segunda-feira, 18 de abril de 2011

89- Inglaterra - séc.XX 9- Britten 6ª parte

O período que Britten dedicou-se às parábolas foi resultado do sucesso de Noye's Fludde, também para serem executadas em igrejas. As tres parábolas - Curlew River, The Burning Fiery Furnace e The Prodigal Son - evidenciam uma nova concisão, com obras pouco mais de uma hora e uma certa economia de meios, pois só precisavam de 20 cantores e orquestra de câmara de sete ou oito músicos. É interessante notar que essas parábolas aconteceram numa fase crítica da trajetória criativa do compositor, provocada por anos consecutivos da aclamação do público, chegando ao auge com a consagração de War Requiem. Foi tão difícil digerir a fama quanto o período anterior em que suas obras não encontravam repercussão.

Curlew River nasceu de sua empolgação com o teatro nô japonês, que lhe causou enorme impressão quando da sua viagem ao Extremo Oriente e Tóquio, em 1956. Sete anos depois, ele pede a William Plomer que transformasse a peça nô "Sumidakawa" numa Primeira Parábola de Execução em Igreja, e esta peça vai servir de referência para a concepção de toda a série. O enredo e o clima evocativo foram preservados, mas a ambientação japonesa deu lugar a uma versão moderna do drama litúrgico da Idade Média inglesa, com música baseada no canto gregoriano. A fórmula teve tal êxito que as parábolas subsequentes se desenrolam da mesma forma: uma procissão no início da peça e cujos integrantes, todos homens, interpretam todos os persoangens, masculinos e femininos.

Curlew River(O Rio dos Maçaricos), com libreto de William Plomer, estreia em Aldeburgh, em 1964, na igreja de Oxford. De maneira geral o enredo não se afasta muito do nô japonês Sumidakawa, como transparece na descrição da peça feita em seu diário pelo príncipe de Hesse e do Reno,que acompanhou Britten a Toquio. O barqueiro espera em seu barco , quando chega um viajante dizendo que logo a seguir virá uma mulher louca. O barqueiro não quer transportar uma mulher nessas condições, mas acaba cedendo. Durante a viagem da travessia do rio, o barqueiro conta a história de um menino que percorreu este mesmo caminho, quando estava muito cansado pois havia escapado de um bando de assaltantes. Atravesssou o rio, mas morreu de exaustão na outra margem. A mulher começou a chorar: era o seu filho. Entristecido, o barqueiro a conduz até o túmulo do menino. A mãe é representada por um homen alto vestido de mulher, com uma pequena máscara feminina no rosto. Diferentes acessórios cênicos contribuem para a compreensão do que se passa. A ópera conclui com um coro.



The Burning Fiery Furnace ( A Fornalha Ardente) é uma parábola com o mesmo libretista anterior, de 1966. A história foi extraida do Velho Testamento, tendo como tema central a resistência à tirania.

Na Babilônia, no séc. VI a.C., três jovens israelitas foram feitos prisioneiros. A conselho de Daniel são designados pelo rei Nabucodonosor para governar três províncias, tendo seus nomes mudados para as formas babilônicas de Shadrach, Meshach e Abednego. Num festim, eles se recusam a renegar a fé de seus ancestrais, comendo e bebendo com os cortesãos, e o astrólogo convence o rei de que se trata de um insulto à nação e a sua fé. O arauto anuncia que todos deverão reverenciar a grande imagem de ouro do deus babilônico Merodak, quando for ouvida a música real, mas os tres recusam-se a adorá-la. Por ordem de Nabucodonosor, uma fornalha é preparada para a execução dos três, que nela são atirados, mas um anjo junta-se a eles, que com sua fé são protegidos das chamas. Quando ressurgem intactos, o rei repudia o astrólogo e se converte à fé dos estrangeiros.

The Prodigal Son (O Filho Pródigo), extraida do Novo Testamento, conta a história de uma família constituida pelo pai, o filho mais velho, o filho mais novo e seus criados, que vivem do fruto do seu trabalho na terra. Quando o filho mais velho e o pai vão trabalhar no campo, o filho mais moço ouve uma voz que o tenta com prazeres desconhecidos, seus desejos mais secretos. Ele, então, pede a sua parte da herança e a obtem, partindo para uma viagem, mas na cidade os parasitas o espoliam e ele fica só e sem dinheiro. Junta-se a um grupo de mendigos, compartilhando sua vida miserável, e então decide voltar para casa e pedir perdão ao pai. É recebido com júbilo, mata-se um bezerro gordo para uma grande refeição. Mesmo o filho mais velho sentindo ciúme, acaba compreendendo o pai e se reconcilia com o irmão.

Esta parábola foi feita em 1968, com sua estreia no Festival de Aldeburgh.



Levic

Um comentário:

  1. Estou lendo bastante sobre ópera e o seu blog tem sido essencial! Mais uma vez, parabéns pelo belo trabalho!

    ResponderExcluir