sábado, 28 de maio de 2011

95- A mudança na montagem das óperas

Nada vem solto, caido sem uma história. A ópera nos seus moldes tradicionais de apresentação também teve suas inovações e modernidades, que contribuiram para dar um novo espetáculo, e deixar suas influências no curso da apreciação de óperas. Para tal, gostaria de transcrever o texto de Arthur Torelly Franco
torelly@polors.com.br, onde explana sobre Otto Klemperer e a Krolloper

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"O movimento modernista, responsável pelas mudanças no estilo de montagem das óperas a partir do século XX, teve origem na Berlin Krolloper. Ela foi construída em 1844, pelo empresário Josef Kroll, com o objetivo de apresentar peças populares a preços acessíveis aos trabalhadores. A partir de 1850, o teatro passou a ser o preferido das companhias de óperas, devido a sua acústica primorosa e ao palco de enormes dimensões. Performances inesquecíveis passaram a acontecer na Ópera Kroll, local de estréia das principais obras de Albert Lortzing, como Zar e Zimmermann e Undine.

Em 1927, a Krolloper tornou-se um dos maiores centros de divulgação de música moderna, bem como de novas técnicas de produção cênica. Numa visão de futuro, o Ministro da Cultura da Prússia indicou Otto Klemperer (1885-1973), como diretor musical do teatro da avenida Unter den Linden. Este homem viria a transformar a Ópera Kroll na mais destacada companhia experimental da época.

Klemperer tinha sido discípulo e amigo de Gustav Mahler e já era um conceituado profissional. Sua trajetória artística o levara à direção do Neues Theater de Berlim, do Deutsches Landestheater de Praga e das Óperas de Strasbourg, Colônia e Wiesbaden. Junto com Bruno Walter, Erich Kleiber e Max Reinhardt o regente pertenceu à última geração de maestros de elite da Alemanha, dissolvida quando da ascensão dos nazistas ao poder.

Otto Klemperer era uma autoridade na interpretação de Beethoven, Brahms e Bruckner, sendo um verdadeiro gênio na condução da obra de Mahler. Em 1921, recusou a nomeação para a direção musical da Ópera de Berlim, pois sabia que jamais teria autonomia artística. Ao assumir a Ópera Kroll, ele recebeu liberdade total para estabelecer suas metas de trabalho, que eram: apresentar música contemporânea além do repertório tradicional, e inovação nas artes cênicas. Foi estabelecida uma companhia permanente de óperas que iria romper com o estilo naturalista das produções do século XIX.

Uma de suas primeiras medidas foi contratar Alexander Zemlinski e Fritz Zweig como assistentes de regência, e os artistas Ewald Dülberg e Oskar Schlemmer, radicais na arte da cenografia. Estes ganharam seu primeiro desafio, ao serem incumbidos de produzir uma nova montagem para a ópera Fidélio, de Beethoven. Após três meses de ensaios, o espetáculo foi encenado causando forte repercussão junto ao público e na imprensa especializada. Apesar dos solistas e orquestra terem apresentado uma performance impecável, a crítica ficou chocada com o estilo abstrato da montagem. Klemperer respondeu que Fidélio havia sido apenas o primeiro passo no caminho das inovações que estavam por acontecer.

O público de Berlim passou a assistir a arrojadas produções de óperas. Marva, Oedipus Rex e Petrushka de Stravinski, Cardillac e Neues von Tage de Hindemith, Erwartung e Die Glückliche Hand de Schoenberg, Royal Palace de Weill e Da Casa dos Mortos de Janácek foram alguns dos sucessos que tornaram o trabalho de Klemperer e sua equipe em referência internacional.

Apesar de todo o impacto causado por esses espetáculos, a mais radical das produções da Krolloper foi a montagem da ópera "Die Fliegende Holländer", de Richard Wagner, levada ao palco em 15 de janeiro de 1929. A reação dos conservadores, guardiões das tradições germânicas, foi avassaladora. O tradicional jornal Allgemeine Musikleitung não poupou críticas, comparando o personagem do Holandês a um agitador bolchevista e Senta a uma megera comunista. A inovadora mise-en-cène estilizada do Der Fliegende Holländer, foi a precursora da revolução cênica implantada por Wieland Wagner no Teatro dos Festivais de Bayreuth, a partir de 1951."

As mudanças sempre causam resistência, mas não há como evitá-las para o próprio crescimento de um gênero artísitico. A ópera hoje não dispensa os recursos teatrais tão necessários em uma montagem, onde as vozes são tão importantes quanto o trabalho do diretor de palco.

Levic

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