segunda-feira, 12 de abril de 2010

23.7-O domínio dos Italianos-Rossini 8


As Óperas de Rossini- Continução

                               

                               




As óperas abordadas nesta postagem são:
31- Maometto II, 32- Matilde di Shabran, ossia Bellezza e Cuor di Ferro, 33- Zelmira, 34- Semiramide, 35- l viaggio a Reims, ossia L'albergo del Giglio d'Oro

31-Maometto II - 1820


Maometto II

Libretto- Cesare della Valle, possivelmente depois de Felice Romani e revisto por Gaetano Rossi
Estreia- 03 de dezembro de 1820; versão revista: 26 de dezembro de 1822
Local- Nápoles, Teatro di San Carlo; versão revista: Veneza, Teatro La Fenice
dramma, 2 atos






Maometto II  é uma ópera de 1820  em dois atos de Gioachino Rossini com um libreto italiano feito por Cesare della Valle. Situada na década de 1470 durante um período de  guerra entre os turcos e venezianos, o trabalho foi encomendado pelo Teatro di San Carlo, em Nápoles. Della Valle baseou seu libreto em uma peça sua feita anteriormente com o nome de Anna Erizo. O nome  do personagem título, Maometto II, refere-se à vida real do sultão otomano turco, o grande conquistador de Istambul, Mehmed II, que viveu de 1432 a 1481.


Os eventos descritos na peça acompanham de perto os fatos da conquista e destruição da colônia veneziana de Negroponte, no norte da Grécia por Mehmet II em 1470. Os nomes de dois de seus personagens principais, o comandante veneziano Paolo Erisso e o companheiro de lutas Alvise Calbo, estão nos registros históricos. O que subverte o estado do libreto como um pedaço de realismo histórico é a sua dependência de um enredo fraco em demasia, enquanto locais foram embaralhados e datas foram trocadas, e a história reescrita.

Considerada em alguns aspectos como uma ópera ambiciosamente a melhor das óperas napolitanas de Rossini,  Maometto II não conseguiu encontrar uma audiência boa em Nápoles e, para  ajudar a garantir um sucesso em Paris, Rossisni burilou os elementos mais duvidosos da música. Veneza a viu pela primeira vez em 22 de dezembro 1822 (dois anos após a  estreia) e, em seguida, foi  traduzida para o francês e onde teve mudanças significativas, sendo apresentada com o título de "Le siège de Corinto".

Portanto, uma grande parte da partitura de Maometto foi adaptada para um novo libreto francês  e encenada em Paris, em 9 de outubro de 1826 como "Le siège de Corinto", cuja trama envolve as guerras entre os gregos e os turcos de 1820, inserindo mais tópicos do que entre os turcos e os venezianos como na configuração original do século 15. (A Guerra Greco-Turca de 1919-1922, também chamada de Guerra da Ásia Menor ou como a campanha grega da guerra de independência turca é o nome dado a uma série de confrontos militares ocorridos entre maio de 1919 e outubro de 1922, durante a partilha do Império Otomano, ocorrida ao término da Primeira Guerra Mundial. A guerra foi travada entre a Grécia e os revolucionários turcos do Movimento Nacional Turco, que posteriormente fundaria a República da Turquia.)






Um ano inteiro separa Bianca e Faliero de Maometto II, estreada no San Carlo a 3 de dezembro de 1820 e este intervalo grande, incomum em Rossini, já mostrava o peso do ritmo vertiginoso  de seu trabalho e que estava na hora de moderar. É bem verdade que a ópera seguinte, "Matilde de Shabran", seria escrita em poucas semanas. Mas o certo é que a partir daí, seu  ritmo de trabalho será de uma ópera por ano até a última, "Guilherme Tell, que marcará a sua aposentadoria.

Depois da estreia de Bianca e Faliero, Rossini com 28 anos, volta a Nápoles para supervisionar a estreia local da ópera Fernando Cortez, feita em 1809, que Napoleão encomendara  a Gasparo Spontini para celebrar sua campanha na Espanha, cuja apresentação em 1820 foi no Teatro San Carlo, com uma recepção de pura indiferença do público. Nesse meio tempo,  Rossini recebeu uma encomenda de uma missa solene para a Festa de Devoção da Virgem, que foi cantada em 24 de março na igreja de São Ferdinando. Além disso, ele estava  envolvido na encomenda de uma estátua do túmulo do pai de Isabella Colbran que falecera em abril.





Assim, somente em maio começou a trabalhar de fato na ópera Maometto II. Ficou encarregado de fazer o libretto, um dos mais influentes intelectuais de Nápoles, o duque de  Ventignano, Cesare della Valle, que reduziu o drama, escrevendo-o com seus próprios versos que já haviam sido apresentados ao público no inicio do ano sob o nome de Anna Erizzo,  que era uma adaptação livre de "Mahomet ou Le Fanatisme de Voltaire de 1742.

Entretanto, alguns momentos históricos da época rearrumaram os planos de Rossini. Desde o início de julho de 1820, aconteceram vários levantes políticos ameaçadores do Estado de D. Fernando I e esses distúrbios civis comprometeram o funcionamento dos  teatros napolitanos, onde a maioria fechou suas portas. Ademais, Rossini foi convocado pela Guarda Nazionale, mas por sorte (ou merecimento) serviu como maestro da banda.  Tudo isso atrasou a estreia de Maometo II, mas tal foi feita em 3 de dezembro sem causar grande impressão ao público napolitano. Foi melhor recebida, após revisão, no La Fenice,  no início da temporada de Carnaval. No ano seguinte teve 15 récitas em Milão.






A versão de Veneza e outras produções na Europa, 1823-1826,   foram bem recebidas, mas no entanto,  o compositor teve que se curvar para a necessidade de uma  mudança significativa para o final original, a fim de sintonizá-la com a sensibilidade veneziana, proporcionando um final feliz, o que é explicada por Philip Gossett como um recurso para  remover o horror da catástrofe histórica.

Portanto Rossini instruiu um copista para acabar com a ópera usando o rondó, Tanti affeti de sua La Donna del Lago de  1819, eliminando, assim, o confronto final do Maometto com Anna, sua descoberta de seu casamento com Calbo, e seu suicídio. Nesta versão também foram incluídas algumas  músicas de Bianca e Faliero.

Em 1823 e 1824, Maometto II foi apresentada em Viena e em Milão e depois em Lisboa em 1826, e depois saiu de cena dos teatros.






Em sua forma original Maometto II desapareceu por quase 150 anos. Em 1976, o Metropolitan Opera realizou o que eles chamaram de "L'assedio di Corinto", uma tradução  italiana da revisão francesa de Rossini.  A versão foi apresentada pelo Festival Rossini de Pesaro, em 1985.  O San Francisco Opera fez uma produção em 17 de setembro 1988,  sendo considerada como a mais perto da versão original de Rossini, mas também foi muito problemática.  Não existem referências a uma produção no Reino Unido.





Em janeiro de 2004, uma versão da ópera foi apresentada em Bilbao pela empresa Abao (Associação Bilbaina de Amigos de la Opera). Ela apresentou Simone Alaimo e June Anderson nos papéis principais. A versão de  Veneza foi dada no La Fenice, em fevereiro de 2005, enquanto performances usando uma versão editada pelo maestro Claudio Scimone foram dadas no Festival de Pesaro, em  agosto de 2008.

O Santa Fé Opera apresentou-a em 14 de julho de 2012. O desempenho usou uma edição crítica do estudioso holandês Hans Schellevis  publicada pela Verlag Bärenreiter de Kassel  em 2013, sob a direção geral do musicólogo Philip Gossett, que estava presente como conselheiro em Santa Fé durante os ensaios.  O elenco apresentado  foi de Luca Pisaroni no  papel-título, a soprano Lia Crocetto (vencedora do grande prêmio do 2010 do Metropolitan Opera), como Anna, a mezzo-soprano Patricia Bardon como Calbo e o tenor Bruce  Sledge como Erisso e dirigida por David Alden. A Garsington Opera na Inglaterra anunciou que vai apresentar a edição crítica durante sua temporada de verão 2013. Ainda não temos  a notícia de sua estreia.






Rossini escreveu Maometto II , no auge de sua carreira napolitana e ele a escolheu para abrir a temporada veneziana do carnaval de 1823, revisando-a como Le Siège de Corinto,  para fazer sua estréia na Ópera de Paris em 1826. Neste penúltimo trabalho napolitano, Rossini evita muitas das convenções formais da ópera italiana, enquanto dá expansão a muitas formas internamente, mostrando que ele sabia estar levando a sua arte para além da capacidade de sua audiência. E isso é mostrado em sua contenção gradual após suas revisões, as quais que alisaram as peças mais ousadas. A obra, na opinião dos crítcos, é um trabalho que reúne o dom de Rossini para a música de apelo imediato e esplendor vocal com uma profunda  compreensão da estrutura musical e dramática.

Extraordinária por sua força dramática e a nobreza do seu conteúdo musical, Maometto II também é uma ópera que coloca muitos problemas textuais, já que sucessivas revisões  de Rossini foram feitas diretamente na pontuação de autógrafos ( livro das partituras).






Personagens:


Maometto II ( Mehmed II )- baixo
Paolo Erisso, chefe da venezianos em Negroponte- tenor
Anna, sua filha- soprano
Calbo, nobre veneziana- mezzo-soprano ou contralto
Condulmiero, nobre veneziana- tenor
Selimo, nobre muçulmano-  tenor








Sinopse:


Época: 1470
Local: Negroponte, no Mar Egeu

O pano de fundo para a ação é fato real, a guerra de Veneza contra o império Otomano que culminou, em 1470, na vitória turca em Negroponte (hoje Eubeia, a maior das ilhas  gregas no mar Egeu)

Ato I
[Para a versão de Veneza de 1822, Rossini adicionou uma abertura]






O palácio do Governador Erisso

Bizâncio acaba caíndo para os turcos, e as tropas de Maometto II (sultão Mehmed II ) estão sitiando a cidade veneziana de Negroponte. Maometto exigiu a rendição da cidade no dia  seguinte. Entre os venezianos, um conselho de guerra está sendo realizado e opiniões diferentes a respeito de ações propostas são expressas. O jovem Calbo empurra Paolo Erisso para continuar lutando e defender a cidade, enquanto o General Condulmiero quer ceder. O consenso é continuar a luta e as tropas juram fidelidade a Calbo.



                       


Outra parte do palácio

Sozinha, a filha de Erisso, Anna, contempla o sofrimento de seu pai. Aria: Ah! che invan su questo ciglio ("Ah! Em vão a chama de doce esquecimento"). Erisso entra junto com  Calbo, e ele explica a sua situação, o que sugere que ela se case com Calbo como proteção adicional. No entanto, seu desconforto é claro: ela explica que já está apaixonada por  um homem chamado Uberto, fato acontecido enquanto seu pai estava ausente em Veneza. Quando foi dito que esse mesmo Uberto viajou com Erisso e nunca permaneceu em Corinto, ela percebe  que foi enganada por um nobre desconhecido.

Trio: Ohime! Qual fulmine ("Ai de mim, fulmina um raio"). Erisso dá-lhe um punhal para se defender a si mesma, se necessário.

Isto começa a terzetone ("o trio encorpado"), que é executado através dos seguintes 25 minutos de ação, incluindo o "tempo di mezzo" do tiro de canhão.
Um tiro de canhão é ouvido, e Erisso e Calbo apressam-se para a batalha. Anna deixa de ir à igreja para rezar.






A praça em frente à igreja

As mulheres se reúnem e, após a chegada de Anna, ela toma conhecimento, a partir delas, que um traidor permitiu a entrada dos turcos na cidade. Resumidamente, Anna reza:  Giusto cielo ("céu clemente, de tal perigo / sem conselho, / nenhuma esperança / é iminente"). Todas se refugiam na igreja.

A cidade, na manhã seguinte

Maometto e seus homens entram na cidade, que ele parece conhecer bem. Selim está curioso para saber o porquê, mas seu general não revela nada. Em seguida, os soldados numa  corrida, anunciam que Erisso e Calbo foram capturados. Ambos os homens são levados  para as cadeias. Maometto reconhece a sua bravura, mas exige que eles e os seus homens  se rendam e afirma que, em seguida, todos serão liberados. Pelo seu silêncio, Erisso rejeita a oferta e, quando os dois estão prestes a ser levados para serem torturados, Anna e as  mulheres surgem da igreja.

Cada personagem reconhece a situação com que se confrontam: Anna percebe que Maometto é o homem que era seu amante "Uberto"; Maometto fica pasmo de redescobrir  Anna como filha de Erisso, da mesma forma pasmo, Erisso não consegue acreditar como ela poderia ter caído justamente para o Sultão. Cada um dos outros personagens também expressam sua  angústia ou surpresa. Anna ameaça se matar, a menos que Maometto liberte Erisso e Calbo, o que ele concorda. Embora ele esteja confuso sobre a continuação do seu amor, ele lhe  promete uma vida de luxo.








Ato II

Na tenda de Maometto

Anna, que foi levada para a tenda de Maometto, está cercada por mulheres muçulmanas que recorrem a ela para amenizar os seus sentimentos em relação ao sultão. Indignada, ela  rejeita e afirma sua determinação em escapar. Naquele momento, Maometto entra. Ele lhe diz que entende suas emoções conflitantes ao descobrir que Uberto é agora Maometto, mas  que ele ainda a ama e deseja reinar com ela como rainha de Itália. Enquanto isso, ele permitirá que seu pai e Calbo (que tem sido descrito como seu irmão) possam viver. Anna o  rejeita e  declara: "Eu amei Uberto, um relutante mentiroso", e continua a explicar que o seu amor por seu país é tão forte que nunca poderia amá-lo tanto.






Em seu dueto ( Anna, tu Piangi? Il Pianto / pur non è d'odio un segno / "Anna, você está chorando? Suas lágrimas não são um sinal de ódio ..."), suas emoções conflitantes são  reveladas quando Maometto declarando que ela acabará por ser sua e Anna dizendo "Eu te amo, porém mais cedo eu seria enterrada pelo rendimento ao amor".

O ruído do lado de fora é revelado pelos soldados que estão prontos com Maometto para continuar o seu ataque à cidadela. Enquanto se prepara para sair, Maometto promete que, enquanto  ele ainda tiver uma esperança de possui-la , ele irá proteger seu pai. Ela insiste em algo para garantir a sua segurança em sua ausência e, como um símbolo de sua promessa e sua  proteção, ele dá-lhe o seu selo  imperial de autoridade. Instigado por seus capitães, Maometto promete lutar ou morrer e saem para a batalha na cidadela: (Aria:  All'invito generoso / "Neste pedido galante"), Anna promete encontrar um meio de preservar sua honra.






As abóbadas da igreja com o túmulo da mãe de Anna

Erisso e Calbo estão escondidos num cofre. Erisso fala de sua frustração, desejando que ele poderia estar lutando novamente na cidadela. Ajoelha-se diante do túmulo de sua esposa,  desejando também estar morto e não ter de suportar a desgraça de ver sua filha com Maometto. Calbo tenta assegurar-lhe que Anna foi enganada, que ela é inocente, e que  foi  forçada e sequestrada pelos homens de Maometto: (Aria: Não Temer: d'un basso affetto / não fu mai quel cor capace / "Não tenha medo: que coração nunca foi só capaz de emoções menores ").

Neste ponto, Maometto entra e confronta os dois homens. Maometto proclama que ele ainda deseja se casar com Anna, mas Erisso afirma que ele preferia matar sua filha. Em um  dueto que se torna um trio, os três homens colocam  as suas reivindicações e sentimentos, com Calbo afirmando seu amor por Anna, Erisso revelando que Anna torne-se esposa de  Calbo, e quanto a Maometto jura vingança contra os dois homens.


                      


Calbo zomba dele para retornar para a peça. O trio termina com os três, alegando que Anna será a sua recompensa, como um pai, como amante, como marido. Maometto depois  sai. Depois, é o confronto entre Anna e seu pai, e Calbo é omitido.

 Inicialmente, ele rejeita a filha por consorciar com o inimigo, mas ela jura que nunca vai se casar com Maometto. Como  prova, Anna lhe dá o selo de Maometto, o que permitirá a ambos os homens a sairem do esconderijo. No entanto, ela afirma que deve morrer, mas antes seu pai deve  casá-la com   Calbo no túmulo de sua mãe. Erisso aperta ambas as mãos na sua, quando todos eles estão ao lado do túmulo: (Terzettino:  Em questi estremi istanti / "Nestes momentos ..."). Os  dois homens partem para o combate contra Maometto.

Sozinha, Anna contempla a sua situação (Aria: Alfin Compita è La Meta dell'opra / "a última metade da tarefa está cumprida"). Da igreja acima dos cofres, um coro de mulheres  estão orando: Nume, cui 'l sole e tronto / "Ó Deus, cujo trono é o sol ..... Transforme o seu rosto de novo para nós."






Quando as mulheres chamam  Anna, algumas delas entram no esconderijo para lhe dizer que Maometto foi derrotado por Erisso e fugiu, mas que sua vida está agora em perigo,  uma vez que ele estará em busca de vingança. Ela diz que preferia morrer.

Os homens de Maometto estão numa corrida, mas eles parecem ser incapazes de agir, apesar de suas demandas: Si ferite: chieggo il, il Merito / "Sim, greve: eu peço, eu mereço".  Naquele momento, Maometto e seus capitães entram e enfrentam Anna. Maometto pede para o seu selo ser devolvido, mas esta lhe diz que o deu para o pai e acrescenta que se casou  com Calbo, para em seguida dar uma apunhala em si mesma e morre no túmulo de sua mãe.






A Versão de Veneza de 1822:

As mulheres se juntam a Anna e uma comoção é ouvida quando a batalha se trava. De repente, entram os soldados venezianos com pressa em proclamar sua vitória, seguidos por Erisso e Calbo. Erisso abraça sua filha e diz que ela deve dar-se em casamento a Calbo: "Que a tua mão a recompensa por seu amor". Ela concorda. (Aria: Tanti affetti em tal Momento / "Tantas emoções de uma só vez", ária de Rossini de La donna del lago (1819).  Com as mulheres e soldados cantando a sua alegria, Anna une-se a Calbo no altar quando a ópera termina.











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32-Matilde di Shabran,ossia Bellezza e Cuor di Ferro - 1821




Matilde di Shabran

Libretto- Jacopo Ferretti, depois do libretto de François-Benoît Hoffman para a ópera "Euphrosine, ou Le tyran corrige" (1790) de Étienne Méhul e da obra "Mathilde" de Jacques-Marie  Boutet de Monvel (1798), derivada de Voltaire.

Estreia- 24 de fevereiro de 1821
Local- Roma, Teatro Apollo
dramma giocoso, 2 atos





Matilde di Shabran (título completo: Matilde di Shabran, ossia Bellezza e Cuor di Ferro), é um melodramma giocoso em dois atos de Gioachino Rossini para um libreto de Jacopo  Ferretti, numa mistura com alguns trechos da peça de Jacques-Marie Boutet de Monvel, com situações extraidas de "Euphrosine" de Joseph Méhul, cujo libretto é de François Benoît Hoffmanjn,  com sugestões de um antigo trabalho do próprio Ferreti chamado "Corradino il Terribile".

Se não bastasse tantas fontes, ainda temos que dizer que foi o libretto feito para Rossini dos mais longos e retorcidos. Ainda  um outro complicador: o empresário do teatro Apollo já havia espalhado que a nova ópera se chamava Mathilde. Ferreti, então, muito descompromissado, disse que, como a  história não envolvia fatos históricos e a antiga feiticeira que seduzia Coração de Ferro se chamava Isabella de Shibran, ele achou simplesmente que, para não desmentir o  empresário, deu o nome de Mathilde de Shibran a essa nova ópera.

Ainda tem mais, porque inicialmente o libretto estava nas mãos de Tottola, que fazia a adaptação do drama "Mathilde" de Jaques-Marie de Monvel, encenado em 1779. Rossini recorreu a Ferreti porque, não estava gostando do trabalho de Tottola e, lembrou-se do autor do libretto de La Cenerentola, Jacopo Ferreti. Assim. Rossini viu o deslumbre que poderia ser melhor, mostrando-lhe o que já estava pronto e foi aí que Ferreti  fez aquela cozinha de elementos de várias obras.






 A ópera foi apresentada pela primeira vez em Roma, no Teatro Apollo, em 24 de fevereiro de 1821 e realizada pelo violinista Niccolo Paganini. Como Paganini entrou nesta  história? Vamos lá: o regente do teatro Apollo, Giovanni Bollo, teve um AVC (um derrame cerebral) e morreu durante os ensaios. Foi preciso encontrar um substiruto à última hora e que foi pela ajuda do grande amigo de Rossini, o célebre violinista Niccolò Paganini. Isso, evidenttemente, deu um colorido todo especial à execução, ainda mais que ele teve que  ocupar o lugar também do trompista, porque este caiu doente. Assim, Paganini executou à viola, o"obligatto" que acompanha a ária de Don Ramondo.

Entretanto, o público achou o libretto pesado, cheio de episódios de acessórios desnessários e redundantes, indo além do limite de uma duração tolerável e ainda mais com  expressões demasiadamente vulgares. Então, os aplausos vieram misturados às vaias.






Giovanni Pacini, um jovem compositor que foi apresentado a Rossini por Ferreti, foi contratado para escrever três números da nova ópera, que o público não sentiu  nenhuma diferença, mas Jaccovacci, o empresário do teatro, recusou-se a pagar o cachê combinado porque a obra tinha páginas que não eram da mão de Rossini. Rossini partiu  para uma briga juduciária, onde o juiz deu razão ao compositor, obrigando o pagamento do trabalho, mas Mathilde di Shabran ficou fora dos cartazes até o fim da temporada.

Depois, a ópera tomou o rumo comum às demais óperas de Rossini: foi apresentada em diversos lugares, sendo a última apresentação em Florença de 1892.  A ópera parece ter  sido popular, com apresentações na Europa (Londres em 03 de julho de 1823) e Nova York (10 de fevereiro, 1834), mas, a partir daí, não se tem mais notícias dela, até chegar em  1974, onde a ópera foi revivida no Teatro Margherita de Gênova.

A versão revista da partitura foi apresentada no Rossini Opera Festival de Pesaro em 1996,  2004 e 2012, bem como na Royal Opera, em Londres, em 2008, Juan Diego Flórez  cantou o papel de Corradino.







Personagens:


Corradino, Cuor di ferro tenor
Matilde di Shabran soprano
Raimondo Lopez, pai de Edoardo baixo
Edoardo contralto
Aliprando, médico barítono
Isidoro, poeta baixo
Condessa d'Arco meio-soprano
Ginardo, guardião da torre baixo
Egoldo, líder dos camponeses tenor
Rodrigo, líder dos guardas tenor
Udolfo, carcereiro silencioso
Coro masculino de guardas e camponeses. Coro feminino de camponesas por vezes utilizado no Ato II






Sinopse

Local: em e ao redor de Corradino, castelo gótico na Espanha
Época: Idade Média


Ato I
Cena 1: Fora do castelo - portaria

Egoldo e alguns camponeses chegam com alguns dos seus produtos, que eles esperam que Corradino aceite ( Zitti; Nessun qui v'e - "Calma, ninguém está aqui"). Aliprando chama a  atenção para duas inscrições dos portões do castelo ( Chi vi guida a questa mura? - "Quem o traz a estas paredes?"), mas como aos camponeses não são ensinados a ler, ele é  obrigado a lê-los: "Qualquer um que entrar sem permissão terá sua cabeça dividida em dois" e "Qualquer um que perturbar a paz vai morrer de fome".

Ele e Ginardo confirmam  que o feroz Corradino não terá nenhuma hesitação em realizar essas ameaças, e, além disso, ele tem um ódio particular às mulheres ( Se viene il Cerbero fioccano i guai - "Quando  Cerberus vem, as desgraças chovem"). Os camponeses alarmados dispersam-se rapidamente. Ginardo pede a Udolfo para verificar se os prisioneiros de Corradino estão sendo  maltratados, exceto o que ele mesmo visitará porque é o mais recente, Edoardo, filho do inimigo de Corradino, Raimondo Lopez.






O errante poeta Isidoro chega com sua guitarra no castelo, cansado, com fome e sede, tendo viajado por todo o caminho de Nápoles. Vendo o castelo, ele espera que sua sorte vá  mudar ( Cavatina : Intanto Arménia nfra l'ombrose piante - "Enquanto isso, Armenia, através das árvores frondosas"), mas, quando ele vê as inscrições, seu instinto é fugir.

Mas ele  acidentalmente se esbarra em Ginardo, que lhe diz que é tarde demais. Corradino, armado e cercado por guardas, faz a sua aparição e exige saber quem é Isidoro e por que ele está  no seus domínios ( Quarteto :  Alma rea! Perché t'involi ?- "homem mau, por que você está fugindo?"). Isidoro tenta agradar Corradino, oferecendo uma serenata para suas senhoras, mas isso  enfurece o tirano ainda mais. Ele está prestes a matar o poeta quando Aliprando intervém. Corradino cede, mas Isidoro é conduzido para as masmorras por Ginardo.






Aliprando diz a Corradino que Matilde, cujo pai, Shabran, foi morto em batalha, está se aproximando do castelo e que Shabran no seu último suspiro, elogiou-o e a deixou aos cuidados  de Corradino. Corradino, que respeitava Shabran, compromete-se a acomodar Matilde em bons aposentos, mas deseja que ela seja mantida fora da sua vista, a menos que ele  convoque. Aliprando vai ao seu encontro.

Ginardo retorna, dizendo a Corradino que Edoardo está chorando e pode estar arrependido. Mas quando ele traz o prisioneiro acorrentado a Corradino, é claro que Edoardo  permanece desafiador. Corradino exige que ele o reconheça como o vencedor sobre o seu pai. Edoardo recusa (Cavatina: piange il mio ciglio, è vero - "É verdade que as lágrimas  caem dos meus olhos"), mas Corradino remove suas correntes e lhe permite fazer uma corrida do castelo, se ele promete não fugir. Edoardo concorda e sai. Ginardo relata que  Aliprando e Mathilde estão se aproximando do castelo.

Corradino promete encontrar um marido para Matilde e supri-la com um dote, mas irá vê-la tão pouco quanto possível. Ginardo, sozinho, comenta que mesmo que seu mestre tenha um coração de  ferro ("Cuor di ferro"), pode não ser o suficiente para salvá-lo das flechas do Cupido.






Cena 2: Uma magnífica galeria no castelo

Matilde diz a Aliprando que Corradino vai render-se a ela ( Dueto : Di capricci, di smorfiette - "Eu tenho caprichos, pequenos olhares"). O médico não tem tanta certeza, mas ele  admira seu espírito e lhe diz que Corradino, apesar de sua atitude guerreira, corre para ele sempre que tem uma dor de cabeça ou um resfriado. Talvez o seu desagrado pelas  mulheres possa ser superado.

Ginardo anuncia a chegada da Condessa d'Arco, que, como resultado de um tratado de paz, estava prometida em casamento a Corradino. Ele imediatamente a repudia, mas foi  obrigado a concordar que então não se casaria com ninguém. A condessa ouviu que Matilde deve ser acomodada no castelo e tem a intenção de despejá-la.

As mulheres  se insultam umas às  outras, e o ruído resultante disso, traz Corradino e seus guardas para a galeria ( Quinteto : ! Questa è la Dea ária Che - "Esta é a deusa? qual um quadro!").  Matilde fica firme, Ginardo e Aliprando são surpreendidos com a atitude de Corradino, que não faz nenhuma tentativa de matá-la por sua impertinência, e a condessa está ainda mais enfurecida.  Corradino está confuso, sua cabeça está girando e seu sangue está queimando. Ele pede a Ginardo para cuidar de Matilde, e sai com Aliprando. A condessa  sai enfurecida,  perseguida por Matilde.






Corradino pergunta a Aliprando o que está errado com ele, e é dito que ele está apaixonado, que é uma doença sem cura. Aliprando sai e Corradino convoca Isidoro, a quem ele  suspeita de tê-lo enfeitiçado, desde sua prisão. Isidoro, com medo de sua vida, não tem idéia do que ele está falando, mas, justamente quando Corradino está prestes a fazê-lo em  pedaços, aparece Matilde em sua defesa.

Ginardo leva Isidoro de volta para a masmorra, mas os dois se escondem, a fim de observar o desenvolvimento da situação. O confuso  Corradino sucumbe à astúcia da Matilde (Finale: Ah! Capisco; non parlate  - "Ah eu entendo, não fale!"), e cai a seus pés, quando Aliprando chega para anunciar que Raimondo e  suas tropas estão a caminho para resgatar Edoardo. Corradino dar ordens aos guardas, tendo Matilde com ele, enquanto os outros comentam sobre a sua rendição a ela.






Cena 3: Fora da portaria do castelo

Edoardo, Rodrigo e os guardas esperam o inimigo. Corradino, Matilde, Aliprando e Ginardo vêm através da porta, junto com Isidoro e sua guitarra (ele nomeou a si mesmo de  poeta da corte). A Condessa segue-os. Quando Corradino diz a  Edoardo que seu pai  foi derrotado, Edoardo é vencido, mas quando Matilde consola o rapaz, Corradino sucumbe ao  ciúme. Um conjunto ( Oh come mai quest'anima svavilla in un momento! - "Oh, como minha alma se inflama em um minuto") desenvolve, Isidoro exorta os guardas a ir adiante, e  a cortina cai.




Ato II

Cena 1: O campo perto do castelo

Isidoro, sentado em uma árvore, está escrevendo sobre suas façanhas. Os camponeses e as tropas de Corradino chegam ( Di Corradino il nome per ogni suol rimbomba - "Que o  nome de Corradino ressoe em todos os países"), e, apesar de eles saberem que a única coisa que Isidoro faz é escrever, ele os convence de que é isso o que os poetas fazem- escrevem- ( Le penne de i poeti  so spade assai diverse  - "a caneta do Poetas é bastante diferente das armas "), e, no entanto, eles podem saudá-lo e levá-lo com eles.

Raimondo aparece, e lamenta a perda de seu filho, e se afasta. Edoardo, desanimado, anseia pela morte (Cavatina: Ah perché, perché la morte non ascolta pianti i miei! - "Ah, por  que, por que a morte ignora minhas lágrimas"), mas, em seguida, ele ouve Raimondo chamando seu nome. Corradino e Raimondo chegam simultaneamente, mas, antes que eles  possam lutar, Edoardo toma o lugar de Raimondo. Assim que ele luta com Corradino, ele lhe diz que foi Matilde que o libertou. Corradino corre em um acesso de raiva, e pai e filho  saem juntos.





Cena 2: A galeria no castelo

A condessa revela que Edoardo tinha subornado os guardas e escapado. Ela tem certeza de que Corradino vai culpar Matilde, que agora chega, seguido por Isidoro. Ele diz às  senhoras como ele salvou o dia tomando o comando do exército. Ginardo e Aliprando confirmam que o inimigo foi encaminhado, mas acrescentam que Corradino correu para  encontrar Raimondo e desafiá-lo para um duelo.

Corradino retorna, exigindo ver Edoardo, mas Ginardo descobre que ele escapou. Corradino começa a questionar Matilde, mas Rodrigo entra com uma carta para ela. É uma carta de Edoardo, onde ele jura amor eterno para ela e a agradece por permitir-lhe escapar. Corradino a condena à morte, para o deleite da Condessa ( Sexteto : E palese il tradimento - "Sua  traição é óbvia").





Isidoro e os guardas estão orientados a jogar Matilde para um abismo profundo. Corradino, sozinho, medita sobre a sua vingança. Ele é acompanhado por algumas mulheres  camponesas, mas seus apelos são para que Matilde seja salva ( Mandare a morte quella Meschina? - "Você está realmente enviando essa pobre moça para a morte?"). Quando elas  saem, Isidoro, Ginardo, Aliprando e a Condessa retornam. Isidoro descreve como ele chutou Matilde para dentro da garganta do abismo, em meio a emoções conflitantes dos outros.

De repente, aparece Edoardo e descreve como a Condessa subornou Udolfo para libertá-lo, com a intenção de jogar a culpa em Matilde. A condessa em ira, foge de Corradino, e ele  e Edoardo lamentam a morte  de Matilde (Dueto: Da Cento smanie, e Cento sento straziarmi il cor - "Cem agonias e, em seguida, mais de uma centena de fúrias no meu coração").





Cena 3: Fora do castelo de Raimondo: uma montanha íngreme, com um desfiladeiro, onde há uma torrente para mergulhar

Isidoro fica no pé da montanha e Corradino está acima,  planejando como jogar-se nela afora, a fim de expiar a morte de Matilde. Mas antes que ele possa fazê-lo, a campainha toca  e Raimondo emerge do castelo. Aliprando e Ginardo tentam conter Corradino mas Edoardo corre para o castelo, imediatamente retornando com Matilde.

 Isidoro admite que  inventou a história da morte de Matilde, Matilde agradece  a Edoardo, instrui Corradino a fazer as pazes com Raimondo e lamenta que a condessa não esteja para vê-la triunfar. Ela  e Corradino estão reunidos, e, para alegria geral, ela se canta em louvor do amor ( Ami Alfine? E chi non ama? - "Você está finalmente no amor, Quem não ama?"): com o comentário  dos camponeses "As mulheres nasceram para conquistar e governar ".































                             
33-Zelmira - 1822

Zelmira

Libretto- Andrea Leone Tottola, após Zelmire (1762) de Dormont de Belloy
Estreia- 16 de fevereiro de 1822
Local- Nápoles, Teatro di San Carlo
dramma, 2 atos






Zelmira é uma ópera em dois atos de Gioachino Rossini para um libreto de Andrea Leone Tottola, baseado na peça francesa, "Zelmire", de Belloy, que foi a última das nove óperas que  Rossini compôs para o San Carlo, em Nápoles, em 1822, pois assinala o final do contrato com Barbaja, o empresário. Mas este tinha novos planos para o compositor: um festival  em Viena, onde fora convidado para assumir o cargo de empresário temporariamente. Nesse contrato, Rossini tinha três compromissos importantes: difundir a obra de Haydn na Itália, regendo "A Criação" no  concerto de 10 de abril de 1821 (sua última ópera foi em fevereiro de 1821 em Roma), compor uma cantata cênica comemorativa com o título significativo de "La riconoscenza"  que foi encenada em dezembro de 1821 e ainda escrever uma ópera nova que, testada no San Carlo, seria depois levada para a capital austríaca.






Esta ópera ficou sendo a Zelmira que acabou por ser o seu drama musical mais aventureiro de todas as óperas sérias do compositor para o teatro, pois já nasceria internacional,  tendo que ser capaz de não só agradar a um público doméstico, mais também a um gosto europeu mais amplo. Stendhal chamou sua música de germânica, comparando-a com La  Clemenza di Tito, de Mozart, mas comentando: "... enquanto Mozart  seria provavelmente, se tivesse vivido, completamente italiano, Rossini pode muito bem, no final de sua  carreira, tornar-se mais alemão do que o próprio Beethoven! "

O libretto foi encomendado a Andrea LeoneTottola, baseando-se em "Zelmire" de Dormont de Belloy, pseudônimo de Pierre-Laurent Buyrette, e que foi encenada em Paris em 1762.
Na época do 30º aniversário de Rossini, a família real compareceu à última récita em Nápoles, em 6 de março de 1822 para o bota-fora da trinca Colbran-Nozzari-David, que no dia  seguinte, iriam para Áustria, juntamente com Rossini e Barbaja. Mas, foi feita uma escala em Castenaso, perto de Bologna, onde Colbran tinha uma casa de campo. E foi ali, em 16  de março de 1822, que Rossini finalmente casou-se com Isabella Colbran.






A primeira apresentação de Zelmira foi em Nápoles, no Teatro di San Carlo em 16 de fevereiro de 1822. Isto foi seguido por uma estreia de sucesso em Viena em 13 de abril de  1822, como parte de um período de três meses de duração do Festival Rossini para qual ele escreveu algumas músicas adicionais. Outras performances em várias cidades italianas  se seguiram, e, em seguida, a estréia em Londres em 24 de janeiro de 1824 com a realização de Rossini e sua agora esposa, Isabella Colbran, no papel-título. Ela foi vista em Paris em  1826. Houve uma apresentação nos EUA em Nova Orleans em torno de 1835.

Na época de sua estreia na Áustria em 13 de abril, foi apresentada no mesmo teatro, duas semanas antes, a ópera de Carl Maria von Weber a chamada de Der Freischütz (O Franco  Atirador), considerada a primeira ópera genuinamente alemã, que foi um sucesso muito grande, mas não tanto como foi o de Zelmira, onde o público se amontoara para assisitir o  espetáculo. Isso causou muitos ciúmes a Weber que passou a escrever nos jornais uma série de artigos anônimos em defesa da música alemã, independente dos moldes italianos principalmente os rossinianos.





Em Viena, Rossini acrescentou uma ária para a contralto Fanny Eckerlin, que cantou o papel de Emma, cujo texto é de Giuseppe Carpani, na época o poeta da corte austríaca.  Trata-se de uma das páginas mais elegantes da ópera, pela pureza de sua linha melódica, a originalidade do acompanhamento com solo de harpa e da flexibilidade do diálogo da  solista com o coro. Mas o momento mais bem realizado da ópera é a cena em que Ilo reencontra Polidoro, traduzindo a alegria do velho e o alívio do príncipe em sabê-lo vivo.

Uma passagem interessante é o encontro de Rossini com Beethoven, o qual era bastante admirado pelo compositor italiano, que fez questão em conhecê-lo, principalmente depois  de ter ouvido, em Viena, a Eroica, que lhe causou uma comoção muito grande. Pois bem, para tal encontro pediu a intervenção a um amigo de Beethoven, que concordou em  recebê-lo. Ao entrar na casa de Beethoven, Rossini ficou bem constrangido pela pobreza e desarrumação do ambiente, com telhado em gretas por onde a chuva deveria passar em  jorros. Ao cumprimentá-lo, Beethoven falou: Ah! Rossini, o compositor do Barbeiro de Sevilha? Meus parabéns! É uma ópera excelente, mas sempre faça apenas ópera buffa,  porque é o que os italianos sabem fazer.

Rossini lhe disse o quanto admirava a sua genialidade musical e que agradecia  muito a oportunidade em poder manisfestar isso  pessoalmente. Então, Beethoven num suspiro, falou: "Oh! Un infelice!". Entretanto, Rossini não considerou suas palavras como um insulto e foi tomado mais pela tristeza em ver um  músico tão eminente num estado precário de vida, em contraste com a sua riqueza.






Entre abril e julho de 1822, várias óperas de Rossini foram encenadas em Viena e todas muito aplaudidas, a ponto de uma multidão cercar a casa em que a companhia tinha sido  convidada a cear e os cantores tiveram que vir até a varanda e improvisar um concerto de árias até às duas horas da manhã.

Mais de 100 anos se passariam antes que a ópera fosse apresentada de novo em Nápoles em 1965, mas sem grande sucesso.  As produções mais bem-sucedidas foram as regidas  por Claudio Scimone, o grande defensor da partitura de Rossini, no La Fenice (1988) e na òpera de Roma (1989).






Em 2003, no Festival Internacional de Edimburgo, encabeçado por Elizabeth Futral e o especialista em bel canto Bruce Ford. No papel do marido de Zelmira, Ilo, Antonino Siragusa e  a rica voz  de baixo do Mirco Palazzi regidos pelo Maestro Maurizio Benini com a  Orquestra de Câmara Escocesa. Zelmira também foi realizada no Rossini Opera Festival de 2009,  com Juan Diego Flórez, Kate Aldrich, Gregory Kunde, Alex Esposito pela condução de Roberto Abbado - Orchestra del Teatro Comunale di Bologna







Personagens:

Polidoro, Rei de Lesbos baixo
Zelmira, sua filha soprano
Emma, ​​seu confidente contralto
Ilo, príncipe de Tróia e marido de Zelmira tenor
Antenore, um usurpador de Mitilene tenor
Leucippo, seu confidente, um general baixo-barítono
Eacide, um seguidor do príncipe Ilo tenor
Sumo sacerdote de Júpiter baixo
Sacerdotes, povo, exército Mitilene, seguidores de Ilo, o filho do Zelmira (papel mudo)






Sinopse:


Complicada trama da ópera gira em torno Zelmira, seu pai Polidoro, o sábio e amado rei da ilha de Lesbos, e seu marido, o príncipe Ilo. Antes do início da ação, Ilo havia partido da  ilha para defender sua terra natal. Depois ele se foi, Azor, o senhor de Mitilene e um pretendente desiludido de Zelmira, invadiram Lesbos, com a intenção de assassinar o rei  Polidoro e assumir o trono. Zelmira, no entanto, conseguiu esconder seu pai no mausoléu real e, em seguida, disse a Azor que ele estava escondido no templo de Ceres. Azor  incendiou o templo, pensando que tinha matado o rei, mas foi por sua vez assassinado por ordens de Antenore, que também aspirava ao trono.





Ato I

Os guerreiros de Mitilene estão de luto pela morte de Azor. Antenore, com a ajuda de Leucippo, enreda para assumir o trono de Lesbos, tentando incriminar Zelmira na morte de  Azor e seu pai. Em primeiro lugar, até mesmo Emma, ​​confidente de Zelmira, acredita nas acusações. Temendo pela segurança de seu filho, Zelmira revela a Emma que seu pai ainda  está vivo e pede a ela para levar a criança para se esconder. O Príncipe Ilo retorna para a ilha. Zelmira tem medo de lhe dizer das acusações contra ela, ou para se defender fica em  silêncio. Em vez disso, o príncipe Ilo ouve apenas a versão de Antenore da história. Antenore é coroado rei de Lesbos. Leucippo tenta assassinar Ilo, mas é interrompido por Zelmira.  Encontrada com o punhal na mão, Zelmira agora também é acusada de tentar assassinar seu marido e está presa.





Ato II


Leucippo intercepta uma carta de Zelmira a Ilo, na qual ela lhe diz que seu pai ainda está vivo e que as acusações contra ela são falsas. Ele e Antenore temporariamente livram-na  da prisão para enganá-la e assim revelar o esconderijo de seu pai. Pai e filha são recapturados e aguardam a morte nas mãos dos conspiradores. Enquanto isso, o príncipe Ilo é  perturbado com o que ele acredita ser a morte de Polidoro e um final infeliz para o seu casamento. Emma aparece e diz ao príncipe Ilo a verdade sobre Zelmira. Ele e seus homens  fazem o resgate de Zelmira e Polidoro. Zelmira está feliz e reunida com seu marido e filho, enquanto ambos Antenore e Leucippo são levados para as cadeias.





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34-Semiramide - 1823

Semiramide

Libretto- Gaetano Rossi, baseado em Voltaire
Estreia- 3 de fevereiro de 1823
Local- Veneza, Teatro La Fenice
melodramma tragico, 2 atos




Semiramide é uma ópera em dois atos de Gioachino Rossini, cujo libretto é de autoria de Gaetano Rossi, baseado na tragédia "Semiramis", de Voltaire que por sua vez foi buscar  fontes na lenda de Semíramis da Babilônia.  A ópera foi apresentada pela primeira vez no La Fenice em Veneza, em 03 de fevereiro de 1823.

Depois de fazer sua marca com uma série de brilhantes óperas cômicas (mais notavelmente Il barbiere di Siviglia , La Cenerentola , Il Turco in Italia e L'italiana in Algeri ), Rossini  dedicou-se, mais e mais, à ópera séria. Durante os anos de 1813 (quando Rossini compôs Tancredi ) até 1822, ele escreveu uma série considerável delas, principalmente para o  Teatro di San Carlo, em Nápoles .





Uma das razões para o seu novo interesse no gênero sério era a sua ligação com a grande soprano dramática Isabella Colbran, que foi primeiro a sua amante, em seguida, sua  esposa. Ela representou o papel de protagonista feminina em Elisabetta, Regina d'Inghilterra (1815), Otello (1816), Armida (1817), Mose em Egitto (1818), Maometto II (1820), e  outras cinco óperas de Rossini até incluir a sua contribuição final para o gênero em Semiramide, que também foi escrita para Colbran no papel principal.

Assim, deixando Viena, o plano de Rossini era excursionar pela Inglaterra e até escreveu para Giovanni Battista Benelli, empresário em Londres, consultando-o sobre o interesse em  levá-loa essa cidade para compor nova ópera e supervisionar outras antigas. Mas parece que isso não se concretizou dentro dos moldes em que ele queria. Então, dirigiu-se para  Bologna para visitar a família e também procurar Gaetano Rossi para compor o libretto de sua nova ópera e daí foram juntos à casa de Isabella Colbran em Castelnaso, de onde  decidiram que a ópera seria baseada em Semiramis de Voltaire (1748), assim como foi sua ópera Tancredi desse dramaturgo francês.






O trabalho começou com o libretista em outubro de 1822, o compositor e libretista levando a história de Voltaire e fazendo mudanças significativas. Segundo Rossini, a composição levou 33 dias para completá-la totalmente, mas hoje se sabe que isso foi uma fanfarronada de Rossini, inclusive ele foi obrigado a interrompê-la para atender a um pedido do  primeiro ministro austríaco, que lhe encomendou cantatas para serem apresentadas em Verona, em novembro, de 1822, para celebrar um congresso que ali se realizaria.

Rossini  era completamente desinteressado das causas políticas, mas um convite do todo poderoso Metternick não poderia ser recusado. Além disso, era um bom dinheiro...Em novembro,  o casal Rossini-Colbran partiram para Verona e lá, costurando um pedaço aqui e outro ali de suas óperas, montou as cantatas La Santa Alleanza e Il Vero Omaggio com texto do  próprio Gaetano Rossi que rascunhara em Castelnaso.






Em seguida, propriamente em dezembro, foram para Veneza. O La Fenice ofereceu uma quantia exorbitante para Rossini compor a nova ópera e supervisionar a abertura da  temporada, 26 de dezembro de 1822, de um versão de Maometto II. Infelizmente, Colbran estava com dificuldades na voz e o espetáculo não foi tão bem recebido. Mas, em  fevereiro de 1823, já estava recuperada e pôde estrear Semiramide, ópera com a qual Rossini se despediu dos palcos italianos.

Esta ópera final da fase italiana de Rossini, poderia muito bem ser chamada de 'Tancredi Revisiteda',  não que seja sua cópia, mas sim porque, mais uma vez, foi composta com texto  escrito por Rossi a partir de mais uma tragédia de Voltaire, mas de uma significativa  importância, onde a música respira mediante temas de vastas proporções com um  desenvolvimento harmônico complexo, de tal forma que as estruturas são tão bem proporcionadas que não permitem nenhum corte sem prejudicar seu efeito estético. Um  melodrama em que "recriou a tradição barroca de  canto decorativo com habilidade, sem paralelo".  Os duos entre Arsace e Semiramide e os coros são de uma ordem elevada,  como é a escrita orquestral, que faz uso total de uma linda abertura.





A abertura, baseada em temas da própria ópera, é uma peça imponente que fez carreira como peça isolada de concerto e é, sem dúvida, uma das mais belas aberturas escritas por  Rossini. A ópera conquistou o público por ser uma obra ambiciosa na qual a invenção melódica alia-se a uma expressão dramática de grande força. Semiramide prefigura a "grand- opéra" à francesa, tal como a conceberão, pouco depois, Halévy e Mayerbeer. A saga de Semíramis é bem conhecida nas artes, na literatura e na história, como a guerreira que  estendeu o império assírio e construiu Babilônia. Rossini recriou a saga compondo um épico cheio de poder, traição e luxuria e que contém belas passagens do mais puro bel canto.

Após este magnífico trabalho, uma de suas melhores no gênero, Rossini virou as costas para a Itália e se mudou para Paris. Além de "Il viaggio a Reims" , que ainda está em italiano,  suas últimas óperas ou eram composições originais em francês ou adaptações extensamente reformuladas para o francês de óperas italianas anteriores.O musicólogo Rodolfo  Celletti resume a importância de Semiramide, afirmando:"Ela foi a última ópera da grande tradição barroca: a mais bonita, a mais imaginativa, e possivelmente a mais completa,  mas também, irremediavelmente, a última".






Após sua estréia, a ópera foi levada ao palco vinte e oito vezes pelo resto da temporada, em Veneza (e, em algum momento, por quatro noites consecutivas) , e passou a ter apresentações em toda a Itália e Europa, incluindo Paris, em 1825, Milão em 1829 e 1831, e em Viena, em 1830. Ela chegou a Londres em 15 de julho de 1824, e depois foi dada a sua estréia nos EUA  no St. Charles Theatre, em Nova Orleans em 1 de maio de 1837, mas demorou até 3 de janeiro 1845, antes de ter sido realizada em Nova Iorque.

Outras prima donnas surgiram nos papéis principais por volta de 1825, uma vez que os poderes vocais de Colbran diminuíram muito desde o momento da estreia de Veneza e ela  não estava em condições de cantar o papel novamente.  Há 25 anos depois de 1830 , Giulia Grisi triunfou no papel nomeadamente em São Petersburgo em 1849 e Nova York em  1854. Ao final de 1800, a ópera tinha praticamente desaparecida do repertório. No entanto, o Metropolitan Opera a reaviveu em 1892, 1894 (com Nellie Melba ), e 1895, mas  demorou até 1932, quando foi novamente reavivada (em uma tradução alemã), em Rostock , e então reapareceu sob Tullio Serafin em 1940 no Maggio Musicale Fiorentino.





Embora a abertura é um das mais registradas, a ópera é apenas ocasionalmente realizada nos tempos modernos. Apresentações no La Scala , em  Milão, em setembro de 1962, com Joan Sutherland e Giulietta Simionato. Foi necessária a remontagem de toda a partitura de autógrafos de Rossini, uma vez que já haviam sidos descobertos outros textos que se tornaram então conhecidos. Embora, há quem diga que a partitura ainda não é a original..."É difícil acreditar, mas mesmo a primeira grande  produção de Semiramide no século 20, em 1962, no La Scala com Joan Sutherland e Giulietta Simionato, usou uma edição brutalmente abreviada, cheia de erros. Isso foi até o final  dos anos 1980, quando a primeira edição crítica foi publicada pela Fundação Rossini, após mais de uma década de extensa pesquisa por Philip Gossett da Universidade de Chicago,  Alberto Zedda e outros". ( The Classical Music Guide Forums)

O musicólogo Philip Gossett observa que entre 1962 e 1990, algumas casas de ópera incluíram o trabalho em uma ou mais temporadas, mas foi em 1990 o seu renascimento  graças ao Met, quase 100 anos depois, quando uma produção com base em uma nova edição crítica foi montada e nela estrelou Marilyn Horne como Arsace. O Festival Rossini  encenou a obra em Pesaro, em 1992.





Um paralelo é frequentemente estabelecido entre Semiramide e uma das criações anteriores de Rossini, Tancredi. Semiramide realmente nasceu a partir da mesma colaboração  entre o compositor e o libretista Gaetano Rossi e os libretos de ópera ambos são baseados em peças de Voltaire. Rossi era conhecido por "sua coragem em invadir estrangeiros,  principalmente franceses, à procura de material de origem para o teatro e para a introdução de enredos fortemente românticos para o palco da ópera italiana.  Ambas as  características se aplicam a Semiramide. O libreto é de fato abundante em situações dramáticas afiadas combinando elementos sobrenaturais e desenvolvimento de indução de  enredos humanos.

 Rossini e Rossi em Semiramide não foram os primeiros a explorar a lenda da rainha da Babilônia. Em 1729, o libreto de Pietro Metastasio " Semiramide riconosciuta" foi definido  para uma ópera de Leonardo da Vinci (não confundir com o pintor renascentista), em Roma e uma outra concorrente feita por Nicola Porpora, em Veneza. A peça  deVoltaire foi  primeiro um objeto de um balé de Angionili e Gluck em 1765 e foi, vinte anos mais tarde, uma ópera de Mortellari para um libreto de Moretti.  Várias outras óperas  baseadas na peça de Voltaire foram produzidas através do 18º_  e início do 19º séculos. Assim, no momento de Rossini e da colaboração de Rossi, eles estavam familiarizados com  a lenda de Semiramide .





Para a maioria dos historiadores,  Semiramide é uma lenda. Não está claro se Semiramide foi um personagem histórico real. Os contos do historiador grego Diodoro dizem de uma  guerreira e rainha ambiciosa da Babilônia. Em qualquer caso, Rossini certamente percebeu o potencial na lenda de uma mulher que exercia poder sobre um dos maiores impérios  da antiguidade e a ópera a retrata como tal personagem.

Rossini e seu libretista deram a sensação de que Semiramide é um personagem forte, mas eles também transmitiram de que ela é vítima da evolução dos acontecimentos. Como o  assassinato de seu marido Nino,  ela se torna uma vítima dos deuses através de sua ferramenta Arsace (aliás-Ninia.) Em última análise, ela é uma vítima de si mesma. Dessa forma,  a peça de Voltaire é fortemente influenciada por tragédias gregas clássicas. A justiça dos deuses tem que ser cumprida ou o equilíbrio do mundo está comprometido.



                                                            pintura da escola italiana

Concluindo:
Esta ópera séria é um modelo perfeito do uso de formas de ópera clássica. Essas são as formas que o próprio Rossini tinha ajudado a cristalizar ao longo dos anos. A primeira  evidência disso é encontrada na divisão típica da ópera em dois atos e sua insinuação padrão. Antes de 1823 a maioria das óperas de Rossini já foram divididas em dois atos,  especialmente a ópera séria. Semiramide também apresenta uma abertura típica, uma prática que Rossini tinha abandonado durante a sua estada em Nápoles. A overture de  Semiramide é excelente e tem sido muitas vezes aclamada como a melhor de Rossini, apenas para ser igualada à de Guillaume Tell .

No entanto, o que faz Semiramide uma obra verdadeiramente clássica é acima de tudo a sua estrutura formal. Cada número está estruturado de acordo com o cânone da ária,   cantabile, tempo di mezzo, e cabaletta (ao qual é adicionado um ritmo d'attaco em caso de duetos e um pezzo concertato e stretta no final.) Como mencionado anteriormente,  Semiramide deixa de lado grande parte das experimentações de Rossini, de Nápoles.





Gossett nos informa que: "as obras napolitanas de Rossini foram claramente experimentais: o seu conteúdo formal era novo, a sua utilização do coro era audacioso, enquanto  abandonava a abertura tradicional ..."  Além disso, durante a sua estada em Nápoles, Rossini fez mais amplo uso de peças de conjunto em números durante o ato. Todos esses  elementos experimentais são deixados de lado e no entanto, Semiramide continua a ser um trabalho de bom canto através da utilização de rica orquestração e coro.

Não resta dúvida, que é a ópera à qual a geração seguinte de compositores italianos irá compulsivamente a ela retornar ou para imitá-la ou para abjurar a ela. Mas, o certo é que o  seu fascínio e beleza permanecem inteiros para as plateias de hoje em dia.





Personagens:


Semiramide, rainha da Babilônia, viúva do rei Nino  soprano coloratura
Arsace, Comandante do exército assírio contralto
Assur, um príncipe, descendente de Baal baixo
Idreno, um rei indiano tenor
Oroe, sumo sacerdote dos Magos baixo
Azema, uma princesa, descendente de Baal soprano
Mitrane, Capitão da Guarda tenor
Nino Fantasma  baixo





Enredo:

Somos transportados para a Babilônia antiga, onde a Rainha Semiramide encontra-se em um dilema moral causado pelo assassinato de seu marido, o rei Nino e a perda de seu filho  Ninia. Por muitos anos ela negou o Príncipe Assur, o cérebro por trás da trama de assassinato, o casamento prometido e com ele um lugar no trono real. O amor de Semiramide  para o jovem general Arsace, impele-a a empreender uma nova ação. Ela planeja anunciar seu casamento na inauguração do novo templo de Baal e assim impedir a candidatura de  Assur para o trono. No entanto, a voz de Nino e o plano do sumo sacerdote Oronte (Oroe) derrota o de Semiramide, e eles revelam o abismo entre o amor, intriga, política e fé. No final,  Semiramide reconhece que Arsace é seu filho Ninia desaparecido, que voltou para casa em busca de vingança. Apesar de idéias de arrependimento, a tragédia de Édipo da  Babilônia  toma seu turno catastrófico em um confronto melodramático no túmulo do Nino assassinado.






Sinopse:

Época: Antiguidade ou "cerca de 2.000 anos antes da era cristã"
Local: Babilonia

Abertura

Semiramide tem a sua própria abertura, que foi quase certamente composta por último, emprestada das idéias musicais da própria ópera, tornando-a imprópria para o uso em  outra pontuação. A gama e equilíbrio de idéias musicais,  fazem da abertura de Semiramide ser uma das requintadas contribuições de Rossini para o gênero e merecidamente uma  das mais populares.



Ato I
Templo de Baal, Babilônia

O Sumo Sacerdote Oroe convida a todos para entrarem no templo, e os babilônios (juntamente com outros do exterior, incluindo Idreno o Rei do Índio) que estão levando  oferendas a Baal. Assur afirma que o dia chegou para a Rainha escolher um sucessor e ele lembra a todos de seu próprio valor. Idreno expressa surpresa a aspiração de Assur e  todos expressam suas preocupações individuais e medos.

Semiramide entra para a aclamação de todos, mas Idreno e Assur especulam individualmente a respeito de quem será o escolhido. Eles pressionam a rainha de anunciar sua  decisão, mas ao mesmo tempo ela mesma, Semiramide, está temerosa sobre tomar essa decisão, especialmente porque parece estar esperando a chegada de alguém. De repente,  o templo está mergulhado na escuridão e em meio a consternação geral  existe um  temor de seu colapso iminente. Tudo está deserto no templo.

Arsace, que tinha ido embora da Babilônia por causa de seu pai moribundo, o ex-rei Nino, entra. Ele traz consigo uma urna com as relíquias de seu pai, mas ele está confuso por que  ele foi chamado de volta para a Babilônia. Ele declara o seu amor pela princesa Azema que o ama, e afirma sua relutância em apoiar Assur em sua oferta para o trono: (Aria: Eccomi  alfine em Babilonia ... Ah quel giorno ognor rammento! / "Oh, eu vou sempre lembrar o dia de glória e felicidade ... ").

Arsace pede para ver o Sumo Sacerdote. Oroe entra, abre o caixão, e exclama ao vê-se que ele contém as relíquias do rei morto. Ele sugere a Arsace sobre alguma traição que tinha  sido envolvido. Vendo a aproximação de Assur, Oroe sai com as relíquias. Assur chega e questiona a razão para o retorno de Arsace. Os dois homens discutem sobre Azema, com  Arsace reafirmando seu amor por ela (Duet: Bella degli imago dei / "Imagem bonita, divina, Azema sozinha eu adoro"), enquanto Assur lhe diz que ele também a ama. "Você não  tem idéia do que seja o amor", o jovem diz ao mais velho: (Aria / dueto: D'un tenero de amor / "Aquele seu coração feroz não é capaz de terno amor ...")






O hall de entrada do palácio

Azema entra, feliz que Arsace está agora na Babilônia. Idreno a segue e pede-lhe a mão, e ela lhe diz que esta deve ser a decisão de Semiramide. "O que de seu coração?", ele  pergunta assumindo que seu rival só pode ser Assur. Desdenhosamente ela lhe diz que nunca será de Assur. Idreno é consolado, embora ele expresse seu desejo de "punir a ousadia  perversa de um rival"  e continua a expressar o seu desejo por Azema: (Aria: E, se ancor libero / "E , se o seu coração justo ainda está livre, pelo menos para sentir alguma pena em  seu peito ... ")

Os Jardins Suspensos

Depois de ter se apaixonado por Arsace e acreditar que ele a ama, Semiramide espera por sua chegada: (Aria: Bel raggio lusinghier / "Um raio belo, encantador de esperança e  contentamento brilhou para mim no passado"). O oráculo tinha previsto a sua chegada, e por isso confirma na crença de que ela vai encontrar o amor com Arsace. No entanto,  quando ele chega, ele faz alusão ao seu amor por Azema especificamente sem nomeá-la, mas também declara que morreria por sua rainha, se necessário. Semiramide ainda  acredita que ele realmente a ama: (Aria: Serbami ognor sì fido / "Mantenha sua cabeça e seu afeto sempre tão dedicado a mim"). Eles saem separadamente.






O Palácio Sala do Trono

Todos entram para aguardar a chegada de Semiramide e seu anúncio de sua escolha de consorte. Arsace, Idreno, Oroe, e Assur todos juram obedecer ao seu comando: (Ensemble:  Semiramide, Arsace, Idreno, Oroe e Assur: ( Giuri ognuno, a 'sommi Dei / "Que cada um possa jurar aos mais altos deuses para obedecer os meus mandamentos ... "). Ela exige  lealdade para com o homem que ela escolher e eles são informados de que este também será o marido da rainha. Quando Semiramide nomeia Arsace como seu escolhido, Assur  fica indignado e Idreno aceita a decisão, mas  solicita a mão de Azema , que é concedida. Depois de pedir a Oroe para unir Semiramide e Arsace, Semiramide fica horrorizada com o  alvoroço que emite a partir do fim de túmulo do rei Nino: (Aria: Qual mesto Gemito Da quella tomba / "Que melancolia gemendo lá do túmulo ... "). Todos estão horrorizados com   o fantasma do rei Nino que aparece, alertando sobre os crimes para serem expiados, dizendo a Arsace que ele vai reinar e respeitar a sabedoria do Sumo Sacerdote, e ordenando- lhe que descesse em seu túmulo. Cada personagem expressa a sua própria angústia.






Ato II

Uma sala no palácio

Em um breve encontro, Mitrane avisa o guarda real para manter Assur sob vigilância e não permitir que ele saia do palácio. Então Semiramide entra, seguida pouco depois por  Assur.

O conflito entre os dois logo emerge. Ela lembra de que foi ele quem deu a taça de veneno para Nino, causando assim a sua morte, e ele lembra que foi ela quem o tinha preparado:  "Quem me entregou a taça da morte?" , pergunta ele.  Lembrando que naquela época ela tinha um filho, ela especula que este poderia ter sido morto pelo mesmo homem que  matou Nino. Assur continua a pressionar Semiramide para fazê-lo rei. Por sua vez, ela ameaça revelar o crime, e eles cantam um dueto estendido: ( Se la vita ancor t'è Cara / "Se  você ainda tem vida, obter-se fora da minha vista"), lembrando o terror e a vingança que cada um poderia infligir a si, se os verdadeiros fatos vierem à luz. Semiramide continua a  exigir que Assur reconheça Arsace como seu rei.

Um regozijo é ouvido à distância, e ao mesmo tempo Semiramide recupera a felicidade, e Assur torna-se resignado à sua sorte.






Túmulo do pai de Arsace

Oroe e os Magos estão no túmulo. O Sumo Sacerdote exorta Arsace a vir para frente, mas o faz consciente de que pode haver alguma notícia desagradável esperando por ele. Após  a sua chegada, Oroe diz que ele é Ninia, filho de Nino, que tinha sido salvo por Fradate (um dos sacerdotes) e trouxe como seu próprio. Aguniado com esta notícia, Arsace então  descobre que Semiramide é sua mãe. Para reforçar esta notícia, Oroe lhe entrega um livro, e a sua leitura confirma as declarações do padre. O golpe final vem quando Assur lê as  palavras de Nino: "Assur foi o traidor".

Quase caindo em tristeza para os braços de Oroe, ele pede conforto: (Aria: in si barbara sciagura / "Em tal infortúnio "), mas os sacerdotes reforçam rapidamente a sua necessidade  de vingança imediata. Eles o equipam com armadura e espada, e o incentivam a vontade de continuar: (Aria: Si, vendicato, il genitore / "Sim, meu pai vingado"). Espada na mão,  Arsace sai.


Os aposentos de Semiramide

Azema e Mitrane estão sozinhos, reclamando que ela perdeu tudo, agora que Arsace, o amor de sua vida, deve-se casar com a rainha. Idreno entrando ouve isso e fica perturbado.  Azema promete-lhe a mão, se ele assim o desejar, mas ele deseja que ela possa amá-lo: (Aria: La speranza più soave / "Esta minha alma uma vez entreteve as mais caras  esperanças"). Dois coros de: empregadas domésticas, senhores e indianos levam todos para o templo.







No templo

Semiramide confronta Arsace, que finalmente lhe entrega o pergaminho que revelou tudo. Horrorizada, ela então entende a verdadeira identidade de Arsace, e torna-se  arrependida, oferecendo-se a seus golpes vingativos. Ele lhe jura lealdade filial, expressando o desejo de poupar sua mãe: (Duet: Ebben, a te ... Giorno d'orrore ... Madre, addio! /  "Bem, então - vá em frente, cumpra o mando de um deus /! Deixe os deuses desabafarem toda a sua ira em cima de mim primeiro "). Juntos, cada um aceita a realidade: ( Giorno  d'orror E di contento! / "Dia de horror ... e de alegria!"), mas Arsace declara que ele deve ir ao túmulo de seu pai e tomar qualquer ação é necessária. Saber o que está guardado,  Semiramide pede para "Retornar  vitorioso".


Junto ao túmulo de Nino

Desafiadoramente, Assur entra e anuncia que este será o último dia de Arsace na terra. Reconhecendo que seus homens se voltaram contra ele, ele ainda jura matar Arsace. Então,  se move em direção ao túmulo apenas para encontrar alguma força desconhecida, alguma aparição segurando-o de volta: ( Deh ti ferma ... Que numi furenti / "Oh, ficar, ser  pacificado, perdoa"). Seus homens estão confusos, até que ele parece se recuperar e, em seguida, com os seus homens ao seu lado, promete lutar: (cabaletta: Que 'Numi furenti,  Quell' ombre fremente / "Esses deuses irados, os trêmulos tons").





Junto com Oroe, Arsace entra no túmulo. Ele espera por seu rival. Assur entra, também aguardando Arsace. Então Semiramide vem para rezar no túmulo de Nino, pedindo perdão  e proteção para o seu filho: Aria: Al mio pregar t'arrendi: il tuo figlio diffendi / "Rendimento a minha oração: proteger o seu filho"). Na confusão da escuridão, todos os três -  Arsace, Semiramide, e Assur - expressam alguma perplexidade quanto à perda de sua coragem neste momento crucial: (Trio: L'usato Ardir / "Minha habitual ousadia, a coragem,  para onde foi? "). Mas na escuridão procuram atacar Assur, quando Arsace atinge Semiramide enquanto caminha entre eles para parar a luta. Surpreso ao saber a verdadeira  identidade de Arsace, Assur é preso,  Semiramide morre, e aclamação geral  do povo, Arsace relutantemente aceita que ser o rei.







Gravações


1965-1966 Joan Sutherland , Marilyn Horne , José Rouleau , John Serge
Richard Bonynge , London Symphony Orchestra eo ambrosiano Opera Chorus


1980 Montserrat Caballé , Marilyn Horne , Samuel Ramey , Francisco Araiza
Jesús López Cobos,
Scottish Chamber Orchestra e Aix en Provence Festival Chorus


1990 Junho Anderson , Marilyn Horne , Samuel Ramey , Stanford Olsen
James Conlon , Metropolitan Opera Orchestra e Coro (gravação de áudio e vídeo de uma performance no MET)


1992 Iano Tamar, Gloria Scalchi, Michele Pertusi, Gregory KundeAlberto Zedda ,
Orquestra do Teatro Comunale, Bolonha e Praga Philharmonic Chorus
(Gravação da edição crítica de uma performance no Rossini Opera Festival em Pesaro)

1992 Cheryl Studer , Jennifer Larmore , Samuel Ramey , Frank Lopardo
Ion Marin , London Symphony Orchestra e ambrosiano Opera Chorus

1998 Edita Gruberova , Bernadette Manca di Nissa , Ildebrando D'Arcangelo Juan Diego Flórez
Marcello Panni,
Radio Symphony Orchestra, Vienna e Wiener Konzertchor
(gravação de um concerto no Wiener Konzerthaus, 14 de Março) CD: Nightingale Classics

2004 Ángeles Blancas,
Daniela Barcellona, ??Ildar Abdrazakov , Antonino Siragusa
Alberto Zedda , Teatro Real , Madrid Orquestra e Coro (gravação de vídeo de uma performance no Teatro Real de Madrid, de abril)


2012 Alex Penda , Marianna Pizzolato, Lorenzo Regazzo, John OsbornAntonino Fogliani,
Virtuosi Brunensis eo Poznan Camerata Bach Choir,
(Gravado no Rossini em Wildbad Festival, 2012)












                       

35-Il viaggio a Reims - 1825

Il viaggio a Reims

Libretto- Luigi Balocchi, depois de Corinne, ou L'Italie de Madame de Staël
Estreia-19 de junho de 1825
Local- Paris, Théâtre National de l'Opéra-Comique
dramma giocoso, 3 atos(original)hohe-1 ato





Il viaggio a Reims, ossia L'albergo del Giglio d'Oro ( The Journey para Reims, ou o Hotel da Dourada Flor-de-liz) é uma ópera tipo dramma giocoso, originalmente realizada em três  atos, de Gioachino Rossini com um libretto de Luigi Balocchi , com base, em parte, da peça "Corinne, ou L'Italie" de Anne Louise Germaine de Staël (Madame de Staël (1766 - 1817).  Teve apenas três récitas e as diferentes partes do manuscrito, tendo como perdidas, foram reencontradas e remontadas em 1970 pelo musicólogo Janet Johnson, com a ajuda de  Philip Gossett. O libreto de Luigi Balocchi tem como fundo a personagem principal da obra de Mme. de Staël, "Corinne", mas afasta-se contudo do original, conservando apenas a  sua característica romântica.

Esta foi a última ópera de Rossini em língua italiana (todos os seus trabalhos posteriores foram em francês) mas esta estreou sob o título "Le voyage à Reims, ou l'Hôtel du Lys- d'Or", tendo sido  encomendada para celebrar a coroação do rei francês Charles X em Reims, em 1825 e tem sido aclamada como uma das melhores composições de Rossini.  Representa um trabalho exigente, que requer 14 solistas (três sopranos, um contralto, dois tenores, quatro barítonos e quatro contrabaixos). Na sua estréia, foi cantada pelas  maiores vozes da época, como Ester Mombelli, Giuditta Pasta, Domenico Donzelli, Nicolas Levasseur e Marco Bordogni. Nunca ninguém tinha composto uma ópera para um tal  conjunto de grandes cantores, verdadeiro fogo-de-artifício vocal e autêntica apoteose do bel-canto.




Originalmente Rossini criou esta ópera como algo meramente circunstancial, pelo que o compositor quis retirá-la logo após a terceira récita. No entanto a estreia foi um verdadeiro  sucesso: o teatro estava cheio e o público entusiasmado. Meses depois, em setembro, Rossini acedia relutantemente em repô-la para uma causa de beneficência, vítimas de um  incêndio de uma cidadezinha de Salins-les-Bains (apenas uma récita) e esta seria a ultima vez que se ouviria aquela música em Paris como parte do Dramma Giocoso "Il Viaggio a  Reims". Apesar de tudo, a sua música não foi desperdiçada, uma vez que grande parte dela foi utilizada em "Le Comte d' Ory", de 1828.

Mas, antes de chegar a esse ponto, gostaria de voltar atrás. Depois da estreia de Semiramide, e depois de umas boas férias em Bolonha e Castelnaso, os Rossini foram para França  como uma escala para Londres, chegando aí em 7 de dezembro de 1823. Além da apresentação de várias óperas suas, Rossini foi contratado para compor um título novo para o  público inglês, que seria a ópera Ugo, re d'Italia, cuja partitura foi perdida, embora haja provas documentais de que ela foi composta, pelo menos parcialmente. Nesta mesma  época, foi publicado "A Vie de Rossini" de Stendhal.






Londres recebeu Rossini de braços abertos, onde foi apresentada a cantata Il Pianto delle Muse in Morte di Lord Byron, uma colagem de pedaços de várias óperas anteriores,  formando a elegia ao poeta que tombara na Batalha de Missolonghi, lutando pela indepedência da Grécia. Em breve era convidado para vários lugares, que lhe renderam bom  dinheiro, mas com isso a ópera Ugo foi deixada de lado. E o mistério dessa ópera ter sido desaparecida foi que, segundo fonte de Jeremy Commons, ela seria a própria Ermione, que  não tivera sucesso em Nápoles, mas desconhecida em Londres. E agora poderia ser apreciada...entretanto, nunca foi apresentada.

Enquanto frequentava os círculos elegantes londrinos, Rossini negociava para instalar-se em Paris, sob um compromisso de apresentar uma composição de uma ópera bufa no  Théâtre-Italien, uma séria para o Opéra além da supervisão de alguams óperas suas para versões francesas. Rossini deixou Londres em 1824, indo instalar-se na capitala francesa.  Foi-lhe oferecido o cargo de diretor de música e palco do Teatro Royal Italiano, que ele só aceitou sob a condição de seu rival ferrenho, Ferdinando Paer, não fosse demitido. Assim,  teve uma doce vingança: não só o agradecimento de Paer, mas que este iria trabalhar como seu assitente.



Mas, a tal ópera nova não chegava aos parisienses, e enquanto isso, Rossini montava suas óperas antigas. Ele só se animou a fazer algo novo, em 19 de junho de 1825, para  comemorar a coroação do rei Carlos X na catedral de Reims, ocorrida duas semanas antes, que veio dar na ópera "Il viaggio a Reims".

Durante algum tempo pensava-se que Il viaggio a Reims não tivesse uma abertura que teria sido retirada de um conjunto de danças da "Le siège de Corinto" (1826), uma das quais  Rossini reformulou para as danças no final de Il viaggio a Reims, é uma invenção do século XX ou uma atribuição errônea. Publicada em Milão, em 1938, em uma revisão por  Giuseppe Piccioli,  foi realizada pela primeira vez no Teatro alla Scala , em 5 de novembro de 1938, conduzido por Richard Strauss.  Mais tarde foi também gravada várias vezes com  a abertura de Il viaggio a Reims , até que finalmente foi possível reconstruir a partitura original da ópera. A abertura atribuída continua sendo uma das obras mais gravadas de  Rossini, infundindo um estilo grandioso e elegante com boa potência orquestral.





A partitura de "Il Viaggio" sobreviveu por acaso. Herdada após a morte do autor pela sua segunda mulher, Olympe Pelissier, foi dada por ela ao médico de Rossini, Vio Bonato, pelo  que a ópera não constou de nenhum catálogo das suas obras até 1977. Contudo, em 1848 montou-se uma versão alterada e mutilada intitulada "Andremo a Parigi?" e em 1854,  quando Viena celebrou o casamento de Francisco José e Elisabete de Baviera, foi encenada como "Viaggio a Vienna" completamente transformada e quase irreconhecível.  Uma  récita apenas.

Depois desapareceu. Entretanto, os estudiosos da obra de Rossini que sabiam da existência desta obra, acabaram por ver as suas pesquisas recompensadas. A pouco e pouco foram  aparecendo aqui e ali algumas partes: como na biblioteca do Conservatório de Paris e num depósito da Academia de Santa Cecília em Roma, manuscritos de números não   aproveitados por Rossini no "Comte d' Ory" e ainda, uma cópia da partitura utilizada em Viena em 1854 descoberta na Biblioteca Nacional da Áustria.






Foi a partir deste material que o musicólogo americano Philip Gossett conseguiu, aparentemente, reconstituir a partitura de "Il Viaggio a Reims", tendo sido finalmente encenada  no Festival de Pesaro, (Auditorium Pedrotti), quase 160 anos após sua estreia e posterior desaparecimento, no dia 18 de agosto de 1984, com a direção de Claudio Abbado e, tal  como no tempo de Rossini, com uma verdadeira constelação de estrelas: Cecília Gasdia, Lucia Valentini-Terrani, Katia Ricciarelli, Lella Cuberli, Ruggero Raimondi, Dalmacio Gonzalez,  Francisco Araiza, Samuel Ramey, Enzo Dara, Leo Nucci; Giorgio Surjan; William Mateuzzi, Bernadette Manca di Nissa, Raquel Pierotti e Antonella Bandelli entre outros.

Outras performances se seguiram. A estréia americana foi dada em 14 de Junho de 1986 pelo Teatro de Ópera de Saint Louis , no Teatro Loretto-Hilton em St. Louis, Missouri ,  dirigido por Colin Graham e conduzido por Richard Buckley.





Em 1992, a Royal Opera, Londres deu várias performances: realizado por Carlo Rizzi , e o elenco incluiu Montserrat Caballe , Renée Fleming , Sylvia McNair , John Aler e Andrew  Shore .

Em Helsínquia , em 9 de janeiro de 2003, a ópera foi dirigido por Dario Fo e conduzida por Pietro Rizzo. Em novembro de 2005 houve outra produção em Monte Carlo , com um  elenco que inclui June Anderson , Raúl Gimenez, Rockwell Blake , e Ruggero Raimondi .

O Wiener Staatsoper produziu a ópera em seu Festival Rossini conduzida por Claudio Abbado, com Monserrat Caballé e novamente Ruggero Raimondi. O Kirov Opera executou no  Kennedy Center , em Washington, em janeiro de 2007.





O trabalho foi produzido em Tel Aviv pela Israel Opera em novembro de 2007. A estréia africana foi apresentada pela Universidade de Cape Town, em colaboração com Cape Town  Opera em 2010. A estreia da América do Sul foi apresentada pelo Teatro Argentino de La Plata, Argentina, em 2011.

Durante a temporada 2011/12, as produções mais recentes foram dadas pelo Vlaamse Opera em Antuérpia, em dezembro, onde a ação ocorreu dentro de um jato jumbo,  e no  Teatro Comunale de Florença, em janeiro, onde a ação foi encenado em um spa de luxo início do século 20.


Pelo que se sabe, a ópera original de Rossini tinha uma duração de 3 horas. Uma ópera de apenas um ato com uma duração de três horas! A versão de 1984, baseada na partitura  publicada em 1983, dura, aproximadamente, duas horas e pouco.





Personagens:



Madame Cortese, uma tirolesa dona do hotel  - soprano

Contessa di Folleville, uma moderna jovem viúva - soprano

Corinna, uma famosa poetiza romana  - soprano

Marchesa Melibea, a viúva polonesa de um general italiano morto na noite de núpcias contralto

Conte di Libenskof, general russo em amor com Marchesa Melibea tenor

Chevalier Belfiore, belo jovem oficial francês e pintor nos tempos livres tenor

Senhor Sidney, coronel inglês secretamente apaixonado por Corinna baixo

Don Alvaro, almirante espanhol apaixonado pela Marchesa Melibea baixo

Barone di Trombonok, major alemão e amante de música baixo

Don Profondo, estudioso e amante de antiguidades, amigo de Corinna baixo

Don Prudenzio, médico do spa  - baixo

Modestina, camareira do Contessa di Folleville meio-soprano

Don Luigino, primo do Contessa di Folleville tenor

Maddalena, governanta hotel da Normandia meio-soprano

Antonio, maître d'hotel barítono

Zeferino, mensageiro tenor

Jasmine,  manobrista tenor

Delia, menina grega jovem que está viajando, companheira de Corinna soprano

Quatro jogadores passeando, coro de compatriotas e mulheres, jardineiros, funcionários do hotel, bailarinos, funcionários




Sinopse

Local: Hotel Lys d'Or, spa do hotel em Plombières-les-Bains , na França
Época: 1825


Resumo
No hotel Lys d'Or, na pequena estação termal de Plombières, encontra-se um grupo cosmopolita de viajantes foliões, personagens importantes na sua grande maioria, a caminho  de Reims onde esperam assistir à coroação de Carlos X. Sob o olhar vigilante de Mme. Cortèse, a proprietária do estabelecimento, atenta em manter a boa reputação ao lisonjear as  manias de cada um, estes hóspedes excepcionais tentam estabelecer intrigas amorosas e são os atores ou as vítimas de uma série de incidentes trágico-cômicos.





Cena 1 - Numa sala espaçosa do hotel Lys d'Or, com várias portas, Maddalena, a governanta do hotel, exorta os criados a cumprirem com mais ligeireza e eficiência suas obrigações  uma vez que os hóspedes se preparam para partirem para Reims.

Cena 2 - Entra Don Prudencio, o médico. Comenta que os hóspedes, graças aos seus cuidados estão muito melhor do que quando chegaram. Os empregados não vêem a hora da  partida deste grupo para finalmente poderem descançar.

Cena 3 - Entra a Sra. Cortese a dona tirolesa do estabelecimento. Recomenda aos criados que atendam sempre cada hóspede de acordo com seu capricho para que, felizes, levem  boas recordações do hotel. Numa única frase consegue retratar cada hóspede, cada qual com suas características.

Cena 4 - A Sra. Cortese suspira. Gostaria também de ir a Reims mas deve esperar o regresso do marido. Entra a Contessa di Folleville, elegantíssima francesa. Ela vem à procura da  sua criada Modestina. Quando a Sra. Cortese se prepara para ir buscá-la, a criada da Condessa di Folleville entra. Trocam algumas palavras e a criada sai.

Cena 5 - Chega Luigino, primo de Folleville. Ele anuncia que a diligência que trazia a bagagem da condessa teve um acidente e todo o seu conteúdo se perdeu. Folleville desmaia e  Luigino pede socorro.






Cena 6 - Acode o Barão de Trombonok - alemão louco por música - ele e Luigino tentam reanimar Folleville. Chega o médico Don Prudêncio que toma as rédeas da situação.  Folleville acorda destroçada.

Cena 7 - Estão todos em volta de Folleville quando chega Modestina com uma grande caixa contendo um chapéu magnifico, última moda. A Contessa rejubila. Agradece a Deus o  chapéu que se salvou.

Cena 8 - O Barão Trombonok dá ordens a Antonio, o mordomo, para que prepare as carruagens para a viagem noturna do grupo. Trombonok parece ter sido nomeado pelo grupo  de viajantes para ser tesoureiro e encarregado dos preparativos da viagem.

Cena 9 - Entram Don Profondo, suíço - apaixonado por antiguidades - e Don Álvaro, - oficial de marinha espanhol - Don Profondo entrega a Trombonok a sua parte do dinheiro para  a viagem e comenta ter encontrado, ali por perto, uma valiosa coleção de antiguidades. Don Álvaro apresenta Malibea, uma jovem viúva polaca pela qual está apaixonado.  Malibea agradece e diz que será um prazer viajar com eles.

Cena 10 - Aparece o Conte de Libenskof - general russo também apaixonado por Malibea. Quando ouve as suas últimas palavras fica louco de ciúmes.Os dois homens olham-se com  ódio. Finalmente, tudo parece estar pronto para a partida, só falta a volta do mensageiro que deverá trazer os cavalos para as carruagens.






Cena 11 - A Sra. Cortese entra. Está preocupada com a demora do mensageiro que não chega com os cavalos. Do outro lado da sala Libenskof discute com Melibea acusando-a de  traição e provoca Don Álvaro para um duelo. Eis que são interrompidos pelo som da harpa e o canto de Corina, a improvisadora, invisível, atrás da porta de um dos quartos. No  final todos saem menos a Sra. Cortese.

Cena 12 - A Sra. Cortese está só e vê entrar Lord Sidney - Coronel inglês - muito pensativo. Nervosa, comenta para si que o mensageiro não voltou ainda e observa também o amor  de Sidney por Corina, que ela intui retribuído. Enquanto isto, Sidney lamenta sua paixão não correspondida. Entram os criados. Eles carregam flores que colocam em frente à porta do  quarto de Corina.

Cena 13 - Os criados saem e entra Don Profondo que pergunta a Sidney sobre objetos de arte ingleses. Sidney responde que não sabe e melhor seria que se dirigisse a um museu.

Cena 14 - Corina sai do quarto seguida pela sua harpista grega, Delia. Corina e Profondo são amigos e cumprimentam-se. Ele entrega-lhe uma carta que ela lê e depois sai para  verificar os preparativos da viagem. Delia também sai e Corina admira as flores à sua porta, colhe uma e a prende ao peito.





Cena 15 - Chega o Cavalier Belfiore - oficial francês que corteja todas as mulheres, sobretudo Folleville. Ao ver Corina sozinha pensa que chegou o momento para cortejá-la.  Primeiro tenta suscitar sua curiosidade, depois elogia-a, finalmente ajoelha-se aos seus pés declarando-se. Ela repele-o e ameaça chamar por ajuda. Ele sai pensando que ela está  apenas a fazer-se de difícil.

Don Profondo que assistira à cena escondido, entra na sala seguido de criados que carregam uma mesa, papel e material para escrever. Depois senta-se. A pedido do Barão  Trombonok, diz ele, encarregado pelo grupo da organização da viagem, faz a relação dos pertences de cada um dos viajantes.

Cena 16 - Entra Folleville e pergunta a Don Profondo se viu Belfiore e com quem estava. Ele responde de maneira vaga e ela fica furiosa.

Cena 17 - Entra Don Álvaro e depois Libenskof. Todos comentam a iminente partida. Chega também Trombonok anunciando que, finalmente, o mensageiro apareceu e as notícias  não são boas. Manda um criado chamar os demais viajantes.

Cena 18 - Todos os hóspedes estão reunidos e também o mensageiro, Zefirino ao qual Trombonok cede a palavra. Resumindo, diz que foi a muitos lugares e, infelizmente, em toda  a redondeza não há um só cavalo para comprar ou alugar e eles devem renunciar à viagem.

Cena 19 - Chega a Sra. Cortese com uma carta na mão. É do marido que está em Paris. Solicita a Profondo que a leia em voz alta: "Após a coroação em Reims, o Rei irá a Paris onde  acontecerão grandes festejos". Imediatamente, Folleville, que mora em Paris, oferece a todos sua casa. Decidem partir. Mas como? Pela diligência que passa todos os dias em La  Plombières a caminho de Paris. Sairão no dia seguinte e com o dinheiro arrecado para ir a Reims darão, naquela mesma noite, uma grande festa na pousada.

Cena 20 - Madama Cortese chama Antonio, o mordomo e Gelsomino, o camareiro, e ordena que preparem tudo para uma festa no jardim.





Cena 21 - Saem todos, ficam só Trombonok, Malibea e Libenskof. O primeiro tenta propiciar um entendimento entre os apaixonados e exorta-os à compreensão e ao perdão.

Cena 22 - Quando Trombonok se retira, os dois iniciam um diálogo no qual são solicitadas explicações, que terminam numa série de declarações amorosas.

Cena 23 - No jardim iluminado, criados estão agitados. No centro há uma grande mesa e Antonio e Gelsomino terminam os preparativos para a reunião. Gelsomino vai chamar os  convidados.

Cena 24 - Entra Maddalena e comenta com Antonio como será linda a festa. Os habitantes do vilarejo e os camponeses foram convidados, haverá cantos e danças. A música  estará a cargo de um grupo de músicos ambulantes que está nos arredores.

Cena 25 - Começa então a última parte da ópera. No jardim da pousada brilhantemente iluminado entram os ambulantes: músicos, cantores, bailarinos seguidos de camponeses,  trabalhadores, empregados da hospedaria e habitantes de Plombières.





Todos os hóspedes principais, vestidos com suas roupas de gala, são sentados à mesa.

O entretenimento fica a cargo do grupo de ambulantes, há música, uma dança e finalmente um coro. Finalizado o coro, o Barão de Trombonok propõe uma rodada de brindes à  família real e à futura harmonia europeia, feitos por cada um dos presentes, cada um ao estilo do seu país.

• É o alemão Trombonok que inicia. Canta sobre uma melodia de Haydn e é ecoado pelo coro. Trombonok encarregado de fazer a chamada, convoca Malibea.

• Malibea, polaca, canta uma polonaise;

• Libenskof, russo, interpreta um hino russo;

• Don Álvaro, espanhol, uma canção espanhola;

• Lord Sidney, inglês, anuncia que não tem jeito para música e só sabe cantar uma coisa "God save the King" do qual oferece uma versão muito particular.

• Belfiore e Folleville, franceses, cantam em uníssono, uma canção francesa;

• A Senhora Cortese e Don Profondo, suíços, entoam um canto tirolês.

Só falta Corina que é convidada a improvisar. Ela pede ao grupo que escolha um tema e depois a chame. Sai. São distribuídos lápis e papeis e cada um escolhe um tema que é  entregue a Don Profondo que o lê em voz alta: Clóvis, Joana d´Arc, São Luis, Carlos X etc... Os votos são depositados numa urna e Malibea faz o sorteio. Sai "Carlos X, Rei da  França". Corina é informada, concentra-se e começa o belo improviso. Aparecem, iluminados, os retratos da família real e a ópera termina com vivas ao novo soberano ecoados por  todos os presentes.





                                             Rachel Durkin (Corinna) and company - Il viaggio a Reims COT May 2004


Gravações:



1984 Cecilia Gasdia, Lucia Valentini-Terrani, Lella Cuberli,
Katia Ricciarelli , Eduardo Giménez, Francisco Araiza, Samuel Ramey , Ruggero Raimondi , Enzo Dara, Leo Nucci , Giorgio Surjan, Oslavio Di Credico, Raquel Pierotti, Antonella  Bandelli, Bernadette Manca Di Nissa, Luigi De Corato, Ernesto Gavazzi, William Matteuzzi
Claudio Abbado , Orquestra de Câmara da Europa e Prague Philharmonic Chorus, Gravado no Festival Rossini , em Pesaro


1992 Sylvia McNair, Lucia Valentini-Terrani, Luciana Serra ,
Cheryl Studer , Raúl Giménez, William Matteuzzi,
Samuel Ramey, Ruggero Raimondi, Enzo Dara,
Lucio Gallo, Giorgio Surjan, Guglielmo Mattei,
Claudio Abbado, Orquestra Filarmônica de Berlim e Rundfunkchor Berlim


2003 Elena de la Merced, Paula Rasmussen, Mariola Cantarero,
María Bayo, José Bros, Kenneth Tarver,
Simón Orfila, Nicola Ulivieri, Enzo Dara,
Àngel Òdena, Stephen Morschek, José (Josep), Ruiz
Jesús López-Cobos ,
Orquestra de e Chorus de Gran Teatre del Liceu , Barcelona DVD: TDK,

2005 Irma Guigolachvili, Anna Kiknadze, Larissa Youdina,
Anastasia Belyaeva, Dmitri Voropaev, Daniil Shtoda,
Edouard Tsanga, Nikolaï Kamenski, Vladislav Ouspenski,
Alexeï Safiouline Alexei Tannovistski, Andreï Iliouchnikov,
Elena Sommer, (não nomeada), Olga Kitchenko,
Pavel Chmoulevitch, (não nomeada), (não nomeada)
Valery Gergiev ,
Orquestra e Coro do Teatro Mariinsky , São Petersburgo , cantores wirh da Academia de Jovens Cantores do Teatro Mariinsky.
(gravação de uma apresentação no Théâtre du Châtelet , em Paris, em dezembro)
                   











 

No post seguinte, serão as últimas óperas de Rossini.



Levic

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