domingo, 21 de março de 2010

20- Beethoven - A era romântica





Teatro de Viena, onde Fidelio estreou

O século XVIII termina e daí surge um novo público. Já em 1760, J. C. Bach (filho de Bach) funda em Londres a primeira empresa para organizar concertos públicos. Paris, Viena e Berlim seguem o mesmo caminho. A Igreja, a corte monárquica e o palácio do aristocrata perdem a função de mecenas que encomenda obras ao artista.

No século XIX, o compositor enfrenta o público, que não encomendou nada, mas que espera, apenas, algo de novo. Este novo público é a burguesia.

A Revolução Francesa (1789) serviria como data para iniciar essas mudanças. Beethoven ainda vive no ambiente aristocrático de Viena. Sua mudança só começou depois de 1814, ano do Congresso de Viena, que marca o fim das monarquias aristocráticas.
O século XIX marca o passo mais gigantesco para a ópera e o surgimento dos maiores compositores musicais, cujas obras continuam mantendo seu lugar nos mais variados teatros do mundo inteiro.

Na Alemanha surge o nome de Ludwig van Beethoven (1770-1827), que em 1814, ano do Congresso de Viena, já é reconhecido como o maior compositor do século. Em suas mãos, a sonata passa a ser, em alguns casos, veículo da expressão de todas as emoções possíveis. Suas dez aberturas são como um resumo de seu estilo musical, bem como das emoções e sentimentos que exprimiu em obras mais extensas.

Beethoven não costuma figurar nos compêndios de ópera com muito destaque porque só escreveu uma que foi "Fidelio", em 1804, apesar de revisada várias vezes, e não é o melhor exemplo de sua grandeza musical. O seu respeito se deve mais à sua imensa contribuição para as artes, como a grandiosidade de suas sinfonias.

Mas Beethoven tem um grande mérito na história da ópera. Foi o primeiro grande compositor que não precisou dela para alcançar projeção e fama, o que indica mudança de ares no gosto estético pré-romântico.

A ópera "Fidélio" conta a história de Florestan. Um aristocrata espanhol que é alvo de inimizade de Pizarro, governador de uma aldeia medieval que abriga presos políticos.Tendo capturado Florestan, Pizarro aprisiona-o numa fria masmorra, alegando que ele está morto. Sua mulher, Leonora sabe que isto é mentira e corre para salvar o marido. Ela , então, se disfarsa em homem e toma o nome de Fidéliio , para se empregar como auxiliar do carcereiro chefe da prisão.Fidelio conquista a amizade de Rocco(o carcereiro) e de sua filha Marcellina que se interessa por Fidelio. Mas é um drama com final feliz. Beethoven entusiasmou-se pela história de Jean Nicolas Boilly. O libreto é de Joseph Sonnleithner e Georg Fruedrich Treitschke. Sua estreia foi em Viena em 1805.

A cena da masmorra cantada por Jon Vickers está comovente, não acha? Vê abaixo:


A mesma cena cantada por James King( já faelcido). Não sei qual é a melhor. As duas para você escolher:



Agora, um quarteto canta um trecho da ópera:









1- FIDELIO


Fidelio, Op. 72b, é um Singspiel em dois atos, de Ludwig van Beethoven, com libretto de Joseph Sonnleithner e Georg Friedrich Treitschke, a partir do libretto de Léonore ou L’Amour Conjugal, peça em "prosa entremeada de canto" (1798), de Jean-Nicolas Bouilly, que, por sua vez, baseou-se em fatos ocorridos na França, durante o período do Terror, aos quais o autor (na época promotor público do Tribunal Revolucionário de Tours) se refere nas suas memórias.




Fidelio é a única obra teatral de Beethoven, que a compôs no ápice da sua maturidade artística. Mas a primeira versão, apresentada em 20 de novembro de 1805 no Theater an der Wien (Viena), com o título Fidelio, oder die eheliche Liebe (Op. 72), não teve recepção favorável do público, e Beethoven foi obrigado a suspender as apresentações.
Grande parte desse insucesso da estreia foi creditado à longa duração da ópera (três atos), mas também ao momento histórico tumultuado vivido então pela cidade de Viena, que, naqueles dias, havia sido invadida pelo exército napoleônico. Havia um clima de temor generalizado, e, na plateia, muitos dos espectadores eram militares franceses. Ademais, embora a ação se situasse em Sevilha, no fim do século XVIII, o tema da obra - a luta contra a tirania e a afirmação da liberdade e da justiça - certamente evocava a situação dos vienenses naquele momento.




Beethoven foi acusado de não saber escrever para as vozes, de tratá-las indistintamente como instrumentos e de ser pouco familiarizado com o gênero teatral. Apesar das duras críticas recebidas, o compositor arranjou uma nova versão em apenas dois atos, utilizando-se de um libretto revisto por seu amigo Stephan von Breuning. A obra foi reapresentada no ano seguinte (26 de março de 1806) com o título de Leonore (Op. 72a), mas não teve melhor sorte, sendo novamente retirada.
Só oito anos depois (1814), por solicitação do Theater am Kärntnertor, Beethoven voltou a trabalhar sobre Fidelio, com a colaboração do jovem Georg Friedrich Treitschke, que corrigiu uma vez mais o libretto, no sentido de melhorá-lo do ponto de vista teatral. A versão definitiva foi apresentada naquele mesmo ano, no dia 23 de maio. O sinal mais evidente do longo trabalho de composição são as quatro aberturas escritas por Beethoven para o Singspiel: duas compostas em 1804, uma em 1805 e a definitiva, feita em 1814.





O enredo de Jean-Nicolas Bouilly encaixa na estética e na perspectiva política de Beethoven: uma história de sacrifício pessoal, heroísmo e eventual triunfo (os temas habituais do "meio período" de Beethoven), com sua luta subjacente para a liberdade e a justiça espelhando os movimentos políticos contemporâneos da Europa do século XIX. Como em toda a música vocal de Beethoven, a música não é especialmente boa para os cantores. As principais partes da Leonore e Florestan, em particular, exigem grande habilidade vocal e resistência, a fim de projetar a intensidade necessária, e maiores performances nesses papéis atraem admiração.





Alguns momentos notáveis ​​na ópera incluem o "Prisoners' Chorus ", uma ode à liberdade cantada por um coro de prisioneiros políticos, a visão de Florestan de Lenore vindo como um anjo para resgatá-lo, e a cena em que o resgate finalmente acontece. O finale celebra a bravura de Leonore com contribuições de solistas e coro. Beethoven se esforçou para produzir uma abertura apropriada para Fidelio, e, finalmente, passou por quatro versões. Sua primeira tentativa, para a estréia de 1805, acredita-se ter sido a proposta agora conhecida como "Leonore No. 2". Beethoven, em seguida, concentrou esta versão para os desempenhos de 1806, a criação de "Leonore No. 3". Este último é considerado por muitos ouvintes como a maior dos quatro aberturas, com um movimento sinfônico intensamente dramático que teve o efeito de sobrecarregar as cenas iniciais da ópera.




Beethoven experimentou cortá-la um pouco, para um desempenho planejado em Praga em 1808, o que se acredita ser a versão agora chamado de "Leonore No. 1". Finalmente, para o revival de 1814 Beethoven começou de novo, e escreveu o que hoje conhecemos como a abertura Fidelio. Como esta proposta um pouco mais leve parece funcionar como a melhor das quatro, como um começo para a ópera, as intenções finais de Beethoven são geralmente respeitadas em produções contemporâneas. Gustav Mahler introduziu a prática, comum até meados do século XX, de realizar "Leonore No. 3" entre as duas cenas do segundo ato. Assim, atua como uma espécie de reprise musical da cena de resgate que acaba de ter lugar. A nova produção, de estilo moderno que estreou em Budapeste, em outubro de 2008, por exemplo, apresenta a "Leonore No. 3".




Personagens Don Fernando, (Ministro de Estado) baixo Don Pizarro, (Governador da Prisão) baixo Florestan, (Esposo de Leonore, prisioneiro político) tenor Leonore, (Esposa de Florestan, mas disfarçada de Fidélio) soprano Rocco, (Carcereiro-Chefe) baixo Marzelline, (filha de Rocco) soprano Jaquino, (Porteiro da prisão) tenor



Sinopse Local: A prisão do Estado espanhol, a poucos quilômetros de Sevilha Época: Final do século 18 Sinopse Dois anos antes da cena de abertura, o nobre Florestan expôs ou tentou expor certos crimes do nobre Pizarro. Em vingança, Pizarro secretamente prende Florestan na prisão em que ele é o governador. O carcereiro da prisão, Rocco, tem uma filha, Marzelline, e um servo (ou assistente), Jaquino. A esposa de Florestan, Leonore, veio até a porta de Rocco vestida como um homem à procura de emprego, e Rocco o contratou. Por ordem, Rocco vem dando a Florestan pequenas rações, diminuindo até que ele está quase morto de fome.



Ato I No pátio do presídio. Marzelline, filha do carcereiro-chefe Rocco, engoma à porta da casa de seu pai, enquanto sonha com a felicidade de viver junto do homem que ama. Chega Jaquino, porteiro da prisão, que aproveita o seu encontro a sós com a moça para pedi-la em casamento. Porém, Marzelline não demonstra o menor interesse às suas intenções amorosas: apesar de estar prometida a Jaquino, ama na verdade Fidelio, um jovem que é há pouco tempo é ajudante de Rocco. Entra em cena Rocco, seguido de Fidelio, que carrega as correntes consertadas pelo ferreiro.



Fidelio é, na verdade, a jovem mulher do nobre espanhol Florestan. Sob a aparência masculina, Leonore infiltrou-se na prisão para investigar se o seu marido desaparecido está escondido na prisão. Florestan poderá ter sido preso injustamente pelo seu inimigo, Don Pizarro, governador da prisão. Dadas as circunstancias, Leonore, que também aos olhos de Rocco é preferível a Jaquino como futuro marido de Marzelline, vê-se obrigada a aceitar o afeto da filha do carcereiro-chefe para não levantar suspeitas sobre sua identidade.

Num quarteto, os quatro personagens expressam os seus diferentes sentimentos: Marzelline e Rocco, manifestam o seu desejo de um futuro casamento entre a jovem e Fidelio; Leonore declara a sua angústia pelo marido e a sua preocupação perante a paixão que despertou em Marzelline; Jaquino, por sua vez, apercebe-se que o coração da sua namorada se encontra cada vez mais longe de si e sai de cena. Rocco revela a Marzelline e a Fidelio o seu desejo de um rápido casamento entre ambos e, em seguida, declara a sua fé na importância do dinheiro como elemento de estabilidade num casal.


Mas Fidelio acrescenta uma circunstância que será igualmente vital para a sua própria felicidade: que Rocco permita que o ajude nas suas tarefas mais árduas, pois tem a secreta esperança de poder entrar nas masmorras e lá encontrar o seu marido. O carcereiro-chefe fala-lhe então de um prisioneiro desconhecido que, por ordem do governador da prisão, está sendo alimentado somente com pão e água. Leonore, angustiada perante a possibilidade de que o torturado seja o seu marido desaparecido, insiste no seu pedido e convence, finalmente, o carcereiro-chefe a pedir permissão ao governador para que possa acompanhá-lo às masmorras.

Uma marcha anuncia a entrada de Don Pizarro. Os guardas abrem a porta ao governador, que surge em cena acompanhado por vários oficiais. À sua chegada, Pizarro recebe a notícia da intenção do ministro de investigar a situação dos prisioneiros do Estado, presos na fortaleza, em razão dos rumores de que estariam vivendo condições desumanas. Alarmado pela possibilidade de descoberta da sua crueldade para com os prisioneiros, o governador ordena a um oficial que o avise quando avistar o ministro ao chegar: que toque a trombeta com um sinal. Em seguida, paga a Rocco para que ele cave uma fossa na cisterna para Florestan, a quem, para além de cavar a fossa, Rocco terá também que assassinar. Contudo, o carcereiro-chefe Rocco nega-se a fazer o papel de carrasco. 



Diante da recusa, Pizarro comunica-lhe da sua intenção de se disfarçar e, ele próprio, assassinar Florestan. Ambos homens abandonam a cena, e entra Leonore, que amaldiçoa com raiva o cruel e tirano governador e, em seguida, sai para o jardim. Surge Marzelline, seguida de Jaquino. Este se queixa ao carcereiro-chefe das evasivas de sua filha. 



Chega então Leonore, que pede permissão a Rocco para que os prisioneiros saiam para o jardim, a fim de tomar um banho de sol, aproveitando a ausência do governador. O carcereiro-chefe decide atender o pedido de seu "genro": Leonore e Jaquino abrem as portas das celas e, lentamente, surgem o pobres prisioneiros, que expressam a sua felicidade e agradecimento pelo favor que foi lhes concedido.




Após o coro dos prisioneiros, Rocco diz a Leonore que ela poderá acompanhá-lo às masmorras para ajudá-lo. Diz também que consente na celebração do seu casamento com Marzelline. Finalmente, acrescenta que Leonore deve acompanhá-lo à cisterna para que o ajude a cavar a cova do prisioneiro desconhecido, que será assassinado pelo próprio Pizarro. Leonore, visivelmente aflita, aceita a tarefa de modo a aproximar- se daquele que poderá ser o seu marido. Entram subitamente Marzelline e Jaquino.




A moça avisa ao seu pai de que o governador ficou com muita raiva ao tomar conhecimento de que os prisioneiros foram libertados da prisão para o jardim. Surge Don Pizarro, enfurecido, acompanhado por vários oficiais e guardas. Rocco consegue acalmá-lo, explicando-lhe que tal favor se devera ao fato de, neste dia, celebrar-se o aniversário do rei. Os presos voltam, desolados, para suas celas, e Pizarro ordena ao carcereiro-chefe que cumpra imediatamente a tarefa que lhe fora ordenada. Fim do 1º Ato.






Ato II Numa masmorra subterrânea e sombria. Florestan, preso, lamenta o seu amargo destino. Num momento de delírio pensa ver a sua esposa em forma de anjo que o conduz ao descanso eterno. Depois, desolado e esgotado, deita-se sobre um banco de pedra com o rosto entre as mãos. Rocco e Leonore descem com as ferramentas para cavar a cova. Quando chegam à cisterna, encontram o condenado à morte aparentemente imóvel. Apesar de suas tentativas, Leonore não consegue reconhecer o rosto de seu marido e então decide ajudar Rocco a cavar a cova.





Num momento de descanso, Leonore consegue ver o rosto de Florestan, que se reanima por breves instantes. O preso pergunta a Rocco quem é o governador da prisão. Rocco lhe diz que se trata de Don Pizarro. Florestan pede-lhe que procure por Leonore em Sevilha, mas Rocco afirma que não pode lhe conceder o seu desejo, pois seria sua perdição, limitando-se a oferecer-lhe um pouco de vinho. Depois, Leonore oferece com emoção um pedaço de pão ao seu marido, que o consome com rapidez. 




Florestan, profundamente comovido, agradece aos seus carcereiros por suas mostras de solidariedade. Chega em seguida o cruel Don Pizarro, que, oculto por uma capa, está disposto a concluir seu propósito. O governador, tirando um punhal, anuncia a Florestan que vai matá-lo para se vingar dele, que um dia tentara derrubá-lo. Mas, no momento em que vai meter-lhe o punhal, Leonore interpõe-se e revela, perante os três homens surpreendidos, a sua verdadeira identidade.




Soa nesse momento a trompeta que avisa a iminente chegada do ministro de Sevilha. Leonore e Florestan abraçam-se apaixonadamente perante a admiração do malvado Don Pizarro. Surge então Jaquino, acompanhado por vários oficiais e soldados, comunicando a chegada do ministro. O criminoso governador, enfurecido e desesperado perante o seu previsível destino, abandona a cena. No pátio de armas da prisão.





Os prisioneiros e os parentes do presos recebem com alegria o ministro Don Fernando, que anuncia, por ordem do rei, a imediata libertação dos presos políticos. Aparecem, procedentes da cisterna, Rocco, Florestan e Leonore. O carcereiro-chefe reclama justiça para o casal. Don Fernando reconhece o réu, que é o seu amigo Florestan e que pensava estar morto. Rocco dá então a conhecer ao ministro a proeza de Leonore – para visível surpresa de Marzelline – revelando-lhe como o cruel Pizarro queria tirar a vida de Florestan. Don Fernando ordena de imediato a prisão do cruel governador e pede a Leonore que liberte o seu marido das suas injustas correntes. Todos os presentes exaltam o amor e a coragem da mulher, que conseguiu com a sua resolução o triunfo final da justiça.













Até mais!


Levic

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