terça-feira, 8 de junho de 2010

29.2- VERDI, o maior 3-Nabucco, I Lombardi





Óperas: Nabucco e I Lombardi alla prima crociata


3- Nabucco

Nabucco
3ª ópera (28 anos)
Libreto:
Temistocle Solera de peça de A. Anicet-Bourgeois e F. Cornu e de bailado de A. Cortesi
Local de estreia Teatro alla Scala, Milão

Tipo do enredo Épico
Número de atos 4
Número de cenas 7
Ano de estreia 1842





Personagens:

Nabucco (rei da Babilônia que é subjugado pelo genocídio do povo hebreu de Jerusalém) barítono

Ismael (o sobrinho de Zedekia, rei de Jerusalém, que está apaixonado por Fenena) tenor

Zacharia (o sumo sacerdote dos hebreus que dá esperança para seu povo quando são perseguidos por Nabucco e os babilônios) baixo

Abigail (suposta filha de Nabuco, que, quando o seu amor não é correspondido por Ismael, promete se apoderar do trono para ofender Fenena.) soprano

Fenena (verdadeira filha de Nabuco que está apaixonada por Ismael e é forçada a escolher entre o seu amor e a regência quando da ausência de seu pai) mezzo-soprano

Abdallo (um velho oficial do Rei que tenta restituir o trono a Nabucco) tenor

Anna (irmã de Zacharia) soprano






Nabucco é uma ópera em quatro atos de Giuseppe Verdi, com libreto de Temistocle Solera, escrita em 1842. A ação da ópera conta a história do rei Nabucodonosor da Babilônia. Foi escrita durante a época da ocupação austríaca no norte da Itália e, por meio da várias analogias, suscitou o sentimento nacionalista italiano. O Coro dos Escravos Hebreus, no terceiro ato da ópera (Va, pensiero, sull'ali dorate, "Vai, pensamento, sobre asas douradas") tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época. Foi estreada, a 9 de março de 1842, no Teatro alla Scala de Milão.





Esta ópera se desenvolve dentro da história da conquista do território hebreu por Nabucco (Rei Nabucodonosor) e a captura do povo como escravo, que é levado para Babilônia. Lá se desenrola uma história que está cheia de drama e reviravoltas. Mas o que faz desta ópera ser mais importante, é o fato de ter sido escrita quando o norte da Itália estava ocupado pelo império Austro-Húngaro.

Então, especificamente a ária “Vá pensiero” ou o coro dos escravos como também é chamada, se transforma em algo mais ao transcender o cenário e  como símbolo nacionalista que expressa o descontentamento com a ocupação por parte da potência estrangeira.





Milão, 1841, 1842. A temporada de ópera iniciara-se da forma mais auspiciosa com a estreia duma nova ópera de Donizetti, então no auge da sua carreira - "Maria Padilla" interpretada pela famosa soprano alemão Sophie Loewe e pelo famosíssimo barítono Giorgio Ronconi, uma presença privilegiada no Scala. "Maria Padilla" de Donizetti teve 23 representações.

Seguiu-se "Saffo" de Paccini, ópera que tivera a sua estreia em Nápoles havia um ano.
A terceira ópera da temporada no entanto foi um fiasco. Tratava-se de "Odalisa" de Alessandro Nisi , um compositor que acabaria por abandonar a carreira para ocupar um modesto lugar de mestre de capela numa aldeia remota da península italiana.




A temporada do Scala prosseguiu com uma outra ópera de Donizetti, "Belisario", escrita havia 5 anos, e cantada também por Ronconi e pela célebre soprano Giuseppina Strepponi. E justamente Ronconi e Strepponi que iriam estar presentes na última ópera da temporada, uma ópera que não fora sequer anunciada no cartellone (um calendário dos espectáculos que o Scala publicava todos os anos antes do início da temporada) que foi Nabucco.

Essa ópera fora escrita propositadamente para o Scala pelo jovem compositor Verdi de 28 anos que, três anos antes, obtivera algum sucesso com a apresentação da sua primeira ópera naquele teatro, à qual se seguira uma segunda de caráter jocoso, recebida com bastante frieza.




Verdi se desiludira da música. A sua segunda ópera não agradou e, com a destruição da própria família (sua mulher e filha tinham morrido), esse jovem pacato sonhador não encontrava mais sentido para dar prosseguimento ao seu sonho. Em meio a tanta dor e quando não encontrava mais sentido na própria vida devido à tragédia familiar, surge a proposta do empresário do La Scala,  Bartolomeo Merelli, que lhe encomenda uma ópera dentro de um libretto chamado Il Porscritto.

Nos momentos de total solidão, o compositor encontrava eco na Bìblia e ao ler aquele libreto, uma frase lhe chamou atenção: - " Vai pensamento, repousa sobre montes e colinas...." Havia uma espécie de paráfrase da Bíblia naqueles escritos!





A Bíblia era uma leitura habitual para Verdi que gostava de questionar o livre arbítrio do homem diante dos desígnios divinos. Nascia "Nabucco", ópera em quatro atos cada qual contendo um subtítulo e uma breve citação ou paráfrase do Livro de Jeremias, à guisa de prefácio.

A história ocorre no ano 586 a.C., no Templo de Salomão, em Jerusalém e na Babilônia. Os hebreus foram derrotados pelo imperador babilônico Nabucodonosor, mas o profeta e líder hebreu Zaccarias capturou a filha de Nabucco, Fenena, que está apaixonada por um jovem oficial hebreu, Ismaele.




A outra filha de Nabucco , Abigaille, ajuda o pai a invadir e a profanar o templo sagrado dos judeus em Jerusalém, porém mais tarde se volta contra Nabucco, ao descobrir que é apenas sua filha adotiva, tendo sido originalmente escrava. Quando Nabucco blasfema, é atingido por Jeová e perde a razão, sendo feito prisioneiro por Abigaille, que lhe toma a coroa . Somente quando suplica a Jeová, Nabucco recobra o senso, a tempo de salvar Fenena da execução.

Abigaille arrependida , se envenena e antes de morrer implora o perdão de Jeová, o Deus dos judeus. Com seu último suspiro, abençoa a união de Fenena e Ismaele.




A música escrita por Verdi para o coro que narra justamente o lamento dos escravos judeus às margens do Eufrates, fez com que os italianos se identificassem com essa dor, que eles italianos , sentiam também por estarem sob domínio austríaco - a dor dos judeus na Bíblia era uma espécie de auto- retrato que Verdi fazia da sua dor pessoal, da sua dor como patriota.

Nabucco funciona para Verdi , como uma espécie de superação através da música,- dos sentimentos de dor pela perda de seus entes queridos , da sua frustração como compositor pelo fracasso de sua última ópera e de um total vazio que tomou conta de sua alma. Naquela história, estavam intrínsecos os contrastes que habitam o universo de todos nós, seres humanos - a ira de uns e o pranto de outros, a violência opondo-se à oração de quem crê na unidade dos corações.





Sem nenhuma pretensão , após o grande sucesso de Nabucco, Verdi faz nascer não de forma oficial, aquilo que os italianos chamam de Risorgimento, - um movimento para uma Itália livre, porém unida. Verdi começa de modo sutil uma grande revolução , não apenas em seu país, mas no coração dos apreciadores das suas obras, porque não teme qualquer comprometimento , mas um significado para a sua própria existência.

Foi pois com um sentimento misto de expectativa e de temor que os frequentadores do Scala se dirigiram para o teatro naquela remota noite de Carnaval de 1842, dia 9 de março.
Seguiria aquele jovem compositor o destino brilhante de Donizetti? ou iria tornar-se um mero fornecedor de óperas ao gosto da época como Paccini? ou seria que o esperava o fiasco? o futuro de mestre de capela numa remota aldeia da província como iria acontecer com Alessandro Nisi?





A verdade é que aquela noite iria ser decisiva, e o autor da ópera apresentada pela primeira vez no Scala no Carnaval de 1842, dia 9 de março, iria tornar-se um verdadeiro ídolo do povo italiano, e seria considerado universalmente como o maior compositor de óperas da Itália.

Passados 60 anos sobre essa estreia memorável toda a população de Milão saiu para a rua para acompanhar o cortejo que levaria os restos mortais desse compositor para a sua última morada. Durante esse cortejo impressionante, no qual se incorporaram o coro e a orquestra do Scala, a multidão entoaria um trecho dessa ópera estreada nesse longínquo Carnaval de 1842, e cujas palavras pareciam ganhar uma nova carga simbólica.




A sua estreia em Milão em 1842 ultrapassou todas as expectativas. O elenco era excelente com Ronconi no papel de Nabucco e com Giuseppina Streppone no de Abigaïl. À parte isso o teatro não tivera grandes preocupações com os cenários ou o guarda roupa que reciclara dum bailado sobre o mesmo tema.

Mas o sucesso da ópera foi tão grande que não teria apenas as 8 representações previstas para essa temporada, entre o Carnaval e a Páscoa, mas regressaria no outono acabando por bater todos os recordes do Scala com um total de 67 representações. É durante esse período que a ópera adquire o seu título definitivo abreviado, "Nabucco", oficializado em 1844, já que o título original era "Nabuccodonosor".




Contrariamente ao habitual, "Nabucco" não está dividida em atos mas em partes, cada uma sob um título específico, e apresentando determinada situação: Jerusalém, O Ímpio, A Profecia e O Ídolo Quebrado.

A ação desenrola-se durante o reinado de Nabuccodonosor II Rei da Babilônia que subiu ao poder 605 anos antes de Cristo, e que foi o responsável pela reconstrução da cidade considerada uma das 7 Maravilhas do Mundo. Cerca de 20 anos depois de ter sido coroado, Nabuccodonosor parte à conquista das terras de Judá, destruindo o Templo de Salomão e fazendo numerosos prisioneiros que leva consigo para a Babilônia na condição de escravos.




A 1ª parte da ópera relata precisamente a invasão de Jerusalém e a destruição do Templo de Salomão - lugar onde a ação se desenrola.
Durante a sua estadia na Babilónia, onde fora embaixador, Ismael, filho do Rei dos Hebreus, apaixonara-se por Fenena, filha de Nabuccodonosor. Fenena tem uma irmã, Abigaïl, que também ama Ismael sem ser correspondida.





A história

Parte I – Jerusalém
Nabucco, rei da Babilônia, avança sobre Jerusalém. Os hebreus são forçados a se esconder no templo de Salomão, onde a filha de Nabucco, Fenena, é mantida como refém, sequestrada pelo sumo-sacerdote de Jerusalém, Zaccaria.

Fenena é deixada sob os cuidados de Ismaele, chefe militar, que mantém um relacionamento secreto. A outra filha de Nabucco, Abigaille, que assim como a irmã é apaixonada por Ismaele, promete ajudá-lo caso aceite seu amor, mas Ismaele a rejeita.

Com a entrada do exército de Nabucco, Zaccaria tenta matar Fenena, mas Ismaele a salva, o que é condenado pelos hebreus. Nabucco incendeia e destrói o templo.




Parte II – A Blasfêmia
Os hebreus são mantidos em cativeiro na Babilônia. Abigaille, de volta à Babilônia, descobre que é filha de escravos e não de Nabucco.

Os babilônios acreditam que Nabucco está morto por causa de um boato espalhado pelo Sumo-Sacerdote da Babilônia e clamam para Abigaille assumir o trono.

 Zaccaria anuncia a conversão de Fenena ao judaísmo. Nabucco retorna e se proclama Deus. Um raio o atinge,  tirando-lhe a coroa, e então é tomado pela loucura. Abigaille pega a coroa.




Parte III – A Profecia
Babilônia saúda Abigaille como sua regente e o Sumo-Sacerdote pede pela morte dos judeus, começando por Fenena, agora convertida.

Abigaille faz Nabucco assinar a ordem de execução. Ele o faz mas teme por Fenena. Ele denuncia Abigaille como escrava mas ela já está de posse do documento que revela sua origem e o rasga.

Os hebreus cativos cantam às margens do rio Eufrates, relembrando sua pátria (Va pensiero sull’ali dorate). Zaccaria profetiza que a Babilônia cairá.




Parte IV – O ídolo caído
Fenena está sendo preparada para a execução. Nabucco, recuperado de sua loucura, pede a Deus que perdoe os hebreus.

Fenena, junto com outros hebreus, está em frente ao altar quando gritos de ‘Viva Nabucco’ são ouvidos.

Nabucco destrói o falso ídolo, a estátua de Baal, e liberta os hebreus. Abigaille se envenena, pedindo perdão à Fenena.

Nabucco é proclamado Rei dos Reis.





SINOPSE:





Ato I: "Jerusalém"
Os judeus oram diante do templo de Salomão. O sumo-sacerdote Zacarias entra com Ana, sua irmã, e Fenena, filha de Nabucco, tida como refém pelos judeus. Zacarias avisa ao povo que Javé não vai abandonar o povo judeu. Ismael, chefe militar e sobrinho do rei de Jerusalém, entra com seus soldados e avisa que Nabucco destruirá tudo.

Zacarias espera que haja um milagre e entrega Fenena a Ismael para que ela tenha sua segurança garantida. Ambos são amantes, e se conheceram na Babilônia. Abigail, a outra filha de Nabucco -que também é apaixonada por Ismael - entra conduzindo um exército de assírios para ocupar o templo. Os assírios estão vestidos como judeus. Abigail chantageia Ismael, dizendo que ela salvará seu povo caso ele lhe retribua o amor, mas Ismael não aceita.

Reaparecem os judeus, assustados com a reaproximação de Nabucco, que é enfrentado por Zacarias, que o denuncia por blasfêmia e ameaça executar Fenena. Esta é entregue a Nabucco por Ismael, que é reprimido pelos judeus. Nabucco manda incendiar o templo.





Ato II: "O Blasfemo"
Palácio de Nabucco, na Babilônia. Abigail acha um pergaminho no qual é dito que ela é filha de escravos, e não de Nabucco. Jura vingança a ele e a Fenena, enquanto lembra de Ismael e acha que ele poderia ter salvado sua vida. Entra o Sumo Sacerdote e avisa que Fenena mandou libertar os prisioneiros judeus, e que, devido à traição, Abigail será nomeada herdeira do trono, em vez de Fenena.

Em outro local, Zacarias ora e tenta convencer os assírios a esquecerem seus ídolos. Fenena entra nos aposentos de Zacarias, e este tenta convertê-la. Os levitas entram e encontram Ismael, que fora banido. Zacarias perdoa Ismael, por este ter salvado um judeu - Fenena, agora convertida. Abdalo, conselheiro do palácio, entra e avisa Fenena sobre os boatos sobre a morte de Nabucco, e que sua vida está em risco.

Entra o Sumo Sacerdote e proclama a regência de Abigail. É anunciada a sentença de morte aos judeus. Fenena se recusa a entregar o cetro a Abigail. Inesperadamente, entra Nabucco, toma a coroa e a coloca em suas cabeças. Nabucco diz que derrotou Baal e Javé, e por isso mesmo não é rei. É Deus. Nesse instante, cai um raio na cabeça de Nabucco, que fica louco. Abigail recupera a coroa.





Ato III: "A Profecia"
Jardins Suspensos da Babilônia. Abigail é proclamada regente e é instigada a condenar à morte os judeus, mas, antes disso, Nabucco entra atordoado. Abigail explica que está na função de regente porque o rei está impedido de reinar, e lhe entrega a ordem de execução aos judeus, esperando que ele decrete a morte de Fenena - agora, convertida ao judaísmo. Nabucco assina, mas pergunta sobre o que vai acontecer a Fenena, e Abigail avisa que ela também vai morrer, junto com os outros judeus. Nabucco tenta mostrar o documento a Abigail dizendo que ela é uma impostora, mas ela já o tem em mãos e o rasga em pedaços. Nabucco chama os guardas, mas não é atendido. Sem saída, roga clemência a Abigail, que permanece irredutível.

Enquanto isso, os judeus permanecem descansando do trabalho escravo, diante das margens do Eufrates, e relembram sua pátria perdida. Zacarias anuncia que eles estarão livres do cativeiro em breve, e Javé os ajudará a derrotar a Babilônia.





Ato IV: "O ídolo destruído"
Nabucco está em seus aposentos e ouve o grito por Fenena. Ao olhar para a janela, vê que Fenena está sendo executada. Ao tentar abrir a porta, dá-se conta de que é prisioneiro. Neste momento, Nabucco implora perdão a Javé, rogando-lhe conversão, juntamente como a seu povo. Ao recuperar a razão, entra Abdalo se certifica de que Nabucco é novamente ele próprio, e já está com todas as suas faculdades recuperadas. E tenta buscar o trono.

Os carrascos preparam a execução de Zacarias e de seu povo. Fenena é aclamada mártir e, em sua última prece, roga a Javé que a receba no céu. Nabucco acaba com a escravidão dos judeus e anuncia que ele próprio é um deles. A estátua de Baal é destruída e Abigail se suicida, implorando a Ismael que se una novamente a Fenena. O povo reconhece o milagre, e direciona louvores a Javé.



                                  





                                          




                                     
Fiquei tão emocionada ao ler o  BLOG DO LORENZINI que fiz questão de compartilhar aqui. Fala sobre uma apresentação desta ópera, regida pelo maestro Riccardo Muti. Algumas partes extraidas:






29 de julho de 2011 | Autor: Lorenzini

Após apresentação da ópera Nabuco no dia 12 de março de 2011, no Teatro dell’Opera em Roma,  em comemoração dos 150 anos da unificação da Itália, Riccardo Muti deu um exemplo de civismo.


Riccardo Muti em entrevista ao Times relatou referindo-se  ao coro “Vá pensiero”, que  apesar de se referir aos judeus escravizados na Babilônia, se tornou o grito de guerra que simboliza a busca pela liberdade do povo italiano. 


Essa relação entre o que se canta na ópera e o sentimento de liberdade, o clamor por justiça e o patriotismo italiano persiste até os dias de hoje:


“Naquela noite ocorreu uma revolução velada. No início houve uma grande ovação do público e logo começamos com a ópera. A apresentação se desenvolveu normalmente até que chegamos ao canto famoso “Vá pensiero”.


 Imediatamente senti  que a atmosfera do público se tornava tensa. Existem coisas que não se pode descrever, porém ela é sentida. Era o silêncio intenso do público que se fazia sentir. 


No momento em que as pessoas se deram conta que começava o 'Vá pensiero', o silêncio foi de verdadeiro fervor. Se podia sentir a reação visceral do público diante dos lamentos dos escravos que cantavam: “Oh, patria mia, si bella e perduta …”.


 Quanto o coro chegou ao final ouvi do público pedidos de bis. O público começou a gritar: “Viva Itália!”, “Viva Verdi”, “Longa vida à Itália”. E as pessoas das galerias começaram a jogar papeletes com mensagens patrióticas. Eu não queria fazer apenas um bis. Teria que haver uma intenção especial para fazê-lo. “


Porém  no público já haviam despertados os sentimentos patrióticos do maestro. Com um gesto teatral, Muti se vira, olha para o público e para Berlusconi (presente na plateia) e diz:

“Sim, estou de acordo com o Viva a Itália, absolutamente! Não tenho trinta anos e, como italiano que tem percorrido o mundo, estou muito pesaroso com o que está se passando no meu país. Então vou aceitar o vosso pedido de bisar o Va pensiero. 

Não o faço apenas por razões patrióticas, mas porque esta noite enquanto o coro cantava “Oh, minha pátria, tão bela e perdida” pensei que se continuarmos assim, matamos a cultura sobre a qual está assentada a história da Itália.


 Neste caso, verdadeiramente, a nossa pátria estará “bela e perdida!”.

Nesse momento ouve uma enorme ovação, inclusive dos cantores e dos membros da orquestra, saudando as declarações de Mutti. Uma forte emoção tomou conta do ambiente. Após acalmar a platéia Mutti prosseguiu:

"Já que aqui reina um clima italiano, verdadeiramente italiano, e que frequentemente eu Muti (faz um trocadilho com mudo), tenho falado aos surdos durante tantos anos, gostaria agora que fizéssemos uma exceção, na nossa própria casa, o teatro da capital, com um coro que cantou magnificamente e uma orquestra que o acompanhou muitíssimo bem. Proponho pois, se quiserem unir-se a nós, que cantemos todos juntos.


Seguiu-se um novo, febril e caloroso aplauso que selou essa aliança: povo – coro – orquestra – maestro.  Tranquilo Muti ainda recomendou: “Mas, a tempo, está bem?!”. Fez sinal para a orquestra e para o coro e começou a reger platéia, orquestra e coro. 


O momento que se seguiu foi de uma extraordinária empatia, quando um “coro” de 1.300 vozes da platéia interpretou o Coro dos escravos. Muti, quase de costas para o palco, regeu um povo que demonstrou um espírito patriótico intenso. A platéia permaneceu de pé, os atores também em pé se puseram, toda a ópera de Roma se levantou! Momento mágico!


O final dessa apresentação única seria igualmente indescritível. Percebe-se a emoção do público e dos atores, todos de pé! Lágrimas aparecem e são secas com a manga das vestimentas. 


Ocorre um aplauso interminável enquanto dos camarotes desciam voando papeletes com mensagens: Viva Giuseppe Verdi, Viva a Itália, Parabéns Itália, Itália ressurge na defesa da cultura, outros mais e até alguns que diziam: Riccardo Muti, senador vitalício.

 
                                   

Puxa! Por que não no nosso país? 


Vá Pensamento


Vá, pensamento, sobre as asas douradas
Vá, e pousa sobre as encostas e colinas
Onde os ares são tépidos e macios
Com a doce fragrância do solo natal

Saúda as margens do Jordão
E as torres abatidas do Sião

Oh, minha pátria tão bela e perdida
Oh, lembrança, tão cara e fatal

Harpa dourada de desínios fatídicos
Por que você chora a ausência da terra querida?
Reacende em nosso peito a memória
Fale-nos do tempo que passou

Lembra-nos o destino de Jerusalém
Traga-nos um ar de triste lamentação

Mas vá, pensamento, sobre as asas douradas
Vá, e pousa sobre as encostas e colinas
E que o Senhor te inspire harmonias
Que nos infundam a força para suportar o sofrimento


4- I Lombardi alla prima crociata


I Lombardi alla prima Crociata ( Os lombardos na Primeira Cruzada )
4ª ópera (29 anos)
Libreto:
Solera de Grossi (Poema)
Estreia:
(Milão) Teatro alla Scala, 11 de Fevereiro de 1843




Personagens


Arvino, filho de Lord Folco tenor
Pagano / Eremita, filho de Lord Folco baixo
Viclinda, esposa de Arvino soprano
Giselda, filha de Arvino soprano
Oronte, filho de Acciano governador de Antioquia tenor
Acciano , governador de Antioquia tenor
Sofia, esposa de Acciano soprano
Pirro, escudeiro de Arvino baixo
Antes de Milão tenor
Os moradores de Milão, guardas do palácio, cruzados, peregrinos, freiras, degoladores, mulheres do harém, guerreiros - Chorus





I Lombardi alla prima Crociata ( Os lombardos na Primeira Cruzada ) é uma ópera lirico-dramma em quatro atos de Giuseppe Verdi para um libretto italiano de Temistocle Solera , baseado em um poema épico de Tommaso Grossi, um grande romance histórico com uma inclinação patriótica. Sua primeira apresentação foi dada no Teatro alla Scala de Milão em 11 de fevereiro de 1843. Verdi dedicou o placar para Maria Luigia, o Habsburg Duquesa de Parma, que morreu alguns semanas após a estréia.

Em 1847, a ópera foi significativamente revista para se tornar a primeira grande ópera de Verdi para performances em francês na Salle Le Peletier do Ópera de Paris, sob o título de Jérusalem .



A ópera abrange um tema politico-religioso espectacular, muitos coros, uma pitada de exotismo e de sobrenatural, blasfêmia, conversão, expiação, visões, prodígios divinos, amor do herói pela filha do seu inimigo, rivalidade entre irmãos, e um lamento pela Pátria distante. Este foi o modelo de sucesso que Verdi seguiu baseando-se em "Nabucco" quando escreveu "I Lombardi". O libreto, tal como o de "Nabucco", era de Temistocle Solera, e até a divisão dos atos em episódios, com os títulos respectivos, aproxima as duas óperas.

"Nabucco" está dividida em: Jerusalém, O Ímpio, A Profecia e O Ídolo Quebrado e "I Lombardi" divide-se em: A Vingança, O Homem da Gruta, A Conversão e O Santo Sepúlcro.
Verdi recorreria a este seu sucesso 4 anos mais tarde quando a Ópera de Paris lhe encomendou um novo trabalho escrito propositadamente para aquela sala. Verdi escolheu recorrer a "I Lombardi" que escreveu e rescreveu juntamente com os libretistas Alphonse Royer e Gustave Vaëz.





Do libreto original pouco seria aproveitado, se excetuarmos o fato de ambas as ações se desenrolarem durante uma das Cruzadas. Em vez de 4 atos dividiu-a em 3, dando-lhe o título de "Jerusalem"..
A primeira apresentação pública de "I Lombardi" teve lugar no Scala no dia 11 de Fevereiro de 1843, e o sucesso ultrapassou todas as expectativas. As complicações do enredo do drama original de Tasso obrigou o libretista a fazer mudanças significativas; os personagens históricos retratados no original não aparecem e a história se torna a de uma família fictícia e seu envolvimento nas Cruzadas.

Na análise de Julian Budden das origens da ópera: "Em 1843, qualquer assunto onde se mostrassem os italianos unidos contra um inimigo comum era perigoso, especialmente em na Milão austríaca. No entanto, por incrível que pareça, não foi a polícia, mas a igreja que censurou a história de I Lombardi ", uma vez que o arcebispo de Milão tinha ouvido rumores de que a obra continha elementos específicos do ritual católico. No entanto, dada a recusa de Verdi para fazer qualquer alteração para a música, foi uma sorte que o resultado das investigações do chefe de polícia diante das queixas do arcebispos resultasse apenas em pequenas alterações.





Embora o desempenho da estreia tenha sido um sucesso popular, reações críticas foram menos entusiastas e inevitáveis ​​comparações foram feitas com Nabucco.

SINOPSE:


Época: 1096 - 1097
Local: Milão, e em torno de Antióquia, e perto de Jerusalém





1.º Ato
O 1º ato ( ou seja, A Vingança) começa diante da Catedral de Milão onde uma multidão vem dar graças pela reconciliação entre os irmãos Arvino e Pagano, filhos do Senhor Folco.
 Pagano, ao ser rejeitado por Viclinda, tentara matar o seu rival, e irmão, Arvino, sendo, por isso, condenado ao exílio. Agora fora perdoado e regressara - se bem que muitos duvidem ainda da sinceridade do seu arrependimento. Apenas Viclinda, casada agora com Arvino, e a sua filha Giselda, parecem acreditar nele.

No meio das celebrações, um Padre anuncia mais uma cruzada à Terra Santa, designando Arvino como comandante das tropas lombardas. Enquanto se ouve ao longe um coro de Monges, Pagano confessa a Pirro, escudeiro do seu irmão, não estar arrependido dos seus crimes, bem pelo contrário: aquilo que mais deseja é possuir Viclinda, ao que Pirro responde dizendo estar disposto a ajudá-lo no seu pérfido intento.





Entretanto, no palácio, Viclinda e Giselda começam também a suspeitar das intenções de Pagano. Arvino pede-lhes para tomarem conta do pai, que está no seu quarto. Depois de rezarem uma Avé Maria, as mulheres saem.

Entram então Pirro e Pagano, que empunha um punhal. Os seus cúmplices atearam fogo ao palácio, e eles procuram Arvino dirigindo-se para os seus aposentos. Quando regressam, arrastando com eles Viclinda, são confrontados com Arvino que, ao ver o punhal ensanguentado, compreende que Pagano acabou de matar o próprio pai. Entra uma multidão que cerca os dois criminosos, e o ato termina com Pagano sendo de novo condenado ao exílio.





2.º Ato
O 2º ato, intitulado "O Homem da Gruta", passa-se na Antioquia, e inicia-se no palácio de Acciano, o tirano, que está reunido com os embaixadores dos países vizinhos para organizarem a resistência contra os Cruzados.

Chega Sofia, mulher de Acciano, secretamente convertida ao Cristianismo. Com ela vem o seu filho Oronte que está apaixonado por Giselda, prisioneira no harém do tirano - um sentimento que é visto por Sofia como um meio para converter o filho à Fé Cristã.





O segundo quadro passa-se junto duma gruta no deserto onde um Eremita espera impaciente a chegada dos Cruzados. Aproxima-se dele um homem que lhe pede humildemente o perdão dos pecados. Esse homem é Pirro, o escudeiro de Arvino, que renegou a Fé, e que é atualmente responsável pela segurança dos muros de Antioquia.

O Eremita diz-lhe que os seus pecados serão perdoados se ele abrir as portas da cidade aos Cruzados que se aproximam. Esses Cruzados são as tropas da Lombardia. Ao saber isto, o Eremita veste os seus trajes de combatente, e vai ao encontro das tropas de viseira baixa. A verdade é que o Eremita é de fato Pagano que tenta remir-se da sua culpa através do sacrifício.






Pagano dirige-se a Arvino, seu irmão, que não o reconhece, e que lhe pede para rezar pelo sucesso da causa, dizendo que a sua filha Giselda foi feita prisioneira pelos infiéis. O Eremita prediz ao chefe das tropas lombardas que irá encontrar a filha, e que, nessa mesma noite, armarão as suas tendas no interior de Antioquia.

O quadro seguinte passa-se no harém do palácio onde as mulheres cantam louvores ao amor de Oronte e Giselda, que está entregue à oração. Ouvem-se gritos, os turcos fogem e os cristãos avançam.




Entra então Sofia que anuncia que o marido e o filho foram mortos em combate. É assim que, quando chega Arvino, Sofia o aponta como sendo o assassino. O Cruzado aproxima-se de Giselda para a abraçar, mas ela afasta-o horrorizada, declarando, num fervor que toca as raias da loucura, que Deus nunca quis aquela carnificina. Arvino enfurece-se, desembainha o punhal, mas é agarrado antes de desferir o golpe.





3.º Ato
"A Conversão"

"A Conversão", o 3º ato de "I Lombardi", inicia-se no vale de Josaph onde os cruzados e os peregrinos louvam as belezas de Jerusalém e choram as desgraças que dominam a Terra Santa. Giselda chega sozinha. Ela deixou o acampamento do pai e queixa-se de que, mesmo naquele lugar, os seus pensamentos continuem dominados pelo amor a Oronte, que julga ter morrido.

Mas Oronte não morreu, está apenas gravemente ferido, e aparece agora na sua frente. Ele deixou tudo por Giselda, e fica feliz ao saber que ela está disposta a enfrentar todos os perigos ao seu lado. Ao ouvirem gritos de soldados, fogem.





Arvino continua dominado pela fúria contra a filha, e mais furioso fica quando é informado de que Pagano foi visto no acampamento dos cruzados. Deve ser um sinal do descontentamento divino. E Arvino conclui que Pagano deve morrer.

Entretanto Giselda ajudou Oronte a refugiar-se numa gruta de onde se pode ver o rio Jordão. Oronte está ferido de morte, e, no seu desespero, a jovem recrimina Deus amargamente. Aparece então o Eremita, aliás Pagano, perguntando quem ousa recriminar os Céus, e diz a Giselda que o seu amor é pecaminoso. Mas se Oronte aceitar receber o batismo, poderão ter uma nova vida juntos.

O Eremita parte para ir buscar ao rio a água para o batismo. Quando ficam sós, Oronte diz a Giselda que irá esperá-la no Céu. E morre.





4.º Ato
"O Santo Sepúlcro"

O 4º ato de "I Lombardi" intitula-se "O Santo Sepúlcro", e inicia-se com um sonho de Giselda onde vê Oronte que lhe diz que Deus escutou a sua oração, e que os cruzados recuperarão as forças com a água de Siloam. Quando Giselda acorda ela fica certa da vitória.

No acampamento dos Lombardos, oss cruzados e peregrinos recriminam Deus por tê-los conduzidos até àquele deserto árido. Depois um grito anuncia a descoberta duma fonte. Giselda aparece e diz que os Céus escutaram as suas orações: eles podem refrescar-se naquela fonte. Feliz, Arvino afirma aos seus homens que em breve poderão escalar as muralhas de Jerusalém.





Ouvem-se ruídos de batalha. Arvino e Giselda trazem o Eremita, mortalmente ferido, para o interior da tenda. Então o moribundo revela a sua verdadeira identidade: ele é Pagano, o parricida, que, sem intervenção do Destino, teria também morto o próprio irmão.

Nos últimos instantes de vida, pede a Arvino que não amaldiçoe a sua alma penitente. Arvino abraça-o. Depois Pagano pede para ver uma última vez a Cidade Santa. Jerusalém aparece iluminada pelo alvorecer. Pagano morre, e a ópera termina com os cruzados entoando um hino de vitória.







                                 




                                     

Levic

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