terça-feira, 18 de maio de 2010

26.4- Richard Wagner 5






Óperas abordadas nesta postagem:
Der Ring des Nibelungen (1863). Introdução



Wagner desenvolveu as premissas teóricas do que seria a obra de arte ideal, projetou e construiu, com ajuda do rei Ludwig da Baviera (grande admirador de Wagner e seu mecenas) um teatro especialmente para a encenação destas obras , o teatro de Bayreuth, que foi, inclusive, durante muitos anos, o melhor teatro do mundo em termos acústicos.


Em Tristão e Isolda, drama romântico, rompe com os padrões tradicionais da música ocidental, por suas harmonias suspensas e suas melodias cromáticas que beiram os limites do sistema tonal, que inclusive foi o principal fator que desencadeou a música moderna, numa antecipação da crise do tonalismo explicitada em obras posteriores de Mahler, Bruckner, Weber e Schoenberg.

Como nova fundação para seus dramas musicais, Wagner adotou o uso dos temas base, conhecidos como leitmotiv, que consistiam de melodias e progressões harmônicas recorrentes, frequentemente atreladas a certa orquestração. Sua função era denotar uma ação, objeto, emoção, personagem ou qualquer outro tema mencionado no texto ou apresentado no palco.




Wagner os referia em Oper und Drama como guias para o sentimento, descrevendo como eles podiam ser usados para informar ao ouvinte sobre um ponto paralelo da ação acontecendo, assim como o coro era usado no teatro da Grécia antiga. Apesar de outros compositores anteriores já usarem a técnica,  foi único pelo amplo uso e pela engenhosidade em sua combinação e desenvolvimento.




Na década de 1850, Wagner escreveu uma série de poemas, já com nome de Dramas Musicais e não como óperas, que mais tarde se transformariam no célebre "Der Ring des Nibelungen" (1856-1874) O Anel dos Nibelungos), a maior saga dramática que já foi posta em música.

 Nessa tetralogia, formada por "Das Rheingold" (O Ouro do Reno), "Die Walküre" (A Valquíria), " Siegfried" e "Götterdämmerung" (O Crepúsculo dos Deuses) deuses, homens, gigantes e anões retratam um universo em conflito mortal. Juntas, esta tetralogia tem quase 20 horas de duração, com cada ato, por sua vez, durando mais que uma hora sem interrupção alguma do discurso musical. O Ouro do Reno, a primeira, é na verdade um prólogo, e não tem nem ao menos divisão de atos.



O Anel do Nibelungo
Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo) é a maior e mais fabulosa obra da história da ópera, concebida e escrita por um compositor ímpar do romantismo alemão, Richard Wagner.
Integra quatro óperas, Das Rheingold (O Ouro do Reno) que é o prólogo às três seguintes, Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses).

A obra foi inspirada em contos tradicionais alemães e escandinavos mas teve também influência dos movimentos revolucionários do Século XIX e mudança radical das ordens estabelecidas.



Wagner concebeu um universo fantástico povoado por deuses míticos, homens e outros seres, entre eles os nibelungos (anões que vivem no interior da terra). A natureza é violada e as suas leis são ignoradas. Dominam o poder e a ganância mas, no final, o amor acaba por vencer. Tudo termina com os deuses a assistirem, impotentes, à sua destruição.

Nibelungos é a designação dada, na mitologia germânica, aos possuidores de um tesouro, o anel do Nibelungo. São habitantes do norte gelado de Niflheim, e que estavam ligados uma maldição, que foi aplicada também aos Burgundos, que, por intermédio de Siegfried, se apoderaram deste tesouro.




O assunto foi tratado em várias obras medievais, das quais sobressai o Nibelungenliedschaft saus deeutschalan, poema épico escrito a cerca de 1200 e também as obras nórdicas Thidrekssaga, Ältere Edda, Völsungasaga e Jüngere Edda.

O assunto do Nibelungenlied consta de duas partes distintas. Na primeira parte Siegfried chega à corte dos Burgundos, casa com Kriemhild e auxilia o rei Gunther a vencer as provas impostas por Brünhild a quem pretende desposá-la. Quando Brünhild, mais tarde, toma conhecimento deste fato, incita Hagen a matar Siegfried.




A segunda parte baseia-se em acontecimentos históricos: a derrota dos Burgundos pelos Hunos em 473 e a morte de Átila em 453. Etzel (Átila), rei dos Hunos, casado com Kriemhild, desejando apoderar-se do tesouro dos Burgundos, convida à sua corte os cunhados. No Nibelungenlied, contrariamente a outras versões, Kriemhild torna-se adversária dos irmãos e colabora na destruição dos Burgundos, vingando, assim, a morte de Siegfried. Nas versões nórdicas sobressai a mitologia germânica.

No século XIX o assuntos dos Nibelungos despertou o interesse de escritores que lhe deram nova configuração: são dignos de menção o drama de Fouqué Der Held des Nordens (1808-1810) e a triologia dramática de Friedrich Hebbel Die Nibelungen (1862).

Friedrich Rückert, Friedrich Hieronymus Münchhausen (Barão de Münchhausen) e Agnes Miegel foram autores de baladas e poesias monologadas baseadas em cenas do Nibelungenlied. Já no século XX, Paul Ernst e Max Mell apresentaram versões dramáticas deste assunto.



A mitologia do Anel dos Nibelungos é tema de um dos filmes do mestre do expressionismo alemão, Fritz Lang. Em sua obra, Fritz Lang, como a mitologia, a divide em duas partes "Nibelungos I: A Morte de Siegfried" e "Nibelungos II: A vingança de Kriemhild".

Muitos consideram que O Anel dos Nibelungos tenha sido uma das fontes de inspiração de J.R.R. Tolkien para o Um Anel e também o Anel de Barahir, embora Tolkien tenha negado diversas vezes.



O Anel dos Nibelungos é citado também, na obra fictícia de Masami Kurumada, Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco). Na série, o anel é usado por Posídon , deus dos mares, para controlar Hilda, senhora de Asgard, e iniciar uma rebelião contra Atena, e dominar a Terra.

No Jogo Valkyrie Profile, a personagem principal do jogo, Lenneth Valkyrie, é a possuidora do Anel dos Nibelungos, que por sua vez tem grande participação no enredo do jogo, podendo modificá-lo completamente caso o jogador o use em certas partes do jogo.

Há também uma citação do Anel dos Nibelungos no jogo Ragnarök Online, uma habilidade de dueto que aumentar o poder das armas de nível 4 em quem estiver na área de efeito.



O autor argentino Jorge Luis Borges cita a mitologia dos Nibelungos em seu conto "O Zahir", integrante do livro O Aleph, ao mencionar um conto fantástico que o narrador houvera escrito.

Há também o filme O Anel dos Nibelungos de 2004, com a participação de Robert Pattinson e dirigido por Uli Ede



A obra mais notável dentro desta tradição é a tetralogia dramático-musical de Richard Wagner Der Ring des Nibelungen (1863).




Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo) é um ciclo de quatro óperas épicas do compositor alemão Richard Wagner. Elas são adaptações dos personagens mitológicos das sagas nórdicas e do Nibelungenlied.

Wagner escreveu o libreto e a música por cerca de vinte e seis anos, de 1848 a 1874. Entretanto, ele não se dedicou exclusivamente a isso durante esse período. As óperas que compõem o ciclo do anel são, em ordem cronológica do enredo: Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses). Apesar delas serem apresentadas como obras individuais, a intenção de Wagner era apresentá-las em série.



A primeira apresentação de todo o ciclo aconteceu em Bayreuth, 13 de agosto de 1876. Das Rheingold já havia estreado em Munique em 1869, a contragosto do autor.

O ciclo é modelado assim como os dramas do teatro grego em que eram apresentadas três tragédias e uma peça satírica. A história do Anel propriamente dita começa com Die Walküre e termina com Götterdämmerung, de forma que Das Rheingold serve como um prelúdio.



A música do ciclo é forte, e cresce em complexidade com o desenrolar da história. Wagner escreveu para uma orquestra de grandes proporções, incluindo novos instrumentos como a trompa wagneriana, o trompete baixo e o trombone contrabaixo. Ele também construiu um teatro para apresentar sua obra, o Bayreuth Festspielhaus. O local possuía um palco especial que combinava os sons da orquestra e dos atores, permitindo-os cantar naturalmente.

A execução completa do ciclo dura cerca de quinze horas, e o tema é épico. Há vários deuses, gnomos, e outras criaturas mitológicas em volta do anel mágico cuja posse garante poder sobre todo o mundo. O drama e a intriga continuam por três gerações de protagonistas.

Desde sua estreia, o Anel foi sujeito à diversas interpretações. Em "The Perfect Wagnerite", George Bernard Shaw interpreta a obra como uma crítica socialista à sociedade industrial e seus abusos."Wagner's Ring and its Symbols", Robert Donington interpreta a obra sob ótica da psicologia junguiana, como demonstração do desenvolvimento dos princípios inconscientes da mente, levando à individualização.



Cada uma delas:
Das Rheingold
Wagner criou a história do anel ao fundir elementos de diversas histórias e mitos das mitologias germânica e escandinávia. Os Eddas forneceram material para Das Rheingold, enquanto Die Walküre é amplamente baseada na Saga dos Volsungos. Siegfried contém elementos dos Eddas, da Saga dos Volsungos e da Saga Thidreks. A ópera final, Götterdämmerung, é baseada no poema do século XII Nibelungenlied, que foi a inspiração original para o Anel.

Ao agregar tais fontes numa história concisa, Wagner também acrescentou diversos conceitos modernos. Um dos principais temas do ciclo é a luta do amor, o que está associada à natureza, e liberdade, contra o poder, o que está associada à civilização e à lei. Logo na primeira cena, o anão Alberich define o tema ao renunciar ao amor, um ato que lhe permite adquirir o poder de dominar o mundo ao forjar o anel mágico. Na última cena da primeira ópera o anel é tirado do anão, então ele o amaldiçoa.




Die Walküre
O centro da história é o anel mágico forjado pelo anão Alberich, o nibelungo do título, a partir do ouro roubado do rio Reno quando as donzelas do Reno se distraíram. Diversas personagens míticas lutam pela posse do objeto, incluindo Wotan, o chefe dos deuses. Os acontecimentos são bastante influenciados pelos planos dele, que leva gerações para superar as próprias limitações.

A valquíria Brünnhilde, a mais querida das nove pelo pai Wotan, é o tema da segunda ópera. Como as irmãs, é encarregada de levar para o Valhala as almas dos guerreiros mortos. Ela hesita em obedecer ao pai, separando os irmãos-amantes que são filhos do Walsung, o próprio Wotan em forma de lobo. A morte de Siegmund é exigência da deusa da fidelidade conjugal, Fricka. A criança que nascerá da união ilegal é Siegfried. O castigo de Brunhilde é dormir cercada por um círculo de fogo, até que alguém que não tenha medo venha resgatá-la.




Siegfried
Em Siegfried, o filho de Siegmund e Sieglinde já é um jovem, que foi criado pelo anão Mime. Em Götterdämmerung, depois das cenas das nornas, que perdem a capacidade de ver o destino, Siegfried se despede de Brünnhilde para partir a novas aventuras.




Götterdämmerung
Brünnhilde descobre ter sido traída pelo próprio Siegfried, embora não saiba a razão, e o acusa em público. Ela revela a Hagen como assassiná-lo - pelas costas.

Depois de uma longa marcha fúnebre, chega-se à cena final da obra: Hagen mata Gunther para ficar com o anel, mas a mão do cadáver de Siegfried impede que ele lhe seja tirado. Brünnhilde, na longa cena de imolação, faz com que o ouro e o anel sejam devolvidos às Filhas do Reno e ela mesma se imola, bem como aos deuses e a Valhala, na purificação final pelo fogo. Hagen morre afogado no Reno, tentando recuperar o anel.



Em suas óperas anteriores, Wagner procurou evitar o uso do recitativo. Para o Anel, ele decidiu abolir seu uso completamente e adotar um estilo mais contínuo, em que cada ato de cada ópera seria uma peça musical contínua, sem qualquer intervalo. Em seu ensaio Oper und Drama (Ópera e Drama),1 2 ele descreve a forma como poesia, música e artes visuais devem ser combinadas para formar o que chama "o trabalho artístico do futuro". Ele nomeia tais obras "dramas musicais", e desde então raramente se referiu a seu trabalho como ópera.

Qualquer tema relevante no Anel é geralmente acompanhado por um leitmotif, e há várias partes da música construídas exclusivamente através deles. Um exemplo ocorre em Götterdämmerung: a jornada de Siegfried pelo rio Reno é descrevida primeiramente através de uma rapsódia do tema de Siegfried, que então chega ao tema do Reno e finalmente no tema do salão do gibichungos. Há dezenas de temas individuais espalhados pela obra, inclusive em mais de uma ópera.



 As personagens principais incluem:
- os Deuses: Wotan (baixo-barítono), disfarçado de viajante (wanderer) na ópera Siegfried, Fricka (mezzo-soprano), sua mulher, Loge (tenor), deus do fogo, Freia (soprano), deusa da juventude, irmã de Fricka, Donner (barítono), deus do trovão, Froh (tenor), deus da felicidade, Erda (contralto), deusa da terra.
- os Wälsungs, descendentes de Wälse (Wotan): Siegmung (tenor), Sieglinde (soprano), irmãos gémeos e Siegfried (tenor), filho de ambos.
- as Valquírias, guerreiras virgens filhas de Wotan: Brünnhilde (soprano), Waltraute (mezzo-soprano), e mais sete.
- as 3 Nornas (soprano, mezzo-soprano e contralto), filhas de Erda, que tecem os fios do destino.
- as Filhas do Reno (sopranos e contralto), 3 ninfas.
- Hunding (baixo), marido de Sieglinde.
- uma ave (soprano) da floresta.
- os Nibelungos Alberich (barítono), Mime (tenor), Hagen (baixo), filho de Alberich e outros, anões que habitam o Nibelheim, um reino subterrâneo.
- os gigantes Fafner (baixo) e Fasolt (baixo-barítono) que constroem Walhall, o castelo dos deuses.
- os Gibichung, Gunther (barítono) e Gutrune (soprano), habitantes de um palácio real no Reno.

Sob insistência do rei Ludwig, mas a contragosto de Wagner, apresentações especiais de Das Rheingold e Die Walküre aconteceram no Teatro Nacional em Munique, antes da apresentação completa da obra. Portanto, Das Rheingold estreou em 22 de setembro de 1869, eDie Walküre em 26 de junho de 1870. Temendo a repetição dos fatos, Wagner atrasou o anúncio do término de Siegfried para evitar sua estreia precoce.



Durante anos, Wagner desejou ter uma casa de óperas especialmente, desenvolvida por ela, para as apresentações do Anel. Em 1871, ele decidiu a localização, na cidade de Bayreuth. No ano seguinte ele já havia se mudado para o lugar, a fim de começar as obras. Pelos dois anos seguintes ele tentou conseguir os recursos financeiros para a construção, sem sucesso. o rei Ludwig finalmente decidiu ajudá-lo na empreitada, em 1874, ao doar a quantia necessária. O Bayreuth Festspielhaus foi aberto em 1876 para a primeira apresentação completa do ciclo, que aconteceu de 13 a 17 de agosto.

Em 1882,3 o empresário inglês Alfred Schulz-Curtius organizou a primeira apresentação da obra no reino Unido, conduzida por Anton Seidl e dirigida por Angelo Neumann. A estreia na Itália ocorreu em Veneza, local da morte de Wagner, apenas dois meses após seu falecimento em 1883.




Gwyneth Jones na apresentação de Der Ring des Nibelungen de 1976 conduzida por Pierre Boulez e dirigida por Patrice Chéreau.
A apresentação completa do ciclo é feita na maioria dos anos do Festival de Bayreuth, e a apresentação de uma nova produção se tornou um evento social comparecido por diversas personalidades contemporâneas, não somente da música. É difícil encontrar ingressos, que geralmente são reservados vários anos antes.

A obra é um enorme comprometimento para qualquer companhia de ópera, a apresentação das quatro óperas interligadas requer grande esforço tanto do ponto artístico quanto do financeiro. Na maioria das casas de ópera, a produção ocorre por diversos anos, de forma que uma ou duas óperas são adicionadas ao repertório a cada ano; Bayreuth é uma exceção nesse aspecto. As primeiras produções tentavam manter a visão original de Wagner.

A partir do fechamento do Festspielhaus durante a Segunda Guerra Mundial, produções dos netos do compositor ,Wieland e Wolfgang Wagner, passaram a ocorrer, enfatizando os aspectos humanos do drama em abordagens mais abstratas. Uma produção bem conhecida é a de 1976 dirigida por Patrice Chéreau e conduzida por Pierre Boulez.

Ambientada na revolução industrial, ela substituiu as profundezas do Reno por usinas hidrelétricas, além dos deuses representados por empresários de terno.  As primeiras apresentações foram vaiadas, mas o público de 1980 ovacionou a obra por noventa minutos em seu último ano; a produção é atualmente considerada um clássico.
Essa leitura da obra como uma drama revolucionário e crítica ao mundo moderno também foi descrita por George Bernard Shaw em The Perfect Wagnerite.




As diferentes produções tendem a ser classificadas em duas categorias: as que tentam seguir fielmente a visão original de Wagner quanto ao cenário e direção, e as que procurar reinterpretar a obra para temas modernos, geralmente adicionando elementos estranhos ao conceito original.

Por sua relevância musical, Der Ring des Nibelungen já foi referenciada em diversos momentos da cultura popular, incluindo paródias. Uma delas é o desenho animado What's Opera, Doc? de 1957, em que Pernalonga atua como Brünnhilde e Hortelino Troca-Letras como Siegfried.





A comediante Anna Russell apresentava seu texto O Anel do Nibelungo (Uma Análise), que discute diversos aspectos dos leitmotifs em tom humorístico. Ele chamava a atenção para elementos sutis que muitos não notavam na ópera.





 Já Anthony Burgess escreveu uma versão do ciclo do Anel sob forma de romance, The Worm and the Ring (1961), transpondo a ação para uma escola de Oxfordshire.




De J. R. R. Tolkien, a série de livros "O Senhor dos Anéis" aparenta referenciar alguns elementos do ciclo do Anel; entretanto, o próprio autor negou ter se inspirado no trabalho de Wagner. Algumas das similaridades se devem ao fato de ambos terem referenciado as mesmas fontes mitológicas para suas respectivas obras, incluindo a Saga dos Volsungos e o Edda em verso. O Primeiro Ato, intitulado "O Ouro do Reno", é protagonizado por Alberich, um anão da terra dos Nibelungos que, após tentar nadar com três ninfas no Rio Reno, acaba descobrindo uma enorme quantidade de ouro no fundo do rio, o Ouro do Reno.

Se, deste ouro, segundo rezavam as lendas, fosse forjado um anel, este daria poder e riqueza inimagináveis ao seu portador - assim como acontece na obra de Tolkien.
Entretanto, diversas reviravoltas acontecem no decorrer da história , sendo a primeira delas é quando Wotan (mais conhecido como Odin) deve pagamento a dois gigantes que construíram seu castelo dourado, o Valhalla, e o deus desce à terra dos Nibelungos procurando Alberich, que se tornou tirano e muito, muito rico. Wotan vai até lá para pegar o ouro do anão, mas acaba voltando com uma coisa a mais: o Anel.



Já de volta, o deus põe-se na frente dos gigantes e lhes entrega todo o ouro; porém, eles desejam o anel. Os gigantes (que se chamam Fafner e Fasolt, e são irmãos) conseguem roubar o anel, mas não decidem com quem ele vai ficar. Resultado: Fafner mata o irmão, foge com o   Anel e com outro dos bens do anão, o Elmo de Tarn, que dá o poder da metamorfose a quem o usar. De posse destes dois artefatos, o gigante transforma-se em dragão, e passa o resto da sua vida (até ser morto por um herói no Terceiro Ato) guardando o anel em uma caverna repleta de riquezas.

Apenas neste pequeno resumo já foram percebidas semelhanças com a história de J.R.R. Tolkien: o Anel, que dá poder ao seu dono; a ganância que todos sentem ao vê-lo; as atrocidades que cada um faz para ficar de posse dele; o dragão que guarda um tesouro.

Tolkien se inspirou em algumas ideias e fontes de Wagner, como o conceito do anel dar ao seu dono o domínio sobre o universo, e a influência corrupta nas mentes de quem o possui.




L. Frank Baum era um apreciador da obra de Wagner, e se apropriou de algumas de suas histórias, como em John Dough and the Cherub, um músico endoidecido grita que é "maior que Vogner". Em Ozma of Oz, Dorothy retorna à Oz e se junta a uma expedição para resgatar a família de reféns do Rei, cujo cinto mágico o dava os mesmos poderes do Tarnhelm, o elmo mágico de Siegfried.



Trechos específicos da obra também ganharam atenção em diferentes medias. Um destaque nesse aspecto é a Cavalgada das Valquírias, o início do terceiro ato de Die Walküre. Difundida por seu uso no filme Apocalypse Now (1979), o trecho é usado como um estereótipo da Grand Ópera.




A saga de Asgard do anime Cavaleiros do zodíaco é repleta de referências a essa ópera desde os nomes dos guerreiros deuses e aos objetos-chave da saga com o anel dos nibelungos que Hilda de Polaris usava,a espada Balmung que o protagonista Seiya de Pégaso e seus companheiros buscavam até as armaduras dos guerreiros deuses usavam que eram repletas de referências a monstros e animais da mitologia nórdica e elementos dessa ópera.



Só por aí já dá para se ter uma idéia da revolução que este homem promoveu. Ao unir a narrativa sinfônica (através de seu grande mestre Beethoven) à ação dramática do palco e das vozes, Wagner não influenciou apenas o mundo da ópera, mas toda a música da segunda metade do século XIX.

Daí sua importância capital para a música como um todo, e não apenas para o universo operístico, antes nitidamente separado das demais manifestações puramente instrumentais.



Em conclusão, podemos dizer que Wagner a partir do poema A Canção dos Nibelungos, juntamente com as demais fontes que utilizou, pôde manipular as histórias, assim como seus principais elementos e personagens, para construir o seu libreto. Apesar da forte influência germânica no resultado final da história, é evidente a intenção do compositor em forjar, dentro do pano de fundo mitológico e medieval utilizado, um drama que ultrapassasse os limites temporais e geográficos, para assim atingir um efeito universal, onde o drama humano seria o grande material a ser trabalhado.

Para isso, ele uniu na mesma história mitologia pré-cristã, lendas medievais cristãs e tradições pagãs, construindo assim uma história recheada de elementos simbólicos. No texto da A Canção dos Nibelungos encontramos raças distintas, mas na obra de Wagner essa diversificação da origem dos personagens vai além das diferenças geográficas, e temos uma situação um pouco mais complexa, pois Wagner descreve raças muito diferentes que se encontram em pontos opostos do universo tratado pelo compositor. O que talvez faça uma subliminar sugestão da superioridade de algumas raças.




Utilizando-se de personagens oriundos desses povos, Wagner constrói uma história que tem como tema central a disputa de poder. Um poderoso anel é forjado a partir do ouro roubado por um Nibelungo das águas do rio Reno, e quem portar esse anel terá poder suficiente para dominar todo o mundo.  Esse motivo desperta o interesse do deus Wotan, que, para resgatar o anel, passa a preparar um verdadeiro herói que desconheça o medo e recupere o anel que é guardado por um dragão. Esse herói vem a ser Siegfried, filho dos irmãos Siglinde e Sigmund, da raça dos Volsunga, também filhos de Wotan com uma terrestre.

Essa utilização de elementos mitológicos e folclóricos europeus pelo compositor nesse ciclo não deixa dúvidas de sua intenção de retratar a grandiosidade da cultura germânica através da universalidade. Wagner expande os limites geográficos das histórias originais escolhidas por ele, não só para além dos territórios germânicos, mas também para além do mundo terreno, criando um ambiente universal.

A solução do drama, alcançado pelas mãos de um verdadeiro herói filho, de um casal de irmãos descendente dos deuses, reforça a idéia de raça pura ou de supremacia de um povo sobre outros.
Sua extensa obra sobre música, drama e política tem atraído extensos comentários, em recentes décadas, especialmente onde existe o conteúdo antissemita.



Vamos abordar cada ópera da tetralogia, só por efeito de organização, nos próximos posts.
  Levic

2 comentários:

  1. Vítor Duarte disse...

    Para mim, qualquer peça de Wagner é um equilíbrio perfeito entre delicadeza, tensão e triunfo! Mas se você se interessa realmente por música clássica, não deve perder de vista esse site http://cotonete.clix.pt/ que tem tudo quanto há para ouvir (barroca, medieval, contemporânea, romântica, etc.) Eu fiquei completamente rendido à diversidade da oferta do site, estou viciado! Essa foi uma sugestão de um amigo e não páro de divulgar. É realmente bom!

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  2. George disse...

    O que é isso??? A enciclopédia da ópera??? rs

    Está ótimo o blog!

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