quarta-feira, 25 de novembro de 2009

6.1-O surgimento da ópera na França-Lully





O surgimento da ópera na França tomou rumos completamente diferentes dos da Itália e da Alemanha, pois contou com o interesse do rei francês Louis XIV, o "Rei Sol", que tornou este gênero como uma entrada triunfante para a janela teatral, onde possibilitou que a ópera ficasse intrinsecamente amarrada ao ballet, que já era uma arte cultivada na corte real.

Na Itália, o melodrama, espetáculo mais popular, permitiu à música desenvolver-se com uma mais ampla margem de liberdade, deixando surgir a veia melódica, o virtuosismo dos cantores, em detrimento da ação trágica, criando o tema burguês. Já na Alemanha, recebendo influências tanto da França como da Itália, se deslancha como forma de sinsgpiel, como a expressão cultural do povo.



Na França, o movimento da implantação de uma ópera nacional é puramente com as forças da elite e da corte francesa. O governo de Louis XIV mantinha a ostentação das artes como forma de poder político e símbolo de grandeza. O Rei-Sol era admirado e respeitado no mundo inteiro e suas conquistas eram vistas como méritos.


Realmente, até hoje sentimos as raízes do reinado de Louis XIV, que durou de 1643 a 1715 e durante o qual a França estabeleceu os padrões de sofisticação, estilo e glamour que ainda imperam em nossas vidas. No fim de seu reinado, os franceses tinham-se tornado, em todo o mundo, os guias em matéria de bom gosto e de estilo, atingindo uma supremacia no comércio de luxo reconhecidamente até hoje.


Ainda é preciso ressaltar que a ópera francesa está vinculada à abertura de uma companhia de ópera, que hoje é o Ópera de Paris. Mas, nada disso teria ido para frente se não tivesse a interferência de um homem que seria o primeiro compositor a estabelecer e definir as convenções genéricas do que seria a ópera francesa no século 17, tomando ele próprio a posição de o mais importante compositor do barroco francês.


Então, foi durante o reinado de Louis XIV que as portas se abriram para a ópera. Em 1671, ele fundou a "Academie Royale de Musique", o principal promotor da ópera na França. Em Versalhes a grandeza do rei veio à tona, onde promoveu o ballet, principalmente porque ele próprio era um dançarino entusiasta. A dança continuou a ser uma característica da ópera francesa, inicialmente como uma expressão da ordem hierárquica do Estado, mas depois tornou-se o programa favorito dos franceses.

Em 28 de junho de 1669, Louis XIV da França concedeu um privilégio de doze anos a Pierre Perrin para montar a Academia de Ópera, no intuito de desenvolver o desempenho de óperas francesas e difundi-las para todo o território francês.

Assim, Perrin era o responsável para fazer a ópera mais conhecida ao público, não só em Paris, mas em outra cidades e vilarejos do reino da França, adotando o sistema de pagamento dos ingressos. Por ter apenas o valor dos ingressos como subsídio financeiro, sem uma ajuda da realeza, a ópera teve o privilégio de por "pièces de théâtre en musique", com o direito de que nenhuma outra organização tivesse a pretensão de querer apresentar qualquer obra, sem que antes não tivesse autorização de seus proprietários.

Entretanto, a ópera francesa só se desenvolveu com as interferências do compositor Jean Baptiste de Lully (1632 -1687), cuja maior parte de suas obras foram inspiradas nas obras de Molière e depois na mitologia clássica.

Mas, como foi que esta história transcorreu?

O poeta Pierre Perrin, em 1655, já começara a pensar na possibilidade de criar uma instituição que pudesse apresentar a ópera francesa, e isto há mais de uma década antes da fundação oficial do Ópera de Paris como uma instituição. A França do século XVII ofereceu a Perrin essencialmente dois tipos de organização para realizar o seu plano visionário: uma academia real e um teatro público.



Em 1666, ele propôs ao ministro Jean-Baptiste Colbert que obtivesse do rei um decreto para o estabelecimento de uma Academia de Poesia e Música, cujo objetivo seria sintetizar a língua francesa e a música francesa em uma forma lírica inteiramente nova. Apesar de Perrin originalmente ter pensado numa academia dedicada a discussões sobre a ópera francesa, a intenção do rei era na verdade unir a Academia Real ao teatro público, com ênfase no último como instituição, para o desempenho das óperas.

Em 28 junho de 1669, Louis XIV assinou um acordo dando o privilégio a Pierre Perrin para assumir " l'Académie d'une établissement d'Opéra en musique, Vers & François" (privilégio concedido a Perrin para o estabelecimento de uma Academia de Ópera em música, verso e francês). A redação deste privilégio foi baseado, em parte, nos próprios escritos de Perrin, dando-lhe o direito exclusivo por 12 anos para fundar, em qualquer lugar na França, academias de ópera dedicadas ao desempenho das óperas em lingua francesa. Pierrin era livre para escolher parceiros de negócios de sua escolha e definir o preço dos bilhetes. Ninguém deveria ter o direito de entrada livre, incluindo membros da corte real, e ninguém mais poderia criar uma instituição similar.


Conhecido inicialmente como "Académie de l'Opéra", a "Académie Royale de Musique" foi fundada em 1669 pelos esforços de Colbert e em resposta à iclusão desta seção na "Académie Royale de Danse", fundada desde 1661, possibilitando, assim, ao rei da França fundar a “Académie Royale de Danse et Musique" com a missão de difundir a ópera ao público francês, não só em Paris mas também em outras cidades do reino, e num exame de 'marketing' chamá-la apenas de "L'Opéra".

Perrin, com todo entusiasmo, converteu a Salle du Jeu de Paume de la Bouteille, um lugar localizado na Rue des Fossés-de-Nesles (agora Rue Mazarine, 42), em uma instalação retangular com disposições de palco para maquinaria na mudança de cenários e com uma capacidade de 1200 espectadores.


Neste local, ele apresentou a primeira ópera em Paris, a "Pomone" com música de Robert Cambert inaugurando o teatro em 03 de março de 1671. O espetáculo teve tanto sucesso que funcionou por 146 performances.



Pomone - film - LE ROI DANSE
Robert Cambert (c. 1627-1677)


Cambert - Passons nos jours dans ces vergers- Pomone


A segunda obra "Les peines et les plaisires de l'amour" com libreto de Gabriel Gilbert e música de Robert Cambert também aí foi realizada em 1672.

















Panfletos distribuidos na apresentação da ópera.



Tendo apenas as entradas do público como os recursos financeiros (e não, como na Comédie-Française, ou Théâtre Italien, que recebiam uma subvenção da realeza), o Ópera ficou com o poder de escolher as músicas que iriam ser apresentadas e os primeiros beneficiários deste privilégio foram Pierre Perrin e Robert Cambert, que puderam difundir suas óperas em primeiro lugar. Mas daí, dois problemas foram criados: a manutenção do Ópera era extremamente cara e o fato de ser beneficiário único do poder de apresentar as criações musicais apontaram para destacar um lugar de 'politicagem' por trás dos bastidores.

Além disso, apesar de destinado a ser um teatro público, desde o início manteve seu status como academia real em que o autoridade do rei era como um suporte primário para as 'decisões'. O monopólio, originalmente destinado a proteger a empresa contra a concorrência durante a sua fase de formação, foi renovado por destinatários subseqüentes a este privilégio até o início da Revolução Francesa.


Assim, o Teatro de Ópera era uma organização, por natureza tão luxuosa e cara em suas produções que sua sobrevivência dependia de proteção financeira além do privilégio de gerir suas próprias produções.

Pierre Perrin por ser um péssimo administrador e vítima de colaboradores desleais, foi preso por dívidas e teve que vender o privilégio de uso do Ópera para Jean-Baptiste Lully, em 1672, tendo morrido na pobreza e o seu sócio foi forçado, em 1673, a ir para o exílio na Inglaterra.

Enquanto na cadeia, Perrin prometeu reaver os direitos de várias pessoas envolvidas na empresa, o que Lully interveio, comprometendo-se a pagar as dívidas de Perrin e conceder-lhe uma pensão em troca de ser o depositário do seu privilégio, acordado com o rei. Perrin concordou, e apesar de uma ação judicial proposta pelos parceiros sociais mais desfavorecidos, Lully prevaleceu, formando a Académie Royale de Musique, em março 1672.


Outras patentes restritivas seguidas até abril de 1673, por qualquer produção sem vínculo com a Académie Royale foi limitada a esses dois compositores, Perrin e Cambert, cujas obras tiveram que ser dadas oficialmente em parceria com Lully, as quais Lully aproveitou-as em parte para incluir em suas óperas.

Lully e seus sucessores também negociaram a transferência do privilégio, em parte ou em toda forma, com os empreiteiros na província: em 1684 foi dada uma autorização de compra a Pierre Gautier para abrir uma academia de música em Marselha, em seguida, nas cidades de Lyon, Rouen, Lille e Bordeaux, nos anos subsequentes. A "Académie Royale de Musique" mudou treze vezes de lugar para suas performances durante o século XVIII até a sua transformação em "Théâtre des Arts" na época da Revolução, e que é chamado até hoje de "Opéra National de Paris." Em 1875, a instituição assumiu o Ópera Garnier, e depois, em 1990, o Ópera da Bastilha, onde atualmente são apresentadas as óperas.















Pierre Perrin tem seus versos agora considerados medíocres, mas seu nome continua a ser associado ao nascimento da ópera como forma de arte na França.

Contudo, essa história é apenas um dos fatores que contribuiram para a França assumir uma ópera caracteristicamente francesa. Também o reinado vigente ligado à arte do ballet favoreceu a criação de uma organização que vinculasse a ópera ao ballet, tornando-a admirada e imitadassíma ao resto do mundo.


No século XVI, a Igreja já não mais possuía a força política que tinha no auge da Idade Média, pois o “status” agora pertencia a nobreza, com seus castelos luxuosos e exércitos para servir-lhes.




Catarina de Médici ao chegar à França para tornar-se rainha, vinda da Itália, berço do Renascimento, trouxe consigo artistas que já produziam as composições iniciais das óperas e balés nas cortes de seu país. Seu coreógrafo mais importante foi Baldassarino Belgioso, cujo nome artístico era Baltasar Beaujoyeux.


Foi este coreógrafo que transformou o balé de corte em balé teatral. Sua primeira grande montagem de balé teatral na França foi o “Ballet Comique de la Reine”, em 1581, utilizando diferentes linguagens artísticas, com produção de libretos contendo cópias das músicas na apresentação, que foi feita para um público numeroso e um espetáculo que durou aproximadamente seis horas, durante a noite (um prólogo, quatro vigílias divididas em quarenta e cinco entrées e um grand finale, ou melhor, o triunfo final – o sol).


O Ballet Comique de la Reine, foi encenado pelos próprios nobres da corte, e contou ainda com a participação da rainha e das suas damas de honra, tendo como convidados, mais de dez mil pessoas. Teve um custo de três milhões e meio de francos.

Gravure du livret du Ballet Comique de la Reine.

No século XVII, o rei da França Louis XIV, denominava-se “Rei Sol”, por ter protagonizado, aos quinze anos, em 1653, o papel de “rei sol” no Ballet de la Nuit, uma produção de Isaac Benserade (1613-1691), o primeiro dos vinte e seis balés que dançou como primeiro bailarino em seu reinado, só parando quando começou a 'envelhecer' para o ballet (32 anos).

Jean-Baptiste Lully - Ballet de la Nuit (Ouverture)








Neste espectáculo, o Sol entrava no salão, com a finalidade de clarear e livrar uma casa em chamas (a França) de saqueadores (o povo), que assim agiam protegidos sob a escuridão da Noite. Com ele entravam também a Honra, a Graça, o Amor, a Riqueza, a Vitória, A Fama e a Paz.

Louis XIV em trajes de dança.




Lully também era um grande bailarino e dançaram juntos, tendo influenciado muito ao rei para investir no ballet. Possuindo um instinto infalível para captar o gosto do momento e uma grande habilidade em eleger os meios para adaptar-se à moda rapidamente, descobre que o ballet é um espetáculo de crescente sucesso na França. Não há ballet que Lully não participe: ele é ator, bailarino, compositor e coreógrafo. Em quatro anos ele aprendeu todos os truques e segredos necessários para agradar ao público.


Naquele século, costumava-se oferecer muitas festas para a nobreza européia, cujos encontros apresentavam bailados dramatizados. O primeiro grande Maître de Ballet (mestre de dança) foi Charles-Louis-Pierre de Beauchamps. Ele foi responsável pela criação das cinco posições básicas dos pés no balé. Beauchamps não deixou nada escrito ou publicado, porém seu trabalho foi passado mais tarde por seus discípulos Raoul-Auger Feuillet e André Lorin em publicações.


No reinado de Louis XIV, o "Ballet Comique de la Reine" foi se desestruturando, enquanto Beauchamps, Lully e Moliére vão desenvolvendo a “Ópera-ballet” na Itália, e que anos depois Lully introduziu na França, colocando o balé de corte nos palcos do teatro. Em 1661, o rei da França fundou a “Academia Real de Dança e de Música”, e neste mesmo ano Lully começou a introduzir bailarinos profissionais em seus balés. Até a criação desta modalidade musical, os franceses não demonstravam inclinação alguma para a ópera, e as conhecidas deste público eram de origem italiana.


E assim, surgiu a ópera-ballet como um gênero popular dos franceses da era barroca, que cresceu a partir das entradas dos balés às óperas, que se diferenciava da "tragédie en musique" como o praticado por Jean-Baptiste Lully de várias maneiras alguns anos depois. A ópera-ballet continha a música de dança mais do que a tragédie e os temas não eram necessariamente derivados da mitologia clássica e até mesmo permitiam elementos cômicos, coisa que Lully tinha excluído da "tragédie en musique" após Thésée de 1675.

O programa da apresentação


A submissão da arte do ballet às necessidades da apresentação da ópera pode ser demonstrada pela criação da posição “En Dehors” (para fora), que é aquela posição em que o bailarino apresenta-se com as cochas, joelhos e pés girados para fora da linha central do corpo, fazendo uma rotação externa da articulação coxo-femural.



Enfim, esta posição foi criada quando o balé de corte começou a ser levado para os palcos italianos, em que a platéia assistia ao espetáculo de frente, e não mais como nos salões reais, sobre as bancadas e camarotes, vendo-o de cima. Então para que o artista nunca se colocasse de costas para o público, composto de nobres e convidados, criou-se esta posição aberta, que ao dançar, de uma diagonal a outra, o bailarino evita ficar de costas para o público.


A ópera-ballet consistia de um prólogo seguido por uma série de atos auto-suficientes, também conhecidos como entradas, muitas vezes frouxamente agrupados em torno de um único tema. A criação do artista André Campra, L’Europe Galante, de 1697, é normalmente considerada a primeira obra desta natureza. Anteriormente a esta produção, porém, Les Saisons, de 1695, já apresentava elementos que poderiam defini-la como um modelo deste gênero, mesmo ainda apresentando um enredo mitológico. Famosos exemplos posteriores são "Les élémens" (1721) por Destouches , e "Les Indes galantes" (1735) e "Les fêtes d'Hebe" (1739) por Jean-Philippe Rameau .


Desta forma, o ballet atrelado à ópera permaneceu mais ou menos até meados de 1789, quando Jean-Georges Noverre apresentou o primeiro balé que rompeu definitivamente com o estilo da ópera, o “Les Caprices de Galathée”, o drama-balé-pantomima. Para ele o balé deveria narrar uma ação dramática, ser natural e expressivo, utilizar a pantomima, e abolir as máscaras por esconder a expressão facial do bailarino. Aboliu também as enormes perucas “operescas” dos balés, mudando o comprimento do vestuário feminino para dar mais leveza e graciosidade aos movimentos. Sua preocupação era grande em relação a formação do bailarino, pois acreditava que eles precisavam aprender diferentes áreas do conhecimento, para não se tornarem autômatos da dança.


A opéra-ballet, criada no século XVII por Lully (1632-1687) e seus contemporâneos, que é uma síntese do balé francês com elementos operísticos italianos, continuou a abrilhantar, na primeira metade do século XVIII, a vida artística dos palácios. Na verdade, Jean-Baptiste Lully monopolizou a ópera francesa desde 1672 com seus recitais disciplinados e com seus intermezzos que levaram a uma padronização da ópera, que ainda um século depois Gluck lutou muito para poder renová-la.



Em suas óperas, Lully procurava seguir o texto, adaptando as músicas com as obras, mas sem empregar árias, duetos ou adornos na linha musical. Jean-Baptiste Lully, originalmente Giovanni Battista Lulli, um italiano que recebeu sua naturalização francesa, passou a maior parte de sua vida trabalhando na corte de Louis XIV e cujo estilo de composição foi largamente imitado na Europa.

A corte de Louis XIV, representada como "dioses del Olimpo" por Jean Nocret

Lully ao rivalizar com as influências italianas que embasaram suas óperas, permaneceu sempre imbuido de que uma ópera francesa tinha que ser cantada na lingua francesa, incluindo interlúdios de balés e uma elaborada maquinaria cenográfica. A ópera adaptou-se ao gosto refinado do público aristocrático a que se destinava, obedecendo a regras muito rigorosas: o tema era obrigatoriamente mitológico, o "bom gosto" exigia que a ação fosse de construção lógica e coerente, e nunca mostrasse situações violentas ou ousadas, e o texto, em geral em versos muito poéticos.

Tendo comprado de Pierre Perrin o privilégio para monopolizar a ópera e com o apoio de Jean-Baptiste Colbert e do próprio Rei, criou um novo privilégio, que dava exclusivamente a ele o controle completo de toda música apresentada na França, até sua morte, o que ocorreu em 1687. Mas, seus seguidores sustentaram suas premissas e regras para a construção de óperas francesas, que o seu domínio neste campo se estendeu até o século 18.

Ademais, a toda obra de Pierre Perrin e Robert Cambert foi-lhe concedido o direito de parceria, como a “Pastoral de Issy” (1659) um madrigal em língua francesa nascida dessa sua 'colaboração', e em 1671, a famosa primeira ópera francesa “Pomona".

Voltando a um ponto anterior, durante o período em que Lully mantinha sua colaboração com Molière, cujo verdadeiro nome era ean-Baptiste Poquelin, entre 1663 e 1671, trabalhou com onze comédias que, pelo emprego da música e de danças, se chamaram de “Comédie-Ballet”.

Nesse rumo, a "Academia Real de Música" se constituiu num novo teatro. Em 1673 com a morte de Molière, seus cômicos foram desalojados da sala do palácio real, e assim esta sala real se torna a sede da Academia. A academia assumiu o Palais Royal Theater e com isso mais prestígio e poder para Lully.

O “Ballet de Corte” e a “Comédie-Ballet” vão se amoldar nas mãos de Lully que, depois da apresentação de "Les Fêtes de L’Amour et de Bacchus" em 1672, declarou o nascimento de uma nova Ópera Musical Francesa: a "tragédia lírica". O teatro trágico era a grande moda no momento e sustentava suas raízes numa tradição que sempre esteve viva na França, a tragédia.

Uma encenação de época em Versalhes

A tragédia lírica de Lully não era mais que uma hábil superposição da música, montagem e cenografia coreográfica do “Ballet de Corte” e da “Comédie-Ballet” com um corpo e espírito da tragédia literária. E, para isso, ele precisava de um libretista e o encontrou na figura do dramaturgo Philippe Quinault (1635-1688), que era m,ais flexível que Molière. Lully criava a melodia, diretamente, a partir do musical declamado, recitado. Nas óperas de Lully, as verdadeiras árias são sempre muito poucas, e às vezes, não mais que três ou quatro, sendo que é a declamação que invade e sustenta toda a ópera, lembrando o recitativo de Monteverdi.


Com seus rompimentos radicais ao estilo italiano predominante, que lançou as bases da Ópera francesa, Lully soube organizar tudo que pudesse agradar ao Rei, e juntamente com suas inflluências políticas no palácio para montar um novo estilo ao novo gênero musical (que era a ópera) para implantar nele uma originalidade, não permitindo nenhum outro compositor musical contradizê-lo ou contrariá-lo, caso contrário era jogado no 'esquecimento'.

Com suas habilidades em intriga política, ganhou o apoio firme do rei Louis XIV. O "Rei-Sol" lhe concedeu um título de nobreza, protegeu-o da Igreja Católica francesa (que considerava a música secular como um sacrilégio), e fingiu não ver a sua homossexualidade, apesar de que Lully, em última instância, se sentiu obrigado a entrar em um casamento forçado, com Madeleine Lambert, filha do amigo e companheiro Michel Lambert,
de onde resultaram os seus tres filhos homens que se tornaram músicos, e tres filhas mulheres sendo que um dos genros tornou-se herdeiro da academia.

O contrato de casamento foi assinado por ninguém menos do que Louis XIV, a rainha Marie-Thérèse e da Mãe Rainha, Ana da Áustria, que também foram testemunhas. Mas isso aqui só tem importância para evidenciar o seu poder dentro da corte francesa. Aos 40 anos e nacionalizado francês, Lully contava com um poder que nenhum outro músico, em qualquer parte do mundo, jamais alcançou.


Enfim, foi com Lully que a ópera francesa recebeu a sua forma e consistência, onde ele com Molière, juntou forças com a aspiração de combinar comédia, música e dança. A mais importante comédia ballet realizada juntamente com Molière foi "Le Bourgeois Gentilhomme" (1670), que se tornou famosa mundialmente após Richard Strauss (1918) usar o mesmo argumento para compor uma ópera ( Der Bürger als Edelmann (Le bourgeois gentilhomme).

A tragédia ballet de Lully deu à luz a tragédia lírica, uma forma característica na história da ópera francesa, com a expressão lírica do sentimento em um estilo de recitativo ou música composta em detalhes, contrastando com a ópera cômica em que o diálogo é interpolado entre os números musicais, além de abordar questões realistas, embora a ação não seja necessariamente engraçada.



Em resumo, na França a ópera precisou competir com o ballet de cour (balé da corte), que era o preferido pela nobreza local, mas foi um italiano de nome de Giovanni Batista Lulli, que, afrancesando o seu nome para Jean Baptiste Lully, o responsável pela introdução da ópera no país. Como diretor do primeiro teatro francês especializado em ópera, a Academia Real de Música (depois Ópera de Paris), inaugurada em 1671, Lully iniciou suas atividades levando à cena peças pastorais. Mais tarde, com o libretista Phillipe Quinault, criou a tragédia em música (tragédia lírica), gênero que deu origem à opera especificamente francesa, baseada no drama falado, que assimilou o estilo recitativo da ópera italiana, mas rejeitou o intermezzo cômico.


Lully e seus seguidores na corte de Louis XIV.

Na França, a obra de Lully representava o modelo de seriedade, austeridade, simplicidade, sujeito às regras tradicionais, às unidades de tempo, de lugar e de ação quanto ao argumento trágico ou mitológico, acomodando-se ao gosto dos ambientes aristocráticos da corte.

O comportamento de Lully garantiu-lhe que ele pudesse agradar as pessoas certas na hora certa, mas ele, sem dúvida, foi quem alavancou a ópera francesa, tornando-se compositor francês líder teatral do século XVII.


Cronologia das óperas francesas dos séc. XVII e XVIII. Clique aqui:


E mais aqui e tambem aqui.

Ler também http://en.wikipedia.org/wiki/French_opera

Levic

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