sexta-feira, 8 de abril de 2011

84- Inglaterra séc.XX -9- Edward Benjamin Britten part.1


Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 — 4 de dezembro de 1976), OM, Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor e pianista britânico simpático à filosofia anarquista. Foi um dos mais importantes compositores britânicos, apresentando uma obra gigantesca de sinfonias, mas principalmente no mundo da ópera.


Britten iniciou-se na música desde cedo, talvez influenciado pelos seus pais, praticantes amadores. Aos 14 anos teria já composto dez sonatas em piano e seis quartetos de cordas, não excluindo um oratório e um poema orquestral intitulado "Chaos and Cosmos" (o Caos e o Cosmos).


A sua educação passou, como era normal na época, por uma escola particular local, e mais tarde pela Escola Gresham, de boa reputação a nível nacional, em Holt,
no condado vizinho de Norfolk. Aos 10 anos fica muito impressionado ao ouvir uma interpretação de "The Sea" («O Mar»), de Frank Bridge, com quem teria lições de composição três anos depois. A influência de Bridge na vida de Britten foi patente e durante toda a sua vida Britten se referia a ele com grande afeto e
respeito.

Britten faz projetos para ir estudar com Alban Berg, em Viena, não chegando, no entanto, a concretizar-se, provavelmente pela desaprovação do Colégio. Seria em Londres que Britten captaria a atenção do público ao interpretar uma das suas partituras estudantis, a Sinfonietta (Op. 1), por insistência de Adrian Boult.

Apesar da viagem para Viena não se concretizar, Britten conseguiu trabalho em Londres com maior regularidade, especialmente quando se dedicou a compor para filmes. Aí se tornou amigo de W. H. Auden que, em 1935, colaborou em "Our Hunting Fathers" («Os Nossos Antepassados Caçadores»), com posições radicais políticas e musicais, e de quem receberia o roteiro para a trilha sonora de "Night Mail", que quase se tornou clássica.

A sua produção começava a revelar-se impressionante, de modo que lhe foi oferecido um contrato pela editora Boosey and Hawkes, o que ele aceitou com entusiasmo.

Em 1936 estreou uma suite para violino e piano com Antonio Briosa, num recital radiofônico da BBC. Ainda nesse ano, tendo Auden ingressado na Guerra Civil Espanhola, escreveu, em colaboração de Lennox Berkeley, a obra intitulada "Mont Juic", baseada em danças catalãs, que se estrearia muitos anos depois em Barcelona, quando do III Festival Internacional de Música, em 1965.

Conhece, entretanto, o tenor Peter Pears de quem se tornaria amigo e companheiro para toda a vida. No outono de 1937, Britten, cuja casa natal de

Lowestoft fora vendida por morte dos pais, comprou "The Old Mill" na vila de Snape, no mesmo condado, um moinho antigo transformado em vivenda em 1933. Aí viveu, acompanhado sempre por Pears e outros amigos.

Em 1939, influenciado pelo desenrolar da política europeia e pela crítica hostil inglesa, ambos seguiram Auden, já de regresso, para a América e aí Britten compôs "Paul Bunyan", a sua primeira ópera, com texto de Auden, bem como várias músicas para a voz de Pears.
Este período foi particularmente notável para o seu trabalho com orquestra, incluindo "The Illuminations' («As Iluminações»), destinada a Sophie Wyss, em Londres, sobre originais franceses de Arthur Rimbaud, e os "Seven Sonnets of Michelangelo" («Sete Sonetos de Miguel Ângelo»), "Variations on a Theme of Frank Bridge" (para orquestra de cordas) e "Sinfonia da Requiem" (para orquestra completa), esta última para satisfazer uma encomenda do governo japonês para festejar o 2500º aniversário da dinastia Mikado — curiosamente estes negaram-se a estreá-la.

Porém, Sergey Kussevitzki ( diretor musical da Orquestra de Boston) interpretou-a em Boston e, antevendo as escusas de dificuldades econômicas de Britten como desculpa para não escrever mais óperas, lhe encomendou imediatamente uma ópera e assim se iniciou "Peter Grimes".


Em 1942, já em plena guerra, a nostalgia de Britten da sua terra puxou-o de volta para Inglaterra, num barco neutral sueco, instalando-se, de novo, no velho moinho de Snape.

Em 1945 concluiu Peter Grimes. Terminada a guerra, as preocupações concentravam-se em organizar o mundo pós-guerra, e o diretor da Ópera de Sadler's Wells, empenhado em reabrir o local, escolhe Peter Grimes para servir de inauguração.

Em junho desse ano, a ópera foi estreada com Pears no papel de Peter Grimes e Joan Cross no de Ellen, com uma orquestra alegadamente modesta . O sucesso foi estrondoso e não tardou a peça ser reproduzida pelas Europa e América.

Não obstante, as oposições por parte de alguns setores da música inglesa, levaram-no a cultivar o gênero da ópera e a trabalhar em obras verdadeiramente inglesas. Assim, juntamente com Joan Cross, formam um novo projeto operístico, o English Opera Group, e então em 1947 especializou-se em óperas de câmera.


É nesta altura que surgiu uma série de obras para o conjunto em questão, como "Billy Bud", baseada no romance homônimo de Herman Melville, "The Turn of the Screw!, uma cruel história de horror de Henry James e, entre outras, "The Young Person's Guide to the Orchestra" («Guia de Orquestra para Jovens»), um conjunto de variações e uma fuga sobre um tema de Purcell, inicialmente com uma orientação didáctica, mas que não impediu a sua popularidade.



No ano seguinte foi viver em Aldeburgh com Pears onde organizaria o Festival de Aldeburgh, que traria orquestras e coros à cidade.

Aldeburgh prosperava e Britten recebeu a preciosa ajuda de Imogen Holst (filha de Gustav Holst e maestrina), que se mudou para a cidade para passar horas incontáveis ao lado de Britten, ajudando-o com os manuscritos.


The Scallop, uma escultura em Aldeburgh em homenagem a Britten, é exibida com uma frase da célebre Peter Grimes: "Consigo ouvir as vozes que não serão afogadas".

Britten viajou até ao Extremo Oriente (Bali) onde a típica orquestra javanesa — o gamelão — lhe incutiu as influências patentes em "The Prince of the Pagodas" («O Príncipe dos Pagodes»), com a indução de alguns sons originais, sendo a única grande contribuição de Britten para o bailado.

No Japão, o teatro Nô fascinou o músico compositor, que adotou esse estilo em "Curlew River" («Rio Curlew»), a primeira de uma série de parábolas para serem representadas numa igreja.

Em 1962, para a reconstrução da Catedral de Coventry — que, embora não sendo das mais famosas catedrais de Inglaterra, a sua destruição fora sentida como perda nacional — Britten foi encarregado de escrever a música para a consagração do novo templo, surgindo assim' War Requiem" («Réquiem da Guerra»), que seria interpretada por Peter Pears, o alemão Dietrich Fischer-Dieskau e a russa Galina Vichnevskaia.


Nesta época, Britten começou a visitar a URSS frequentemente, quer na qualidade de intérprete, quer na de regente. Nestes anos, como sempre adaptado às circunstâncias, escreveu muitas peças para violoncelo, onde se inclui a Sinfonia de Violoncelo e Orquestra.

Talvez devido ao ruído dos aviões de Aldeburgh, Britten e Spears mudaram-se de novo em 1970, desta vez para Horham, no mesmo condado. Foi neste ano que completou "Owen Wingrave", já preparada para ser representada na televisão.


Três anos depois compôs "Death in Venice" («Morte em Veneza»), baseada na novela de
Thomas Mann, uma narração dos últimos dias de um pianista já de idade madura. Com esta obra há o retorno à ópera, que foi aclamadA pelo público como a sua obra-prima.

Porém, Britten começava a sentir problemas no coração. Chegou mesmo a adiar a intervenção médica para poder terminar Death in Venice.

Durante os anos que lhe restaram, Britten empenhou-se no seu terceiro e último quarteto de cordas, mas tendo limitada atuação em certas atividades. Não obstante, recebeu assim honras públicas que lhe serviriam de estímulo, como a nomeação de Lord Britten de Aldeburgh pela própria Rainha de Inglaterra, honra concedida pela primeira vez a um compositor britânico.

Em 1976 conseguiu ainda passar umas férias em Bergen onde iniciava novas obras enquanto ali descansava. Todavia, em novembro desse ano, pouco depois de completar 63 anos, morreu em Aldeburgh.

As óperas formaram a parte mais importante de sua obra:
Paul Bunyan (Nova Iorque, 1941), baseada no livro e letra de WH Auden;

Peter Grimes (Sadler Wells, 1945), ópera baseada em The Borough, de George Crabbe;

The Rape of Lucretia (Glyndebourne, 1946),

Albert Herring (Glyndebourne, 1946), a ópera cômica, baseada na história "Le Rosier de Mme. Husson" de Guy de Maupassant;

Vamos fazer uma ópera (Aldeburgh, 1949), ópera bufa com participação do público,

Billy Bud (Convent Garden, 1951), baseada na novela de Herman Melville;

Gloriana (Convent Garden, 1953), para a coração da Rainha Isabel II do Reino Unido;

The turn of the screw (Fenice, 1954), baseada na história de Henry James;

Sonhos de uma noite de verão (Aldeburgh, 1960)

Noye's Fludde (1958), em inglês arcaico, mais tarde referenciada como Noah's Flood («Dilúvio de Noé»);

A Midsummer Night's Dream (1960), baseada em Shakespeare;

Curlew River (1964);

The Burning Fiery Furnace (1966);

The Prodigal Son (1968);

Owen Wingrave (1971) uma ópera para televisão;

Death in Venice (1973) baseada na novela de Thomas Mann.

e uma revisão de "A ópera dos mendigos (1728) (Cambridge, 1948) de John Gay e Pepusch.


Levic

Nenhum comentário:

Postar um comentário