terça-feira, 19 de abril de 2011

90- Inglaterra séc.XX -9- Britten part.7


As óperas " A Midsummer Night's Dream","Owen Wingrave" e "Death in Venice" ( que não são nem tradicionais e nem de câmara), e que mostraram ser viáveis tanto em grandes como pequenos teatros, serão abordadas agora. Digamos que elas pertenceriam a um 4º período na composições de Britten.

"A Midsummer Night's Dream" (Sonho de uma Noite de Verão) é uma ópera em tres atos, com o libreto feito pelo compositor e Peter Pears, com base na peça de Shakespeare, cuja estreia foi em 1960 no Festival de Aldeburgh.Transformar uma obra prima em algo de valor comparável em outro meio de expressão é extremamente raro. Entretanto, foi o que conseguiu Britten. E há quem afirme que a peça de Shakespeare nunca será mais a mesma, depois desta criação.

A parte dada às fadas ,e em especial a Oberon ( o rei das fadas), é uma posição de destaque, como todas as cenas no bosque. A música evolui em tres níveis diferenciados: o das fadas, o dos mortais e o dos artesãos.

No interior do bosque mágico de Atenas e no breve tempo de uma noite de verão em que os limites entre sonho e realidade desaparecem e nada é o que parece, cruzam-se e entrecruzam-se três mundos contrapostos: o misterioso mundo das fadas e dos elfos, com os seus reis Titânia e Oberom e o gnomo Puck, o mundo lírico dos amores contrariados de uns jovens amantes da corte de Teseu que fogem da cidade - Lisandro, Demétrio, Hermia e Helena – e o mundo burlesco dos rústicos amadores de teatro que estão a preparar uma função para celebrar o casamento do duque de Atenas, Teseu, com Hipólita, rainha das amazonas.

Oberom, zangado com Titânia, que não quer ceder-lhe um rapazinho índio que lhe tinham oferecido, espalha o suco de uma erva mágica sobre os olhos da rainha adormecida, o que faz que esta se apaixone pela primeira criatura que veja ao despertar. Puck, com o seu peculiar sentido do humor, pensa fazer do tecelão Bottom, um dos rústicos, uma criatura com cabeça de burro, e Titânia apaixona-se por ele imediatamente ao abrir os olhos. Por esse mesmo procedimento o gnomo transtorna também as conflituosas relações dos apaixonados.

Ao chegar a manhã, as coisas resolvem-se favoravelmente: Oberom faz desaparecer a cabeça de burro, faz as pazes com Titânia e ambos se dirigem ao palácio de Atenas onde celebram os casamentos dos duques e os dos jovens amantes.



"Owen Wingrave" é uma ópera em dois atos, cujo libreto foi feito por Myfanwy piper, com base no conto de Henry James e encomendada pela BBV Television que foi transmitida em 1971.

Por ter sido composta para ser exibida em televisão,o trabalho deve ter estimulado a criatividade de Britten especialmente na passagem das cenas. Mais uma vez foi buscar inspiração em James (como em The Turn of the Screw), cujo tema central agora é a tentativa do jovem herdeiro da família Wingrave de escapara à tirania do passado e à tradição militarista dos seus ancestrais, ou ainda melhor dizendo, de impor sua consciência pacifista num contexto adverso. Em certo sentido, é o que consegue, mas deve pagar um preço por isso. Em resumo, é uma história assombrosa sobre o conflito brutal entre uma família militar e seu filho pacifista.



"Death in Venice (Morte em Veneza) é uma ópera em dois atos, com o libreto de Myfanwy Piper, com base na novela de Thomas Mann e sua estreia se deu em 1973, no Festival de Aldeburgh.
Foi a última grande ópera de Britten , uma adaptação do romance de Thomas Mann sobre um escritor de quem a obsessão com um jovem garoto prova ser sua ruína. Britten adiou uma cirurgia cardíaca somente para terminar o trabalho. Depois da cirurgia, ele estava muito fraco para reger ou tocar em público e nunca mais comporia outra ópera.

Em 1976, a Rainha Elizabeth II agraciou Britten com uma honra singular para um compositor: o título vitalício de Barão Britten de Aldeburgh. Mais tarde, naquele mesmo ano, Britten morreu. Ele foi enterrado no cemitério da igreja de Aldeburgh , juntamente com Peter Pears e a amiga Imogen Holst, quem o ajudou a fundar o Festival de Aldeburgh.

A história se passa em Munique, Veneza e o Lido, em 1911 e conta o drama de Aschenbach que já velho apaixona-se pela beleza e juventude de um adolescente ( cuja família polonesa está hospedada no mesmo hotel que ele), tornando-se uma obsessão doentia, que o faz acompanhá-lo, observá-lo sem possibilidade de comunicação. enfim, Britten coloca o protagonista da história como narrador também , permitindo-lhe assim transmitir toda a sensibilidade que a peça requer.

Na ópera, Britten constroi um grupo de bailarinos que representam a atração e auto-destuição de Aschenbach, que são os representantes da família polonesa e as outras crianças, as quais brincam na praia e deste modo ele não só enriquece com os meios de expressão próprios da ópera, mas com a dimensão do balé e da mímica ( no lugar do emprego do balé como mero expediente decorativo), enfatizando a impossibilidade em que se encontra Aschenbach de falar a Tadzio, sua incapacidade de traduzir em palavras os seus pensamentos, um fracasso fundamental no terreno da comunicação.



Ainda teria mais coisas para falar de Benjamin Britten pela importância que ele exerceu na ópera inglesa, mas creio que estes sete posts dedicados a ele, já deem uma visão geral de sua criatividade e ousadia ao abordar temas contraditórios e polêmicos. Há de se ressaltar também que foi uma vida inteiramente dedicada à música e à arte.

Levic

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