quarta-feira, 18 de novembro de 2009

01- Por que óperas?




Por que um blog só de óperas? É possível a qualquer pessoa gostar de ópera ou é um gênero musical exclusivo aos apreciadores de música erudita? Ou será que eu sou uma musicista expert nesss assunto, a ponto de mostrá-lo via internet?

Nada disso. Para começar eu diria que o normal seria as pessoas gostarem de música erudita. Não considero que se precise conhecer música a fundo para gostar de ópera. Claro que quem conhece música terá melhores condições de curtir o gênero. Quando criança, e até minha juventude , eu aprendia piano sem ser nenhuma virtuose, mas eu adorava estudar piano. Gostava imensamente de tocar e sempre me fizeram bem ouvir os sons da música dita erudita. Mas não conheço música a ponto de saber se os cantores foram sublimes em suas interpretações, como são os grandes conhecedores críticos das obras operísticas. Gostar ou não de uma interpretação da ópera vai depender de outros elementos que não apenas a música, como o libreto, a encenação e inclusive os aspecto físico dos personagens. Tudo tem o seu lugar.





Este é um ponto interessante, porque como uma ópera é encenada, como num teatro, o aspecto físico dos cantores vai influenciar o nosso empolgamento pela obra, o que não acontece somente ouvindo o CD, por exemplo. Por isso mesmo, às vezes, existe uma preferência em só ouvir a ópera, podendo escolher as vozes mais melodiosas. Ver a protagonista da história como uma criatura feia ou disforme e sua serva lindíssima, fica muito contrastante e até ridículo, porque estamos acostumados a um padrão de estética estabelecido pela elegância de corpo esbelto. Uma Carmen belíssima e extremamente sensual faz a história tomar sentido. Para interpretá-la se exige um "physique du rôle" ou então a ópera perde o sentido.



Por isso se compreende bem a atitude de Richard Strauss ao exigir que a intérprete de sua personagem Salomé ( baseado no livro de Oscar Wilde) fosse uma mulher jovem, linda e sensual para dar credibilidade ao papel. E ele ainda exigiu que ela se apresentasse nua em algumas cenas. Isso faz parte da ópera apresentada modernamente, e não na rigidez dos cantores de épocas passadas.






Apreciar ou não este gênero musical depende da maneira como as óperas foram introduzidas na vida de cada um. Num ambiente de diversos estilos musicais, e tendo uma pessoa explicando as passagens do enredo musical, faz o iniciador apreciar e entender a sua força emocional. Entretanto, independente disso, em sua maioria, os admiradores dessa bela arte costumam ser pessoas românticas, apaixonadas, apreciadoras da música retratada e vivida pelos personagens mais diversos, em seu contexto psicossocial. São pessoas mais profundas nas suas observações do desenrolar dos acontecimentos na humanidade.





Música erudita é como literatura. Você começa lendo autores enfadonhos e passa a detestar toda a literatura. Aliás, a ópera é também uma obra literária, uma vez que para entender o seu libreto (as falas cantadas em forma de poesia) precisa-se conhecer em qual contexto ela foi baseada, se foi de um livro, de um folclore, de um fato político ou social ou de uma invenção do próprio autor, que o faz dentro de um estilo poético.

Como nós no Brasil temos pouquíssimas óperas brasileiras com o libreto em português, nos custa mais entender a beleza do libreto das óperas estrangeiras, que são traduzidas primariamente (ao pé da letra) em alguns palcos.





A ópera poderia ser mais popular, mesmo porque ela já foi um gênero popular a partir do século XVII . Era como ir ao cinema hoje, o maior divertimento da época, onde se encontravam nobres, burgueses e povão. Tanto que os teatros, que tinham camarotes de luxo, também previam coxias populares, para empregados e gente do povo, os quais levavam banquinhos ou assistiam o espetáculo em pé.




Ópera é o espetáculo multimídia por excelência, concebida séculos antes mesmo de que se pensasse em mídia. Tem tudo: som, imagem, movimento, canto e música, dança, pintura, teatro, literatura e poesia.

Quanto ao fato de ser pouco divulgada no Brasil, isto se deve em parte por estarmos contaminados pela música moderna popular. Não é apenas a ópera que não é divulgada no Brasil. A boa música popular européia também não o é. Agora, se pudermos conhecer o “idioma” musical para entender o que o compositor pretende dizer, fica mais fácil e prazeroso.

Confesso que só captei o idioma musical de Richard Strauss e de outros compositores modernos, em seus termos, suas alusões, após ouvi-lo algumas vezes, ou melhor muitas e muitas vezes. Já Verdi, por exemplo, é de um idioma muito conhecido, com uma harmonia mais perto do nosso ouvido musical. Se nunca tivermos escutado uma determinada ópera dele, vemos que há um confronto iminente entre rivais, esperaremos um belíssimo dueto com o tenor e o barítono sobressaindo o coro e um gran finale. Isso tudo dentro de uma musicalidade mais fácil de apreciar porque sua melodia está mais presente ao nosso entendimento musical. 



Um outro problema no Brasil é que ópera é uma produção cara. É preciso corpos de ópera em constante treinamento e isto não custa pouco. Justo quando se necessita de um auxílio estatal, ele fica completamente no status de ausente. Mesmo assim, há um certo público no Brasil para a ópera, um tanto restrito mas não muito pequeno. Na Europa, dado o grande público, a ópera é bem mais difundida e comumente apresentada nos teatros. Ler a programação musical de Paris, é deliciar-se com tantas ofertas que não sabemos nem como escolher!



Aqui, quando surge uma apresentação de uma ópera de prestígio, o Teatro Municipal lota, mesmo tendo um preço caro para o nosso nível de vida econômica. Claro que na Europa há um público bem mais amplo. Viena, Salzburg, Paris, Roma, Berlim, Madri são grandes centros operísticos. Nova York agora também o é. Daí uma produção maior e mais caprichada. O advento do DVD estimulou muito a produção de óperas. Agora posso ver, no conforto da minha sala, as óperas de Mozart quantas vezes eu quiser e em versões que nem ele sonhou que um dia teriam.

Mas nada como os alemães! As óperas de Schubert são maravilhosas (os trechos que restaram), as de Weber tiram a respiração e as de Mozart são bem divinas, verdadeiras obras de Deus! Isso sem falar em Wagner! Wagner apresenta trechos maravilhosos, e não apenas nas óperas que compôs após Lohengrin. Rienzi, Die Feen , Tannhäuser, Der Fliegende Holländer! (O Navio Fantasma) são espetaculares. E não há como não gostar do "Der Ring des Nibelungen", com as partes de Ouro do Reno ou da Valquíria.




Mas o que importa de fato, é que o gênero musical ópera apresenta-se com muitos compositores, aliás eu diria que os únicos músicos de renome que não fizeram óperas, foram: Bach, Brahms, Bruckner, Mahler (apenas completou uma inacabada de Weber), Chopin e Grieg, tendo a maioria dos outros compositores com entradas e até mergulhos neste gênero de criação musical.


O certo é que as obras permaneceram em suas originalidades e acabaram triunfando sobre os preconceitos e valores de cada época.Tanto que nós temos hoje, no século 21, muitas óperas (ou dramas musicais, como as chamou Wagner) que fazem o maior sucesso dentro das roupagens modernas dos musicais.



Mais do que explicado o meu interesse e do porquê um blog sobre óperas e sua evolução. Digamos que é um "estudo"! Espero que vocês gostem!



Ver lista de óperas nos links abaixo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_%C3%B3peras

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_%C3%B3peras_por_compositor

E ainda:

3 comentários:

  1. Adorei a introdução! Agora eu quero ver tudo de Waguinho!!!

    ResponderExcluir
  2. Seu blog é maravilhoso . Muito obrigado!

    ResponderExcluir
  3. Oi! Agradeço de coração pelo seu blog, no qual comecei a navegar recentemente. Confesso que fico cada dia mais fascinado com esse gênero erudito. Estou lendo seus posts um a um. Valeu mesmo!

    ResponderExcluir