ajudar o garoto, e ficamos sabendo que ele até salvou a vida do rapaz. Mas comportamento áspero e bruto de Grimes é o que ressoa com o público. Eles não podem enxergar a gentileza em seu interior. Somente a professora da vila – Ellen Orford, outra personagem de Crabbe — e Balstrode, o capitão da marinha aposentado, têm compaixão pelo pescador.

Tão logo Grimes consegue outro aprendiz, a comunidade prepara-se para ter um novo assassinato. Grimes quer conquistar a aceitação do povoado enriquecendo casando-se com Ellen. Infelizmente, seu aprendiz não é tão habilidoso, mas sim um garoto frágil que não gosta de trabalho duro.

Quando os aldeãos descobrem que o garoto está sendo maltratado, uma turba se dirige à cabana de Peter. O garoto, apressando-se para sair pelas portas dos fundos, escorrega e cai de um despenhadeiro. Assim morre o segundo aprendiz de Grimes. Grimes, que tecnicamente tampouco tem culpa desta morte, enlouquece. Nem mesmo Ellen pode protegê-lo agora. Ela e Balstrode aconselham Grimes a navegar até o fundo do mar e se matar.













Billy Budd é uma ópera trágica em quatro atos, com libreto de EM Forster e Eric Crozier, adaptado de um conto de Herman Melville.

Foi apresentada, pela primeira vez, no London Royal Opera House, Covent Garden, 1 de dezembro de 1951.Foi amplamente aclamada, tendo a cortina aberto mais de quinze vezes. Foi o maior sucesso.

O trabalho baseado na obra póstuma de Herman Melville, a novela Billy Budd, foi transformada em uma ópera de grande força dramática e sutileza psicológica. Apesar de Billy ser o héroi da ópera, o verdadeiro foco do trabalho fica centrado no dilema moral do capitão Vere que, confrontado com uma decisão angustiante entre seus sentimentos e o seu senso de dever, torna-se o centro do drama.

A história se passa à bordo do "HMS Indomáveis", um navio de 74 armas, durante as guerras franco-inglesas de 1797. Originalmente em quatro atos, Billy Budd foi revista em 1961 por Britten, que passou-a para dois atos.

Billy, um atraente jovem marinheiro que, ao ser falsamente acusado por John Claggart também conhecido por Jimmy Legs de que ele estaria tramando um motim, fica chocado e ataca Claggart, matando-o.

O capitão fica dividido entre salvar Budd de uma execução ou fazer o cumprimento da lei. Convoca um "tribunal", composto de Flint, Redburn e Ratcliffe. Ninguém gosta de Claggart mas a lei é clara. Assim,o capitão não pode intervir na a lei, e Budd é então condenado. O primeiro-tenente lê os artigos de guerra, Budd abençoa o capitão Vere e é enforcado.

No entanto, Melville é cheio de duplos significados e "innuendos" em Billy Bud , pois este pequeno conto pode ser interpretado com mais sutileza. O Capitão Vere parece muito atraído por Billy a ponto de Jimmy Legs parecer invejá-lo fortemente, mas não apenas inveja de um belo e jovem exemplar de marinheiro... talvez cíume da atração que Billy exerce sobre o Capitão. Ao tentar reconquistar a atenção do Capitão, Jimmy Legs sugere que Billy incitou um motim entre a tripulação, acusação esta que o Capitão (platonicamente enamorado?) imediatamente desmente. Com o aumento da tensão a bordo do navio (e aqui o paralelo entre a tensão amorosa e a tensão provocada pela morte de Legs às mão de Billy é genial) o Capitão é obrigado a condenar e mandar executar Billy, não só para controlar o possível motim mas, na realidade, para esconder a sua paixão, que teme não conseguir ocultar de outra forma.

Árias notáveis: "Billy Budd, o rei dos pássaros!" (Budd) e "Eu aceito o seu veredicto" (Vere)













Levic

sexta-feira, 8 de abril de 2011

84- Inglaterra séc.XX -9- Edward Benjamin Britten part.1


Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 — 4 de dezembro de 1976), OM, Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor e pianista britânico simpático à filosofia anarquista. Foi um dos mais importantes compositores britânicos, apresentando uma obra gigantesca de sinfonias, mas principalmente no mundo da ópera.


Britten iniciou-se na música desde cedo, talvez influenciado pelos seus pais, praticantes amadores. Aos 14 anos teria já composto dez sonatas em piano e seis quartetos de cordas, não excluindo um oratório e um poema orquestral intitulado "Chaos and Cosmos" (o Caos e o Cosmos).


A sua educação passou, como era normal na época, por uma escola particular local, e mais tarde pela Escola Gresham, de boa reputação a nível nacional, em Holt,
no condado vizinho de Norfolk. Aos 10 anos fica muito impressionado ao ouvir uma interpretação de "The Sea" («O Mar»), de Frank Bridge, com quem teria lições de composição três anos depois. A influência de Bridge na vida de Britten foi patente e durante toda a sua vida Britten se referia a ele com grande afeto e
respeito.

Britten faz projetos para ir estudar com Alban Berg, em Viena, não chegando, no entanto, a concretizar-se, provavelmente pela desaprovação do Colégio. Seria em Londres que Britten captaria a atenção do público ao interpretar uma das suas partituras estudantis, a Sinfonietta (Op. 1), por insistência de Adrian Boult.

Apesar da viagem para Viena não se concretizar, Britten conseguiu trabalho em Londres com maior regularidade, especialmente quando se dedicou a compor para filmes. Aí se tornou amigo de W. H. Auden que, em 1935, colaborou em "Our Hunting Fathers" («Os Nossos Antepassados Caçadores»), com posições radicais políticas e musicais, e de quem receberia o roteiro para a trilha sonora de "Night Mail", que quase se tornou clássica.

A sua produção começava a revelar-se impressionante, de modo que lhe foi oferecido um contrato pela editora Boosey and Hawkes, o que ele aceitou com entusiasmo.

Em 1936 estreou uma suite para violino e piano com Antonio Briosa, num recital radiofônico da BBC. Ainda nesse ano, tendo Auden ingressado na Guerra Civil Espanhola, escreveu, em colaboração de Lennox Berkeley, a obra intitulada "Mont Juic", baseada em danças catalãs, que se estrearia muitos anos depois em Barcelona, quando do III Festival Internacional de Música, em 1965.

Conhece, entretanto, o tenor Peter Pears de quem se tornaria amigo e companheiro para toda a vida. No outono de 1937, Britten, cuja casa natal de

Lowestoft fora vendida por morte dos pais, comprou "The Old Mill" na vila de Snape, no mesmo condado, um moinho antigo transformado em vivenda em 1933. Aí viveu, acompanhado sempre por Pears e outros amigos.

Em 1939, influenciado pelo desenrolar da política europeia e pela crítica hostil inglesa, ambos seguiram Auden, já de regresso, para a América e aí Britten compôs "Paul Bunyan", a sua primeira ópera, com texto de Auden, bem como várias músicas para a voz de Pears.
Este período foi particularmente notável para o seu trabalho com orquestra, incluindo "The Illuminations' («As Iluminações»), destinada a Sophie Wyss, em Londres, sobre originais franceses de Arthur Rimbaud, e os "Seven Sonnets of Michelangelo" («Sete Sonetos de Miguel Ângelo»), "Variations on a Theme of Frank Bridge" (para orquestra de cordas) e "Sinfonia da Requiem" (para orquestra completa), esta última para satisfazer uma encomenda do governo japonês para festejar o 2500º aniversário da dinastia Mikado — curiosamente estes negaram-se a estreá-la.

Porém, Sergey Kussevitzki ( diretor musical da Orquestra de Boston) interpretou-a em Boston e, antevendo as escusas de dificuldades econômicas de Britten como desculpa para não escrever mais óperas, lhe encomendou imediatamente uma ópera e assim se iniciou "Peter Grimes".


Em 1942, já em plena guerra, a nostalgia de Britten da sua terra puxou-o de volta para Inglaterra, num barco neutral sueco, instalando-se, de novo, no velho moinho de Snape.

Em 1945 concluiu Peter Grimes. Terminada a guerra, as preocupações concentravam-se em organizar o mundo pós-guerra, e o diretor da Ópera de Sadler's Wells, empenhado em reabrir o local, escolhe Peter Grimes para servir de inauguração.

Em junho desse ano, a ópera foi estreada com Pears no papel de Peter Grimes e Joan Cross no de Ellen, com uma orquestra alegadamente modesta . O sucesso foi estrondoso e não tardou a peça ser reproduzida pelas Europa e América.

Não obstante, as oposições por parte de alguns setores da música inglesa, levaram-no a cultivar o gênero da ópera e a trabalhar em obras verdadeiramente inglesas. Assim, juntamente com Joan Cross, formam um novo projeto operístico, o English Opera Group, e então em 1947 especializou-se em óperas de câmera.


É nesta altura que surgiu uma série de obras para o conjunto em questão, como "Billy Bud", baseada no romance homônimo de Herman Melville, "The Turn of the Screw!, uma cruel história de horror de Henry James e, entre outras, "The Young Person's Guide to the Orchestra" («Guia de Orquestra para Jovens»), um conjunto de variações e uma fuga sobre um tema de Purcell, inicialmente com uma orientação didáctica, mas que não impediu a sua popularidade.



No ano seguinte foi viver em Aldeburgh com Pears onde organizaria o Festival de Aldeburgh, que traria orquestras e coros à cidade.

Aldeburgh prosperava e Britten recebeu a preciosa ajuda de Imogen Holst (filha de Gustav Holst e maestrina), que se mudou para a cidade para passar horas incontáveis ao lado de Britten, ajudando-o com os manuscritos.


The Scallop, uma escultura em Aldeburgh em homenagem a Britten, é exibida com uma frase da célebre Peter Grimes: "Consigo ouvir as vozes que não serão afogadas".

Britten viajou até ao Extremo Oriente (Bali) onde a típica orquestra javanesa — o gamelão — lhe incutiu as influências patentes em "The Prince of the Pagodas" («O Príncipe dos Pagodes»), com a indução de alguns sons originais, sendo a única grande contribuição de Britten para o bailado.

No Japão, o teatro Nô fascinou o músico compositor, que adotou esse estilo em "Curlew River" («Rio Curlew»), a primeira de uma série de parábolas para serem representadas numa igreja.

Em 1962, para a reconstrução da Catedral de Coventry — que, embora não sendo das mais famosas catedrais de Inglaterra, a sua destruição fora sentida como perda nacional — Britten foi encarregado de escrever a música para a consagração do novo templo, surgindo assim' War Requiem" («Réquiem da Guerra»), que seria interpretada por Peter Pears, o alemão Dietrich Fischer-Dieskau e a russa Galina Vichnevskaia.


Nesta época, Britten começou a visitar a URSS frequentemente, quer na qualidade de intérprete, quer na de regente. Nestes anos, como sempre adaptado às circunstâncias, escreveu muitas peças para violoncelo, onde se inclui a Sinfonia de Violoncelo e Orquestra.

Talvez devido ao ruído dos aviões de Aldeburgh, Britten e Spears mudaram-se de novo em 1970, desta vez para Horham, no mesmo condado. Foi neste ano que completou "Owen Wingrave", já preparada para ser representada na televisão.


Três anos depois compôs "Death in Venice" («Morte em Veneza»), baseada na novela de
Thomas Mann, uma narração dos últimos dias de um pianista já de idade madura. Com esta obra há o retorno à ópera, que foi aclamadA pelo público como a sua obra-prima.

Porém, Britten começava a sentir problemas no coração. Chegou mesmo a adiar a intervenção médica para poder terminar Death in Venice.

Durante os anos que lhe restaram, Britten empenhou-se no seu terceiro e último quarteto de cordas, mas tendo limitada atuação em certas atividades. Não obstante, recebeu assim honras públicas que lhe serviriam de estímulo, como a nomeação de Lord Britten de Aldeburgh pela própria Rainha de Inglaterra, honra concedida pela primeira vez a um compositor britânico.

Em 1976 conseguiu ainda passar umas férias em Bergen onde iniciava novas obras enquanto ali descansava. Todavia, em novembro desse ano, pouco depois de completar 63 anos, morreu em Aldeburgh.

As óperas formaram a parte mais importante de sua obra:
Paul Bunyan (Nova Iorque, 1941), baseada no livro e letra de WH Auden;

Peter Grimes (Sadler Wells, 1945), ópera baseada em The Borough, de George Crabbe;

The Rape of Lucretia (Glyndebourne, 1946),

Albert Herring (Glyndebourne, 1946), a ópera cômica, baseada na história "Le Rosier de Mme. Husson" de Guy de Maupassant;

Vamos fazer uma ópera (Aldeburgh, 1949), ópera bufa com participação do público,

Billy Bud (Convent Garden, 1951), baseada na novela de Herman Melville;

Gloriana (Convent Garden, 1953), para a coração da Rainha Isabel II do Reino Unido;

The turn of the screw (Fenice, 1954), baseada na história de Henry James;

Sonhos de uma noite de verão (Aldeburgh, 1960)

Noye's Fludde (1958), em inglês arcaico, mais tarde referenciada como Noah's Flood («Dilúvio de Noé»);

A Midsummer Night's Dream (1960), baseada em Shakespeare;

Curlew River (1964);

The Burning Fiery Furnace (1966);

The Prodigal Son (1968);

Owen Wingrave (1971) uma ópera para televisão;

Death in Venice (1973) baseada na novela de Thomas Mann.

e uma revisão de "A ópera dos mendigos (1728) (Cambridge, 1948) de John Gay e Pepusch.


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