quinta-feira, 26 de novembro de 2009
6.2.- Lully e suas obras-França- A era barroca
Paris do século XVII.
E hoje.
Neste século, dois músicos vão se sobressair na composição de óperas na França: Jean-Baptiste Lully e
Marc-Antoine Charpentier.
1ª parte: A vida e a carreira de Jean-Baptiste Lully
Jean-Baptiste Lully (1632-1687)
Em suas óperas, Lully procurava seguir o texto, adaptando as músicas com as obras, mas sem empregar árias, duetos ou adornos na linha musical. Jean-Baptiste Lully, originalmente Giovanni Battista Lulli, foi um compositor francês de origem italiana, que passou a maior parte de sua vida trabalhando na corte de Luís XIV e cujo estilo de composição foi largamente imitado na Europa.
Jean-Baptiste Lully , era italiano nascido em Florença no dia 28 de novembro de 1632 e morreu em Paris em 22 de março de 1687, tendo se destacado como um nacionalizado compositor francês do período barroco, sendo na verdade o responsável pelo desenvolvimento da ópera e um poderoso homem durante o reinado absolutista de Louis XIV.
Inegavelmente, foi um compositor criativo, cujos dons como músico e organizador, bem como um cortesão e intrigante, dominou toda a vida musical na França na época do Rei Sol . Ele foi um dos principais defensores do desenvolvimento de muitas formas de música, além de ter criado a ópera-ballet, a ópera trágica (tragédia lírica), o grande moteto , a abertura francesa. Sua influência se alastrou pela Europa inteira de seu tempo e muitos dos compositores tiveram-no como modelo para suas criações musicais. A França ditava a moda em todas as áreas e a música não escapou disso, principalmente porque os investimentos nas artes, durante esta época, foram enormes.
Nascido com o nome de Giovanni Battista Lulli, filho de um moleiro de Florença, Lully cresceu sem nenhuma correlação significativa com a música. Na idade de 14 anos, no ano de 1645, ele foi contratado por Roger de Loraine (Cavaleiro de Guise) para ir para Paris e ajudar a sua prima, Mlle de Montpensier, na aprendizagem da lingua italiana. Chegou à França no ano seguinte, e se tornou, inicialmente, um menino de serviço de quartos da duquesa de Montpensier ( chamada de Mademoiselle, a pessoa mais importante da corte, porque era filha de Henry IV, herdeira da Coroa).
Durante a sua permanência na corte das Tuileries, que foi por seis anos, ganhou acesso aos bailes e entretenimentos da corte, construindo um conhecimento e prática de danças e temas mais valorizados do tempo, que logo se tornaram modelos para seus primeiros trabalhos. Ele também estudou vários instrumentos musicais, desenvolveu a sua dança, e aprendeu técnicas de composição musical.
Mlle de Montpensier foi exilada quando Lully estava com 20 anos, mas o jovem compositor manteve seu círculo de contatos em Paris, na medida que, no início de 1653, ele estava dançando com o rei Luís XIV no ballet. Tornaram-se amigos e parceiros na dança até que Lully foi nomeado "Compositeur de la Musique Instrummentale du Roi", responsável pela música dos ballets da corte. E daí para tornar-se conhecido por sua dança, composições e habilidades cômicas foi um pequeno passo.
Rapidamente aprendeu violino, cravo, teoria e composição musical com Nicolas Metru e mostrou-se ser um excelente bailarino. Seu talento foi reconhecido por Mademoiselle, e assim criou a "Compagnie des violons de Mademoiselle", o que o deixava muito orgulhoso, porque eles eram melhores do que "24 Violons du Roi". Em 1652 apó sua separação da Mademoiselle de Montpensier, por causa do exílio da madame, Louis XIV pediu-lhe para formar a "Grande Bande des Violons du Roi", constituída por 24 instrumentos.
Também estudou teclado com Gigault e Roberday, e cultivou uma relação de amizade com Michel Lambert, um eminente cantor e compositor da corte que lhe serviu como patrono entre os outros nobres e que, mais tarde, permitiu-lhe casar com com sua filha. Talvez em parte como resultado da orientação de Lambert, Lully rapidamente pôde ganhar prestígio na corte.
Então, em 1652 ele era ativo na corte como dançarino e compositor e de 1657 em diante foi responsável pela maioria dos "ballets de cour", tendo o poeta Benserade como colaborador. Em torno deste tempo, ele também tomou o controle dos "petits violons", que tocava para as refeições do rei e viajou em sua comitiva para várias apresentações.
Sendo um cortesão perfeito, homem de negócios astuto e apoiado pelo Louis XIV, tornou-se um compositor de câmara, então superintendente da música real. Lully também foi um excelente dançarino, e pode escrever e coreografar um balé para o rei que representava o sol (Louis XIV) no centro e os planetas (os ministros) em torno dele, a fim de mostrar que Luís XIV era o mestre (como o sol é o centro do universo).
Desde 1664 Lully contou com a colaboração do grande dramaturgo Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (1622 -1673) e juntos criaram uma série de "comédies-ballets", das quais "Le bourgeois gentilhomme", se sobressaiu bastante porque Lully mostrou-se com uma boa aprendizagem dos anos de observação de dança e teatro na corte. Molière foi um dramaturgo francês, além de ator e encenador, considerado um dos mestres da comédia satírica. Teve um papel de destaque na dramaturgia francesa, até então muito dependente da temática da mitologia grega. Molière usou as suas obras para criticar os costumes da época.
Da amizade que Jean Baptiste Lully estabelecera com Molière sairam várias obras, como Le Mariage forcé ("O Casamento Forçado", de 1664) e La Princesse d'Élide ("A Princesa Élida", com o subtítulo "Comédie galante mêlée de musique et d'entrées de ballet" - "Comédia galante com música e números de dança"), apresentadas nos "divertissements" de Versalhes. Também com música de Lully, Molière apresenta, depois, L'Amour médecin ("O Amor Médico"). Cartazes da época indicam que a obra tinha sido pedida "par ordre du Roi", (por ordem do Rei), o que pode explicar, também, o acolhimento mais favorável do público.
Lully e Molière se separaram depois, e parece que se tornaram inimigos. No entanto, Lully não parou aí. Recorrendo à mitologia, em 1673, escreveu a primeira de suas "tragedies lyriques", que dominaram o estilo de ópera francesa até meados do século XVIII. O libretista para este primeiro empreendimento, Cadmus et Hermione, foi Philippe Quinault, que, diante do sucesso, se tornou o colaborador regular de Lully e autor do texto de sua obra mais famosa, Armide.
Lully já havia obtido, através de decreto real, um monopólio sobre o desempenho de música em Paris e, após a morte de Molière, o rei lhe concedeu o antigo teatro do dramaturgo, do Palais Royal, livre de taxas. A ele também foi concedido um número de patentes, dando-lhe ainda mais controle sobre as performances teatrais.
A posição de poder de Lully foi a causa de muita má vontade contra ele, e ele foi alvo de ataques tanto por La Fontaine e Boileau como da crítica no "Mercure galant" (revista literária publicada pela primeira vez 1672-1724), além de estar envolvido em processos judiciais em 1675-77 por uma conspiração, que até hoje não se sabe direito o teor do processo.
Diante de sua reputação, sua posição na corte nunca diminuiu, pelo contrário, apesar do rei não tolerar os boatos de sua homossexualidade e, para acalmar a corte, foi armado um casamento com a filha de um amigo. Lully teve seis filhos, sendo que os filhos homens se tornaram músicos e um dos genros herdou a Academia Real de Música. O rei tornou-se padrinho de seu filho mais velho em uma cerimônia em setembro de 1677, e na fase das obras após 1678 lhe foi concedidois o privilégio real para suas obras serem impressas, e Lully ganhou o posto extremamente poderoso de "Secrétaire du Roi" em 1681.
Escultura de Lully - Alexandre Schoenewerk (1887 a 1888)
Ironicamente, para uma figura tão exaltada e de tanto prestígio, ele sofreu um final um tanto vergonhoso, na ocasião de sua morte. Quando estava acompanhando a execução de sua "Te Deum", e irritado porque os músicos não estavam correspondendo aos seus desejos, o pesado bastão, pelo qual acompanhava os compassos da música, bateu-lhe no dedo do pé. Recusando amputar o pé, morreu de septicemia, no dia 22 de março de 1687, aos 55 anos.
Lully deixou uma vasta obra, abrangendo a produção sacra, constando de Motetos, Miserere, Te Deum, Dies Irae, De Profundis entre outros, as "comédies-ballets", os ballet cours e as mais importantes que são as "Tragédies lyriques".
Lully embarcou para a produção de "Tragédies lyriques", em colaboração com o libretista Quinault , e apenas durante o período de 1677 até 1680 época em que este poeta foi banido, ele não aparece em suas óperas, devido a uma crítica severa sobre um retrato da amante do rei, Madame de Montespan, em Isis (1677).
Neste período de suas criações de óperas de tragédias, Lully descobre os inúmeros recursos da orquestra e nasce a Ouverture Francesa, um breve fragmento orquestral que precede e serve de introdução ao drama. Apresenta um trabalho abudante, produzindo uma ópera por ano.
Lully foi de fundamental importância para a ópera com a tragédia lírica francesa, sendo o seu fundador. Apesar de toda a sua história na corte francesa, é inquestionável o seu valor artístico e sua grande contribuição para a ópera. E por que não dizer, suas músicas são lindas!
Suas obras:
Dentro das óperas-ballets, ele compôs com Molière:
01-1661 - Les Fâcheux
02-1664 - Le Mariage Forcé
03-1664 - Les Plaisirs de l'Île enchantée (La Princesse d'Elide)
04-1665 - L'Amour médecin
05-1667 - La Pastorale Comique
06-1667 - Le Sicilien ou l'Amour peintre
07-1668 - George Dandin ()
08-1669 - Monsieur de Pourceaugnac
09-1670 - Les Amants magnifiques
10-1670 - Le Bourgeois gentilhomme
E as tragédias líricas (tragédies lyriques) são:
Título - Libreto - Estreia - Local
01-1673- Cadmus et Hermione, Philippe Quinault, 27 abril 1673, Paris, jeu de paume de Bel-Air
02-1674 -Alceste, Philippe Quinault, 19 janvier 1674, Paris, jeu de paume de Bel-Air
03-1675- Thésée, Philippe Quinault, 11 janvier 1675, Saint-Germain-en-Laye
04-1676- Atys, Philippe Quinault, 10 janvier 1676, Saint-Germain-en-Laye
05-1677- Isis Philippe Quinault 5 janvier 1677 Saint-Germain-en-Laye
06-1678- Psyché, Thomas Corneille et Bernard Le Bouyer de Fontenelle, 19 avril 1678, Saint-Germain-en-Laye
07-1679- Bellérophon, Thomas Corneille et Bernard Le Bouyer de Fontenelle, 31 janvier 1679, Paris, Académie royale de musique, théâtre du Palais-Royal
08-1680- Proserpine, Philippe Quinault, 3 février 1680, Saint-Germain-en-Laye
09-1682- Persée, Philippe Quinaul,t 17 avril 1682, Paris, Académie royale de musique, théâtre du Palais-Royal
10-1683- Phaéton, Philippe Quinault, 6 janvier 1683, Versailles, Palais Royal
11-1684- Amadis, Philippe Quinault, 18 janvier 1684, Paris, Académie royale de musique, théâtre du Palais-Royal
12-1685- Roland Philippe Quinault 8 janvier 1685 Versailles
13-1686- Armide, Philippe Quinault, 15 février 1686, Paris, Académie royale de musique, théâtre du Palais-Royal
14-1687Achille et Polyxène Jean Galbert de Campistron 7 novembre 1687 Paris, Académie royale de musique, théâtre du Palais-Royal
Uma outra valiosa contribuição de Lully à posteridade foi o avanço que ele deu à dança, iniciando as mulheres no palco de Paris.
Lully em 1681 era o diretor do Ópera de Paris. Quando as senhoras da aristocracia foram autorizadas a dançar no Ballet da Corte, as mulheres não tinham permissão para dançar no palco público. Todos os papéis eram dançados por homens. Durante os ensaios da ópera "The Triumph of Love", Lully sentiu que, mesmo com peruca e pó de maquiagem, um menino ainda era um menino e não convencia no papel de mulher.
Desafiando suas alunas para a demonstração de uma ousadia, encontrou na figura de Mlle. La Fontaine, para assumir a liderança. Ela aceitou o desafio e, enquanto a maioria das outras alunas hesitavam, mais três moças também ficaram dispostas a dançar. Poucas pessoas acreditavam que o público fosse aceitar mulheres no palco, mas Lully teve a chance de mostrar sua coragem. Mlle. La Fontaine, apesar do medo de desagrado do público, dançou muito bem e seu desempenho foi saudado por aplausos. Ela se tornou a primeira bailarina, a estrela do Ópera de Paris, recebendo o título de "Rainha da Dança", ao qual manteve por 10 anos.
Em resumo:
Jean-Baptiste Lully(1632 - 1687) foi um compositor nacionalizado francês, tendo nascido em Florença, e cujo estilo de composição criou uma transformação do espírito do barroco para o classicismo, o que foi imitado em toda a Europa.
Entrou como violinista (1662) no conjunto de cordas da corte de Luís XIV, foi nomeado diretor do recém-formado grupo Petits Violons da corte e em seguida para o posto de compositor oficial do rei (1671). No ano seguinte, tornou-se mestre de música da família real e logo ampliou de tal forma seu poder que nenhuma ópera podia ser encenada na França sem sua permissão (1674).
Fazendo música caracteristicamente francesa, criou o gênero sinfonie para preceder as óperas (ouverture), modificou o estilo das danças na ópera francesa introduzindo o minueto e danças mais rápidas, e levou bailarinas para o palco. Elaborou a suíte, e organizou o grupo 24 Violons du Roi, com um pequeno grupo de instrumentos de sopro, e, vítima de uma infecção, morreu em Paris.
Enfim... apesar de sua maneira arrogante de tratar os outros músicos da orquestra, Lully é Lully!
Ver excelente documetário sobre Lully no Youtube com o nome de Lully-Arte-Documentaire.
https://www.youtube.com/watch?v=BvZT2b8dKws&list=PLmY8PZIEmOtejFGBGz_hkYilIPseDe2aN
Até o próximo!
Levic
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A Grande Mademoiselle, Marquesa de Montpensier, não era filha de Henrique IV mas neta. Seu pai, Gaston d'Orleans, Duque de Orleães, é que era filho de Henrique IV e irmão do rei Luis XIII. Como Luis XIII, só teve dois filhos, muito tardiamente, durante 27 anos, até ao nascimento do futuro Luís XIV, Gaston era o primeiro na linha de sucessão, e sua filha ocupava o lugar seguinte. Com o nasdcimentode Luis XIV ela passou apenas a ser a mulher mais rica de França. Tão rica que que chegou a ambicionar casar com o próprio rei, o primo Luís XIV embora fosse 7 anos mais velha. Por pouco também não foi Rainha de Portugal. Pois sua mão, com a aprovaçãode Luis XIV, interessado numa alinaça com Portugal, contra Espanha, com que ambos os apíses estavam em guerra, foi pedida para o rei português Afonso VI em breve deposto por seu irmão Pedro II por ser incapaz fisica e mentalmente em resultadode uma doença contraida na infância.
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