domingo, 27 de fevereiro de 2011

79- Inglaterra- séc.XX 4 -Harrisson Birtwistle


Harrisson Birtwistle é um compositor inglês contemporâneo que nasceu em Accrington, Lancashire em 1934, e foi estudar no Royal College of Music Manchester, em Manchester com uma bolsa para estudar clarinete. Lá, reuniu colegas compositores como Peter Maxwell Davies, Alexander Goehr, o pianista João Ogdon e o maestro Elgar Howarth, formando um grupo em busca de inspiração para uma verdadeira inovação da música inglesa (New Music Group).


A admiração da música e das idéias de Stravinsky e a preocupação com o poder catártico do drama grego foram as influências decisivas de sua trajetória criativa.

Em 1965, Harkness Clube deu-lhe uma oportunidade para continuar seus estudos nos Estados Unidos, e ele, assim, decidiu dedicar-se à composição.

Em 1975 tornou-se diretor musical da recém-criada Royal National Theater, em Londres, um lugar que ocupou até 1983. Ele foi honrado com uma fidalguia (1988) e como um companheiro de Honra (2001). De 1994 a 2001 foi Professor em Composição do Henry Purcell no King's College, em Londres.

As óperas que marcaram sucesso foram :
Punch and Judy (1967),
The Mask of Orpheus (1984), ópera e tape,vencedor de 1987 do Grawemeyer Award,
The Second Mrs Kong (1994),
Gawain (1990),
Down by the Greenwood Side (1969),
The Last Supper (2000),
The Minotaur (2008).

A ópera Punch and Judy é uma comédia trágica em um ato, com libreto de Stephen Pruslin tendo estreada no Festival de Aldebrugh em 1968. O tema é de uma história conhecida do povo inglês, facilitando a compreensão ao utilizar todo o imaginário e a parafernália do original.

A obra causou grande polêmcia com os membros da audiência por causa da violência da trama e da natureza da música. No decorrer da ópera, Mr.Punch comete uma série de assassinatos, incluindo o do seu próprio bebê. Ele também persegue Pretty Polly, uma figura idealizada, em busca de resgate e reintegração na sociedade.



The Mask of Orpheus, é uma ópera em tres atos, com o libreto de Peter Zinovieff, com estreia em 1986. A história é contada com entrelaçamentos, mas pode-se dizer que se trata de Orfeu recebendo as instruções de Apolo, apaixona-se por Eurídice casando-se com ela, Eurídice é seduzida por Aristeu , morre e finalmente o oráculo dos mortos diz a Orfeu como resgatá-la do inferno. Cada um dos personagens principais - Orfeu, Eurídice, Aristeu - é confiado a tres intérpretes (dois cantores e um mímico) e a história é constantemente recontada e a música retrabalhada. A ópera não usa só o canto para fazer avançar a narrativa, mas usa a dança, a mímica e outros recursos.


The Second Mrs Kong é uma ópera onde fato e ficção, o passado, o presente e o futuro são as almas dos mortos para o mundo de sombras. Eles ( os personagens) revivem memórias. Vermeer vê Pearl e se apaixona por ela, porém ela sabe que se unirá a Kong, mas é à idéia dele, porque nunca houve um Kong, apenas um mito cinematográfico, criado a partir de marionetes e ângulos de câmera. Pearl é uma 'imagem', tirada do retrato "Moça com Brinco de Pérola" de Vermeer. Pearl, agora um retrato na parede, vê o filme de King Kong na televisão. Ela procura por ele pelo computador e eles se apaixonam. Kong está determinado a encontrar Pearl. A esfinge Madame Lena tenta sem sucesso seduzir Kong. Hong Kong encontra uma figura sinistra, a morte de Hong Kong, e então sabe que nunca vai morrer. Ele e Pearl vão se encontrar, mas seu amor não pode ser desenvolvido, porque ambos são apenas "idéias", e não pessoas reais.


A trama de Gawain é ideal para abordagem de Birtwistle à sua estrutura musical. A estrutura repetitiva de eventos pode ser comparada com uma estrutura musical repetitiva. Assim, as três caças usam o mesmo material musical, como também as três seduções. A música é variada e adaptada a cada vez que é ouvida, com uma coerência interna estabelecida. Assim, embora a ópera não seja escrita com muitos números explicitamente (ou seja, as árias e peças do conjunto característico de uma ópera clássica), e nem tampouco com uma definida leitmotiv no estilo de Wagner, existe uma unidade global no material musical. Há muitas ocasiões em que um personagem vai simplesmente repetir uma linha do texto e sempre configurá-lo para a mesma frase melódica, mas isto não é o mesmo que usar um fio condutor. E, no entanto, se encaixam bem com o estilo de Birtwistle, que utiliza uma variação contínua no meio da repetição.

Down by the Greenwood Side é uma outra ópera.Abaixo o vídeo com um trecho:



The Last Supper é uma releitura contemporânea da Última Ceia. Trata-se de um personagem (Ghost), que representa nós mesmos, a platéia. O espírito de Cristo convida seus discípulos à ceia. O drama que segue contrapõe antigos e novos, judeus e cristãos para levantar questões sobre o mito/história da última ceia e seu significado no nosso contexto moderno. A ópera termina no Jardim das Oliveiras, com Cristo perguntando:"Quem procurais?" e, em seguida, um galo canta.

The Minotaur, é uma ópera em dois atos e treze
cenas, cujo libreto é do poeta David Harsent.


"O Minotauro não compreende inteiramente a dualidade de sua natureza física, pois é como meio touro e metade homem. Somente no sono e, finalmente, na morte pode se tornar evidente o seu lado humano . Ariadne espera que, com a ajuda da Oracle, ela irá permitir a Teseu encontrar um caminho para sair do labirinto, devendo ele sobreviver após o seu encontro com o Minotauro. Ela acredita que pode persuadir Teseu a levá-la de volta com ele para Atenas. Ambos vêem o Minotauro como bode expiatório e libertação".






Apesar deste compromisso com a ópera, a saída cada vez mais prolífica para Birtwistle continua ser a de incluir muitos trabalhos puramente instrumental, como a magistral Secret Theatre (1985), o maciço da Terra Dances (1986) para orquestra, e uma seqüência de "concertos" (o rótulo é minimamente adequado) para trompete Parade (Endless, 1987), piano (Antiphonies, 1993), tuba (The Cry of Anubis, 1994) e saxofone Panic (de 1995). Suas obras revelam uma selvageria , vulcânica, debaixo de um lirismo ricamente pungente.


Levic

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

78- Inglaterra-séc.XX 3 Gustav Holst e Sir William T.Walton




Gustav Holst (Cheltenham, 21 de setembro de 1874 — Londres, 25 de maio de 1934) foi um compositor inglês, conhecido pela sua obra "Os Planetas" e por obras baseadas na literatura hindu e nas canções folclóricas inglesas. É o pai da compositora e diretora de orquestra Imogen Holst.

Seu nome original era Gustavus Theodor von Holst, filho de Adolph, um pianista de origem sueca. Desde muito cedo respirou melodia e harmonia. Apesar de ter sofrido com a anemia e com a visão fraca na infância, aos treze anos já havia lido o Tratado de Instrumentação de Berlioz.


A música "Os Planetas" pode ser ouvida aqui.
http://www.youtube.com/watch?v=L0bcRCCg01I


Aluno de Charles Villiers Stanford no Colégio Real de Música, onde viria a ser professor de composição (1919), conheceu Ralph Vaughan Williams (1895), de quem se tornou grande amigo.

De notável originalidade, sua forte personalidade deixava transparecer um espírito curioso. Interessou-se muito pelas civilizações orientais e pela literatura védica.



A influência mística em sua obra alcança o ponto culminante na composição coral "The hymn of Jesus" (1920), em que utilizou textos apócrifos do Novo Testamento.

Mais tarde, começou a mostrar interesse pela produção folclórica de seu país, como mostra em sua ópera "At the board’s head (1924)".

Participou da orquestra da Ópera Carl Rosa, como primeiro trombone e na Ópera Escocesa e depois, foi organista da Ópera Real de Londres, dedicando-se quase que integralmente ao ensino e pouco tempo para a composição.

A sua ópera "At the board’s head é apresentada em um ato, tendo sido baseada em Henry IV de Shakespeare.

A ópera recebeu a sua primeira apresentação no Teatro Palace, em Manchester, em 3 de abril de 1925, pelo britânico National Opera Company, tendo como regente Malcolm Sargent.

A sua primeira ópera, entretanto, foi estreada em Londres, em 1916. Tem o título de Savitri, e é um episódio do Maha Bharata, tendo o compositor feito o texto e o libreto. A história se passa na Índia, e conta que a voz da morte chama Savitri para lhe dizer que vai levar o seu marido, Satyavan. Este se encontra belo e feliz, cantando as belezas e encontra sua mulher abatida. Ela pressente os passos da morte que chega e abate seu marido. Ela o carrega e diz para morte que ela é bem-vinda, pois deseja ir com o marido. A morte não lhe concede o desejo, mas como ela foi gentil e soube argumentar sobre a vida, lhe concederá a volta do marido.






Sir William Turner Walton OM (Oldham, Lancashire, Inglaterra, 29 de março de 1902 — Ischia, Itália, 8 de março de 1983) foi um compositor e maestro inglês que criou bandas sonoras clássicas.


Em 1944, inicia a primeira colaboração com o ator e cineasta Laurence Olivier no filme: Henrique V (Henry V) (1944), Hamlet (Hamlet) (1948), Ricardo III (Richard III) (1955) e As Três Irmãs (Three Sisters) (1970).



Seu estilo foi influenciado pelas obras de Stravinsky e Prokofiev, bem como música de jazz, e é caracterizada pela vitalidade rítmica. Sua produção inclui obras orquestrais e coral, música de câmara e música cerimonial, bem como a notável produção cinematográfica.


Suas primeiras obras, especialmente com Edith Sitwell com o seu poema "Façade" trouxe notoriedade como um modernista, mas foi com a orquestra sinfônica e obras de oratório Belshazzar's Feast que ganhou reconhecimento internacional.


Aqui nós temos o vídeo de Sitwell and Walton:





Neste vídeo abaixo estão uma sequência do oratório, que lhe deu fama:





Suas óperas são: Troilus and Cressida (1954, com libreto de

Christopher Hassall );












The Bear, ópera em um acto (1967, basedo em The Bear or The Boor de Anton Chekhov).






Troilus and Cressida é uma ópera em tres atos com o libreto de Christopher Hassal, que estreou no Coven Garden, em Londres, em 1954. Embora Shakespeare tenha obra com o mesmo nome, esta ópera não foi baseada nela, mas na "The Allegory of Love" de C.S.Lewis e nos excertos de obras de Chaucer e Boccaccio. O enredo se passa em Troia, no séc. XII a.C. É uma história de amor entre Troilo e Cressilda, no meio de traição, ciúmes e outros amores, mortes e suicídio.



The Bear, a outra ópera,com libreto de Paul Dehn, teve sua estreia no Festival de Aldeburgh em 1967. É uma ópera em um ato e se passa na Rússia em 1888, baseada na peça de Anton Chekhov.

O cenário é a sala da casa Yelina Ivanovna Popova que é uma viúva, fiel à memória de seu falecido marido. O seu seu servo, Luka, faz observações sobre a tristeza da viúva. Smirnov, um dos credores de Popov, aparece. Durante o curso da história, fica claro que Popov foi promíscuo e infiel à esposa. Smirnov e Popova começam a brigar, até o ponto em que Smirnov propõe um duelo, para estabelecer uma igualdade entre os sexos. Popova aceita e vai buscar a arma do marido, pedindo que seu inimigo lhe ensine a atirar. Smirnov começa a lhe dar a lição, mas antes mesmo de acabá-la, se vê apaixonado, oferecendo-lhe o seu amor. Popova chama o criado para ele ir embora, mas quando este chega já os encontra em beijos e abraçados. À medida que a ópera termina, Luka olha com descrença os novos amantes. O encanto da ópera é porque ela é salpicada de paródias de outros compositores.






William Walton compôs ainda dois ballets: The Quest (A Busca), escrito por Frederick Ashton, em 1943 e um outro baseado na música de JS Bach, em 1940, intitulado The Wise Virgins (As Sábias Virgens).

Levic

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

77- Inglaterra -séc.XX 2 - Vaughan Williams





Ralph Vaughan Williams (12 de outubro de 1872 — 26 de agosto de 1958) ou somente Vaughan Williams, como é conhecido popularmente, foi um compositor inglês que trouxe muita contribuição à música.

Foi professor de composição no Royal College de Londres após servir como artilheiro na primeira guerra mundial e compôs uma obra extensa, que inclui nove sinfonias, concertos para piano, inúmeras composições orquestrais e corais e várias coleções de canções, assim como óperas e peças cênicas, como Hugh the Drover (1924) e The Pilgrim's Progress (1951), esta última de fundo místico, mas todas notáveis por sua intensidade dramática.

Viúvo (1951) dois anos depois casou-se (1953) com a poeta e também viúva Ursula Wood (1911-2007), sua conhecida de mais de 15 anos, revisora e assistente.

Músico que desempenhou um papel histórico por contribuir para libertar a música britânica de sua tradicional dependência dos modelos alemães, e sem deixar filhos, morreu em Londres, aos 85 anos.

Suas óperas são: Hugh the Drover ou Love in the Stocks (1910-20) Hugh, o Tropeiro;

Sir John in Love (1924-28),com a variação Fantasia em Greensleeves;

The Poisoned Kiss (1927-29, com revisões 1936-37 e 1956-57) O Beijo Envenenado;

Riders to the Sea (1925-32), da peça de John Millington Synge - Os Cavaleiros do Mar;

The Pilgrim's Progress (1909-51), baseado na alegoria de John Bunyan - A Jornada do Peregrino.

Hugh, o Tropeiro é uma ópera em dois atos e com o libreto de Harold Child, com estreia em Londres em 1924. Vaughan fez ampla utilização de canções folclóricas, o que não só dá um sabor todo especial à música como afeta o próprio tratamento da história. Esta se passa numa aldeia em Cotswolds, Inglaterra, por volta de de 1812. Numa feira, o apresentador traz consigo um boneco representando Napoleão "Boneyparty", que será incendiado para alegria dos moradores. Mary vai se casar do dia seguinte com John, o açougueiro e o homem mais rico de lá, mas ela não está feliz porque não o ama. Passa por perto dela um estranho, o Hugh que a olha e para ambos é amor à primeira vista. Ele lhe oferece em vez de riqueza, uma vida errante de muito trabalho. Mary aceita, sabendo que só com ele pode ser feliz. Entretanto, John não aceita os fatos e entra em luta corporal com Hugh, que vence no final. Despeitado, John acusa-o de espião francês e assim ele é levado à prisão. Não acaba aí...Outras cenas virão.

A Fantasia em Greensleeves, da ópera Sir John in Love,é uma variação sobre a canção folclórica inglesa Greensleeves, supostamente de autor desconhecido.



Por ser uma canção muito apreciada, ela ganhou vários arranjos.
http://www.youtube.com/watch?v=lmOb5H8kL30
http://www.youtube.com/watch?v=P5ItNxpwChE
http://www.youtube.com/watch?v=GaEVRw0AtdY
http://www.youtube.com/watch?v=EG8WFxAlXDE

Ainda da ópera Sir John in Love um trecho: Thine Own True Night...Hey Nonny Nonny.


O Beijo Envenenado tem o libreto de Evelyn Sharp, baseado em conto de Richard Garnett e na narrativa de Nathaniel Hawthorne sobre a jovem de Rapaccini. Estreia em Cambridge,1936.

Apresentada como uma fantasia romântica, a ópera é na realidade um conto de fadas musicado de forma particularmente sedutora. Existe um mago na floresta que tem uma filha que ele a alimenta com carne de cobra, para ela possuir o veneno quando for beijar o filho da rainha. Este é o plano de vingança do mago para castigar a rainha que, tempos atrás, recusou o seu amor.Tormentilla, a filha, encontra um pastor que lhe salva a vida, matando uma cobra que a ameaçava. Mas ela não tem medo de cobra e chora a sua morte. Este pastor é o príncipe com identidade disfarçada. No final, todos ficam felizes e se casam todos: a rainha com o mago, a criada com o bufão e o príncipe com a filha do mago.


Riders to the Sea (Os Cavaleiros do Mar), tem o libreto de J.M.Synge, cuja estreia foi em Londres em 1937. A história se passa numa ilha ocidental da Irlanda, no início do séculoXX. É um drama musical que segue quase palavra por palavra a peça em um ato. É uma comunidade pesqueira da ilha de Arran. Começa com um prelúdio descrevendo o mar, que se agita. Aparecem umas roupas no mar e as pessoas quem saber quem morreu afogado, já que alguns pescadores ainda não voltaram.


No vídeo abaixo, mostra toda a sequência nos vídeos correlacionados. O primeiro será colocado.




The Pilgrim's Progress (A jornada do peregrino)tem um prólogo, quatro atos e um epílogo. Foi feita com base na alegoria homônima de Bunyan, estreando em 1951, em Londres. O peregrino, numa visão, aparece com um fardo nas costas, sem rumo e desatinado. O evangelista aparece e encaminha o peregrino para o Portão do Arco, estimulando-o a suportar o fardo até chegar ao lugar da libertação. O peregrino faz menção de partir e surgem quatro vizinhos: Dócil, Obstinado, Desconfiado e Timorato, que tentam dissuadi-lo da temerosa empreitada. Concitado pelo evangelista, ele se encaminha novamente em busca da "Vida, eterna vida".




Ele foi premiado com o OM (Ordem de Mérito) em 1935 por seus serviços à música.


Levic

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

76- Inglaterra-séc.XX 1- Frederick Delius



A morte prematura de Henry Purcell retardou o projeto de criação de uma ópera nacional inglesa. Só na passagem do século XIX para o XX, durante uma fase conhecida como “Renascença Musical Britânica” é que, com autores como VaughanWilliams, Delius, Ethel Smith, Rutland Boughton, a ópera inglesa começou a adquirir um perfil próprio, claramente. Mas isso não significa que a Grã-Bretanha não tivesse, desde os primórdios da dinastia Tudor, uma vida musical rica e diversificada, como já vimos anteriormente nos outros séculos.


Compositores significativos já apareceram no século XIV, como no caso de John Dunstable. Nos séculos XVI e XVII, de alta música religiosa e madrigalista, imortalizaram-se figuras como William Byrd, Thomas Morley, John Dowland e Henry Purcell, fundador da ópera inglesa.

O italianismo, no século seguinte, provocou a célebre reação nacionalista da ópera-balada, de que é exemplo The Beggar's Opera (A Ópera do Mendigo) de John Christopher Pepusch e John Gay, contrapartida satírica à presença do gênio de Häendel, magnificamente bem-sucedido na Grã-Bretanha.

Na primeira metade do século XIX é importante a personalidade de John Field, sobretudo no desenvolvimento da música para piano. Do fim do século XIX em diante, o panorama se enriqueceu com a ópera de Arthur Sullivan, cujo nome está ligado ao de William Gilbert, com a obra orquestral e coral de Edward Elgar, o impressionismo de Frederick Delius e a vasta atividade criadora de Vaughan Williams.

A modernidade na fantasia astral de Gustav Holst, e a música de câmara de Frank Bridge, atinge um fascínio crescente na obra vocal e instrumental de Benjamin Britten, sobretudo em sua ópera Peter Grimes (1945).

Mas, principalmente, no século XX, a partir de Britten e Tippett, desabrocha uma criação operística fervilhante, que deu nomes tão diversificados quanto Maxwell Davies e Rodney Bennett, Birtwistle , Mark-Anthony Turnage e Thomas Adès.



Albert Theodore Frederick Delius (West Riding of Yorkshire, 29 de janeiro de 1862 — 10 de junho de 1934) foi um compositor britânico, que fez várias óperas, tais como:
Irmelin (1890-92; 1953);

The Magic Fountain (1893-95; 1977, 1997);

Koanga (1895-97; UA 1904);

A Village Romeo and Juliet ( Romeo und Julia auf dem Dorfe) (1900-01; estreia em Berlin 1907, Londres 1910 );

Margot la Rouge (1902);

Fennimore and Gerda (1909-10; estreia 1919) e também música incidental como Zanoni (1888) e Folkeraadet (1897).

A virada para o século XX coincidiu com o apogeu do compositor inglês Frederick Delius , que durante a primeira década do século 20 compôs inúmeras obras.



Irmelin é uma ópera em tres atos, com libreto do próprio compositor, cuja estreia foi em New Theatre, Oxford .

Basicamente fala da princesa Irmelin que o pai deseja casar, mas ela não se interessa por ninguém, até que ela se enamora de Nils que está transformado em servo do assaltante Rolf. No final, cantam a sua felicidade.



The Magic Fountain ( 'Watawa'), também chamada de Florida Suite. É uma ópera em 3 atos de Delius , com libreto do compositor e de Jutta Bell (1857-1934).

The Fountain Magic, concluída em 1895, foi um trabalho profundamente pessoal de Delius, recordando a sua viagem de auto-descoberta para o novo mundo da Flórida, uma década antes, e sua busca pela vida e amor entre os círculos da boemia artística em Paris, durante os primeiros 1890.
O drama musical resultante foi para um Liebestod apaixonado que transcende as origens raciais dos protagonistas do romance, o jovem europeu Solano e Watawa, uma índia americana.




Koanga é uma ópera em tres atos, cujo libreto é de C.F.Keary, extraido de um episódio de "The Grandissimes" de George Cable, tendo sua estreia na Alemanha em 1904.
A história se passa na 2ª metade do séc.XVIII, numa plantação de cana-de-açúcar à beira do Mississipe, na Lousiana. Palmyra é uma escrava que rejeita as investidas do capataz e está enamorada por Koanga, que é um príncipe e sacerdote vodu que se nega a trabalhar, mesmo sendo ameaçado de chicote. Os escravos entoam spirituals por todos os cantos. O proprietário vendo o interesse de Koanga em Palmyra, lhe diz que a dará como esposa se ele trabalhar, o que Koanga aceita. Entretanto o capataz não vai deixar isso acontecer e trama uma emboscada para matar Koanga.



A Village Romeo and Juliet (Romeu e Julieta numa Aldeia) é uma ópera com um prólogo e tres atos, baseada na história de Gottfried Keller, que se passa na Suiça nos meados do século XIX. Começa com dois camponeses brigando pela demarcação de terras, quando repaam num violinista que é herdeiro das terras, mas nada reclama porque é bastardo. Os filhos dos camponeses crescem juntos e atraidos como casal enamoados. Mais tarde, os pais estão velhos e pobres e tem que abandonar as terras tão disputadas durante toda a vida. Surge o violinista com vários vagabundos convidando o casal ,Vreli e Sali, a tomar uma vida errante , o que eles recusam. Sali e Vreli se abraçam e os barqueiros cantam à distância a transitoriedade da vida.


http://www.youtube.com/watch?v=6ga2py_y6wY

Margot la Rouge é uma ópera que conta uma história passada em um bar de Paris, numa noite de primavera, quando a clientela é composta de bebedores local e um punhado de tortas. O centro das conversas gira sobre Margot la Rouge, cuja relação com um artista atrai comentários invejosos da sua colega Lili. Começa a chover forte e entram três soldados, os quais os dois primeiros demonstram pouco interesse nas meninas, mas o terceiro - Thibault - olha Margot. Ele acha que a conheceu antes. Os outros saem, mas Thibault permanece e se aproxima dela. No decorrer da conversa, fica claro que ela é da mesma vila que Thibault, que já a conhecia como Marguerite. Ela é movida por suas lembranças e também o reconhece , explicando-lhe que ela, no momento, tem um amante. Thibault pergunta se ela o ama e ela não responde. Thibault ,então, lhe oferece dinheiro e já estão prestes a sair juntos quando aparece o artista. Este quer matar Margot, mas Thibault defendendo-a recebe o golpe de faca em seu lugar. Margot agarra a baioneta e golpeia o artista, sendo presa pela polícia.

Fennimore and Gerda, conta a história de duas mulheres. Na casa do cônsul Claudi na Fjordby na Dinamarca, o seu sobrinho Niels Lyhne está conversando com Fennimore, a filha do cônsul, por quem ele se apaixonou. Ele acredita que é correspondido, mas a vê no jardim abraçada ao seu primo Erik, e percebe que os dois estão apaixonados. Passados tres anos, Fennimore está casada com Erik, mas estão descontentes um com o outro. Niels vai visitá-los e escuta o desabafo de ambos. Erik sai com os amigos para beber e Niels e Fennimore se descobrem, declarando o seu amor um pelo outro. No inverno, ela recebe um telegrama com a notícia que Erik havia sofrido um acidente , com consequente morte. Consumida pela culpa, ela termina o seu relacionamento com Niels. Mais tres anos se passam. Niels encontra o consolo e a paz na natureza e um ano depois ele fica encantado pela filha do conselheiro, uma moça chamada Gerda, e lhe propõe casamento, o que ela prontamente aceita.





Delius nos deixou muitas composições leves, melodiosas e graciosas. Entretanto, a doença que lhe acometeu(sífilis) fez mudar o rumo do sucesso, a partir de 1920. Viria a falecer no dia 10 de junho de 1934, cego e paralítico.

Mas mesmo assim, neste período, ainda compôs com a ajuda de um jovem músico, Eric Fenby (1906-1997) o qual ofereceu-se para anotar Songs of Farewell, utilizando textos do poeta norte-americano Walt Whitman (1819-1892)e este foi o seu último trabalho e, para nós, foi a forma que Delius encontrou para se despedir.


Levic

domingo, 20 de fevereiro de 2011

75- Rússia - séc. XX- Álfred Garrievitch Shnittke



Álfred Garrievitch Shnittke (1934-1998) nasceu na Rússia, filho de um jornalista judeu oriundo da Alemanha e de uma professora de origem católica do Volga alemão, foi educado na Rússia, mas nunca se sentiu russo. Identificava-se acima de tudo com a cultura e a música germânica.

Shnittke foi o compositor mais importante a surgir na Rússia após Shostakóvitch, sendo o responsável por abrir novas dimensões para a música daquele país na segunda metade do século XX. Sua obra é ampla e variada (nove sinfornias, inúmeros concertos, três óperas, balés, seis concertos grossos, música de câmara), sendo caracterizada pela capacidade de absorver diferentes tradições e expressar-se particularmente através de uma escrita poliestilística – mistura de estilos – altamente individual e refinada, capaz de unir o passado, o presente e o futuro, o local e o universal.

Alfred Schnittke
nasceu em Engels no Volga Alemão-República da extinta RSFSR, União Soviética. Ele começou sua educação musical em 1946, em Viena, onde seu pai, um jornalista e tradutor, havia sido postado. Em Viena, ele se apaixonou pela música, fazendo esta parte de
sua vida até a morte. Embora com bases musicais nos grandes metres, este ponto de referência pode ser considerado como essencialmente clássico ... mas nunca demasiadamente flagrante.

Este compositor mostra a forte influência que teve de Dmitri Shostakovich. Mas não somente dele, pois Alfred Schnittke é um compositor do século XX, cuja música entrelaça uma mistura extraordinária de técnicas e estilos. Uma voz bem individual, com suas influências que incluem Bach e Mahler, Berg e Webern, Tchaikovsky e Shostakovich, e a música sacra russa.

A influência alemã em Shnitkke vem porque ele teve muito contato com a cultura alemã, principalmente por influência de sua avó. Diferente de Shostakóvitch. A filosofia e prática comunista determinavam um autoritarismo com as composições musicais. O regime proibia
pensamentos e obras que fossem contrários à sua doutrina, mas proibia também o contato com compositores ocidentais e russos que não fizessem parte do regime. Assim, Shnitkke não podia ensinar e nem tocar obras proibidas pelo regime. Não chegava nem a ter contato com as partituras.

Shnittke teve muita influência religiosa e se converteu mais tarde a Igreja Católica, não a Ortodoxa que era mais difundida na Rússia, mas a Católica, religião que era de sua avó. Suas composições acabam trazendo a influência da religião. Há algumas obras sacras em seu repertório.

Em 1948, a família mudou-se para Moscovo. Ele terminou seu trabalho de graduação em composição no Conservatório de Moscovo em 1961 e ensinou lá de 1962 a 1972. Evgeny Golubev foi um dos seus professores de composição. Posteriormente, ele apoiou-se principalmente pela composição de trilhas sonoras de filmes e compôs cerca de 70 pontos em 30 anos. Schnittke convertido ao cristianismo, possuía profundamente arraigadas crenças místicas que influenciaram também a sua música.

A partir de 1984, a política de desestalinização iniciada por Khrushtchóv liberou oficialmente a entrada de partituras de músicos contemporâneos ocidentais na URSS. Dessa forma, alunos de música das diferentes instituições de ensino passaram a ter acesso a obras de compositores como Zoltán Kodály (1882-1967), Paul Hindemith, Carl Off (1895-1982) e, fundamentalmente, Schönberg, Webern e Berg, sem que isso fosse encarado como atividade subversiva.

Schnittke foi muitas vezes alvo da burocracia soviética. Sua primeira sinfonia foi, efetivamente, banida e depois que ele se absteve de voto da União em 1980, foi proibido de viajar fora da URSS.

Em 1985, Schnittke sofreu um derrame que o deixou em coma. Ele foi declarado clinicamente morto em várias ocasiões, mas se recuperou e continuou a compor.

Em 1990, Schnittke deixou a Rússia e se estabeleceu em Hamburgo. Sua saúde permaneceu fraca e ele sofreu várias recaídas, antes de sua morte, em 3 de agosto de 1998, em Hamburgo. Ele foi sepultado, com honras de estado, no Cemitério Novodevichy em Moscovo, onde se encontram muitos outros famosos compositores russos, incluindo Shostakovich.

Suas mais importantes óperas incluem:"Life with an Idiot", uma ópera em 2 atos, com libreto de Viktor Yerofeyev (1992),"The History of D. Johann Fausten", ópera em 3 atos e um epílogo, cujo libreto é de Jörg Morgener (Jurjen Köchel) e Alfred Schnittke (1991-1994), e ainda "Gesualdo", ópera em 7 quadros, um prólogo e um epílogo, com libreto de Richard Bletschacher (1993).

Um trecho de "Life with an Idiot".



E o famoso Tango da mesma ópera:



"The History of D. Johann Fausten"




Existe um livro publicado no Brasil que explora a vida deste ilustre compositor que é "Música Para Todos os Tempos" de Marco Aurélio Scarpinella Bueno, que ainda não tive oportunidade em lê-lo, mas espero fazer isso em breve.

Alfred Schnittke - Between Two Worlds from London Philharmonic on Vimeo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

74- Shostakovich 3






No começo de outubro, apesar da relutância do músico, Shostakovich e outros intelectuais foram evacuados via aérea, da Leningrado sitiada. Em outubro de 1941, ele foi forçado a se deslocar para Kuybishev (Samara), onde ele completou a sua 7ª Sinfonia (Op. 60, 1941), que ele deu o nome de "Leningrado", a primeira da série da trilogia das sinfonias de guerra, a qual é um quadro orquestral da resistência do povo da cidade de Leningrado (atual S.Petersburgo) ao cerco alemão.

A obra era tocada na Rádio de Leningrado em 1942 durante o longo cerco (870 dias) da cidade e foi preciso recorrer a todo e qualquer músico que pudesse ser libertado do esforço de guerra, de modo a completar a Orquestra da Rádio de Leningrado, já então bastante delapidada.

Esta é uma sinfonia de excessos. Musicalmente, oscila entre melodiosos temas pastorais, construídos em torno flautas celestiais, harpa e violino e a violência sonora e marcial, de que é exemplo toda a seção central do primeiro andamento. Os excessos da 'Leningrado' revelam-se ainda pela sua duração (75min.).

Estreada a 5 de Março de 1942, obteve grande sucesso, quer junto do público quer junto das autoridades, os quais puderam ver esta sinfonia como uma ode aos bravos que defenderam Leningrado dos invasores nazistas.

Esta primeira apresentação da Sétima Sinfonia, foi executada com a grande Orquestra do Bolshoi sob a regência de Samuil Samosud. Este dirigente foi o mesmo que regeu as estréias das duas óperas de Shostakovich, O Nariz e Lady Macbeth de Mtsensk.

A transmissão do concerto foi feita por rádio e atingiu todo o país. Foi um recepção calorosa a esta sinfonia, aliada ao fato de as autoridades andarem envolvidas no esforço de guerra, que fez com que o ambiente se apresentasse um pouco desanuviado para o nosso compositor, deixando de ser, pelo menos temporariamente, o alvo dos vigilantes de serviço.

Para auxiliar no esforço de guerra, ele levantou como um guardião de fogo um cartaz de propaganda que foi entregue a uma transmissão de rádio para a União Soviética. A revista Time homenageou em suas páginas Dmitri Shostakovich, reproduzindo uma foto onde o mesmo, vestido de bombeiro junto ao pianista Sofronitski, auxilia no combate às chamas que consumiam o Conservatório de Leningrado. A capa da revista reproduz uma foto do compositor com o capacete dourado da Brigada de Bombeiros de Leningrado. Parte do texto aborda a proximidade da estréia da Sétima Sinfonia.

Ao fim da guerra, mesmo com o sucesso propagandístico gerado pela Sétima Sinfonia, a Oitava e Nona Sinfonias e o Terceiro Quarteto de Cordas foram denunciados como desvios musicais com tendências antidemocráticas. Com isso, Shostakovich foi afastado do conservatório de Moscou e sua música deixou de ser executada. A reabilitação só veio com a "Canção da Floresta" em 1949, que é uma ode ao plano glorioso de reflorestamento proposto pelo Secretário Geral do Partido. O músico foi reabilitado e ganhou o Terceiro Prêmio Stalin.

No verão de 1943 iniciou a escrita da Sinfonia Nº 8, a segunda da referida trilogia sobre a guerra, e que se previa que estivesse em linha com a anterior. Até mesmo a certa altura já lhe tinham atribuido o nome de "Stalingrado", que, contudo, nunca viria a ostentar. Apesar do tema da guerra estar de novo bem presente durante toda a obra, e isso reconhecido pelo próprio autor ao afirmar que "quis recriar o clima interior do ser humano ensurdecido pelo gigantesco martelo da guerra", cenas ocultas vieram à tona.

É que o sentimento que atravessa e marca a sinfonia, de dor e destruição, apanhou de surpresa a audiência na estreia, a 4 de novembro de 1943. E se o público não a entendeu assim, já as autoridades não lhe acharam graça nenhuma, e daí veio a proibição da execução pública da obra. Novamente a censura não estava assim tão distraída e o compositor, sempre observado, fez com que a Sinfonia nº 8 só viesse a ser tocada de novo após a morte de Stalin, em 1953.

Shostakovich era filho da Revolução e, sem ela, ele nunca teria conseguido fazer o que fez. Durante toda sua vida, apesar de todas as tentativas dos comentários maliciosos, ele permaneceu leal aos ideais do socialismo e de Outubro. Mas ele detestava Stalin e a burocracia. Isto lhe custou caro. Devido a seus princípios, teve uma vida dura, cheia de perseguições que só lhe atormentavam.

Em fevereiro de 1948, um decreto do comitê central do partido comunista, inspirado pelo informe de A. Jdanov (formulações brutais contra toda obra de arte que se afastasse das normas de um otimismo patriótico), ele foi denunciado por ser um apreciador do domínio burguês. Suas obras, então, foram proibidas de execução pública e ele foi forçado a se arrepender publicamente por suas "ações".

Neste ano, ele absorve em seu pensamento um grande medo de ser preso e muitas vezes passa a noite fora de sua casa, para que sua família não seja perturbada , caso fosse preso ou abatido. Entretanto, nunca foi preso e assim reanimado imediatamente começou a trabalhar no resgate de si mesmo aos olhos da liderança soviética.

Ele compôs " Concerto para Violino nº. 1", que provou ser mais popular e ajudou um pouco sua situação. Em 1949, as restrições às suas composições musicais foram facilitadas de tal forma que ele concordou em participar de uma delegação de celebridades Soviética para os Estados Unidos. Viajou para os Estados Unidos como delegado soviético na Conferência Mundial da Paz e pôde observar o sucesso que suas obras tinham no exterior, principalmente a 5 ª sinfonia.

Em 1949, Shostakovich compôs "Canção das Florestas", que chamou para Stalin, o título de o grande jardineiro. O elogio aparentemente agradou bastante a Stalin e, em 1951, Shostakovich foi nomeado como suplente para Stalin. Em 1953, após a morte de Stalin, Shostakovich lançou a 10 ª Sinfonia , que foi muito popular e que parecia ser um retrato musical de Stalin como uma pessoa.

Em 1954, sua esposa morreu e ele se casou com uma mulher chamada Margarita Kainova em 1956. Seu casamento provou ser problemático e terminou em divórcio em 1959.

Em 1960, ele decidiu se juntar ao Partido Comunista, um ato que ele fugiu na maior parte de sua vida. Embora esta mudança tenha lhe tornado mais popular com a liderança soviética, Shostakovich teria lamentou a decisão e disse que ele era chantageado. Naquele ano, ele também lançou o seu "Quarteto de Cordas 8".

Em 1962, ele casou pela terceira vez com uma mulher chamada Irina Supinskaya. Apesar da sua enorme diferença de idade (ela tinha 27, ele com 56), se davam muito bem e ele permaneceu casado até sua morte. Neste ano, ele também lançou o seu "13 ª Sinfonia", que provou ser muito controvertida devido ao seu foco no massacre judeu durante a 2ª Guerra Mundial.

Em 1965, ele foi diagnosticado com poliomielite, e em 1970 e 1971, ele sofreu uma série de ataques do coração que mais impactaram a sua saúde. Apesar dessas doenças, ele lançou suas sinfonias 14 e 15 em 1969 e 1961, respectivamente. Dmitri Shostakovich morreu de câncer de pulmão em 9 de agosto de 1975.

O compositor sobreviveu a três infernos interligados: a Revolução Russa, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto Stalinista. Sua produção musical ganha muito poder quando passamos a entender o ambiente onde ele viveu e o sentimento que ele tentou colocar em sua obra. Não nos causa surpresa que seus acordes sejam selvagens e trágicos.

Sua vida, por conseguinte, abrangeu a Revolução de Outubro, a guerra civil e as duas guerras mundiais, bem como os horrores do estalinismo, que mudou todo o curso de sua vida, como mudou o destino do país de Outubro, pisoteando as esperanças e os sonhos despertados pela Revolução Bolchevique.

Todos os sofrimentos de sua terra natal estão expressos em sua música. Por essa razão, às vezes, parece que sua música é "difícil" de escutar. Este é o caso, particularmente, de suas últimas três sinfonias, escritas no final de sua vida, quando Shostakovich estava amargurado e crescentemente obcecado com a idéia da morte. Mesmo assim sua música nunca foi pessimista, mas sim trágica e profundamente humanista.

Dimitri Shostakovich, um dos maiores compositores do século XX, um gigante que deu voz aos sofrimentos e triunfos do povo soviético em um dos mais turbulentos e revolucionários períodos da história. Por outro lado, acho que o ouvinte contemporâneo identifica na música dele uma capacidade de compreender, com compaixão mas sem sentimentalismo, o drama do ser humano exposto à opressão.

Levic

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

73- Shostakovich 2



Dmitri Shostakovitch ( 1906 — 1975) foi um compositor russo que trabalhou oficialmente para o regime comunista, tendo porém sido relegado ao quase ostracismo no fim de sua vida. Nasceu na União Soviética, no meio de uma família onde a cultura ocupava um lugar importante. Suas primeiras lições musicais, aos nove anos de idade, ele aprendeu com sua mãe que era uma pianista profissional, mas com uma idade que já pode ser considerada um tanto tardia.

Nascido em São Petersburgo, Shostakovich era o segundo de três filhos. Sua família pelo lado do pai era de origem polonesa e seu avô paterno, Boleslaw Szostakowicz, participou na insurreição fracassada de 1863 contra o domínio russo, tendo sido sentenciado ao exílio perpétuo na Sibéria. Esses fatos devem ter produzido impactos profundos na mente do jovem Shostakovich, que, apesar de não ser ativo na política, sempre teve uma incandescente aversão à tirania e uma profunda simpatia pelos sofrimentos das vítimas da opressão.

Sua produção musical abarca todos os gêneros musicais tanto na ópera, como na comédia musical, sinfonias, concertos, cantatas e até trilhas para filmes. Entretanto parece que ele desistiu da ópera, privando o palco lírico do século vinte de um de seus principais talentos naturais, pois na verdade só escreveu duas óperas, devido talvez aos temas que precisavam passar pelo crivo do Estado, pela interferência severa da política interior.

Entre as obras de destaque do compositor surgem ballets, música de cena e cinema, 15 sinfonias, 6 concertos para piano, violino e violoncelo e suas Danças Fantásticas, 24 prelúdios para piano, 24 prelúdios e fugas para piano, 2 sonatas para piano, 8 quartetos de cordas, diversas obras de música de câmara, trilhas para filmes, além de 2 óperas.

Sua música costuma ser bastante envolvente, com forte uso de temas militares, comuns à época em que viveu (comunismo, Segunda Guerra Mundial, entre outros). Além disso, ao compor quinze sinfonias, foi um dos maiores sinfonistas do século XX. Também escreveu uma suíte para orquestra de jazz, dois concertos para piano e orquestra, concertos para violino e violoncelo e diversos quartetos de cordas, além de obras para piano solo.
Ainda da suite de jazz: Suite Variaty Stage

Foxtrot

Ballet Suite

Jazz Suite nº2-Valsa
(clique nos nomes para assistir os vídeos)

Em 1919 ingressou no Conservatório de São Petersburgo (então Petrogrado), onde estudou piano com Leonid Nikolayev e composição com Maximilian Steinberg. Os estudos de piano prolongaram-se até 1923 e os de composição até 1925.

No aprendizado de composição, foi aluno de Glazunov e de piano com Steinberg no conservatório de Leningrado. Sua primeiro sinfonia, uma das mais conhecidas até hoje, foi escrita antes mesmo de concluir seus estudos no conservatório.

Foi agraciado por diversas comendas outorgadas pelo governo russo, ao mesmo tempo que recebia ataques e desgraças provindas do mesmo governo que lhe concedia premiações. Uma das óperas que recebeu ataques violentos do “Pravda” foi sua ópera “Lady Macbeth de Mtsensk”. Escreveu trilhas sonoras para filmes e chegou a trabalhar no teatro com Meyerhold.

Embora continuasse inscrito como aluno de pós-graduação em composição até 1930, ele raramente consultava Shteynberg, que admitiu não compreender as músicas mais recentes de Shostakovich. Esta música foi escrita em uma nova linguagem para a época, pois parecia austera, satírica e bastante dissonante, um estilo que refletia as tendências modernas da música européia.

Em 1926, a sua sinfonia nº 1, peça de formatura da classe de composição, foi muito bem bem recebida em todos os cantos. Recebeu menção honorífica em piano no prestigioso Concurso Chopin de Varsóvia na edição de 1927 e também neste ano recebeu uma encomenda do governo soviétio de uma obra que seria tocada nas comemorações da “Revolução de Outubro”.

Parece que esta apresentação surpreendente da Sinfonia nº1, a qual recebeu a atenção do mundo musical, mudou a vida de Shostakovich com muitas expectativas e reconhecimento do seu valor e, realmente, logo em seguida vieram as obras posteriores, como a ópera "O Nariz" e o ballet "A Idade do Ouro" que mostraram o seu lado talentoso aplicado ao humor e à sátira. Talvez esta inclinação ao humor tenha surgido pela sua admiração a Gogol ou por ter assistido a muitos filmes quando tocava nos cinemas.

Sim, pois Shostakovich para sustentar sua mãe viúva e família teve que tocar piano como acompanhante de cinema mudo em várias salas de cinema, ao mesmo tempo que prosseguia em seus estudos. Foi lá que o jovem Shostakovich desenvolveu seu talento pela paródia musical e pela combinação da música à ação.

Eis , então, que entre 1927 e 1930, Shostakovich escreveu várias peças onde o humor e a sátira prevaleciam às custas do lirismo e que são notáveis pelo uso brilhante e imaginativo dos recursos orquestrais. Entre estas obras temos: "O nariz"(1929), "A época dourada" e a música incidental para a encenação de "A pulga".

Acompanhando um dos filmes mais populares e acessíveis da União Soviética , Shostakovich o transforma numa ópera que foi bem aceita. Então, The Gadfly era um filme de grande sucesso, um drama açucarado e divertida fantasia baseado em um romance da escritora inglesa Ethel Voynich, que faz uma visão histórica misturada com o cruzamento entre "Os Três Mosqueteiros" e "The Scarlet Pimpernel", focalizando o herói como um fanfarrão revolucionário no Risorgimento da Itália no ano de 1830/1840. Isso dá ao compositor uma chance deliciosa de criar canções no estilo de Bellini e Verdi. Os mais famosos são o Galop cativante e o romance, que têm sido reciclados muitas vezes em programas de TV e propagandas e são criações mais adequadas para àqueles que preferem a música de Shostakovich do lado mais leve.

Agora, o elemento cômico retorna em sua única ópera realmente completa, Lady Macbeth do Bairro de Mtsensk, obra esta que o compositor, então com vinte e oito anos, revela também seu lado sério. Há elementos de Grand Guignol, aparentemente tomados dos filmes de terror, juntamente com comentários sociais que zombam e condenam a avareza e a ignorância da maior parte dos personagens. A música é enérgica e em algumas vezes ressaltando a ação e em outras vezes tomando um caminho próprio para expressar a cólera do compositor ou o seu próprio entretenimento. Entretanto, esta ópera será motivo de muitas punições para ele.

Shostakovich foi muito elogiado e recebeu várias distinções: em 1954, de Artista do Povo da URSS e de Membro Honorário da Real Academia Sueca de Composição; em 1956, a Medalha da Ordem de Lênin, além do Prêmio Lênin de Composição em 1958 e 1966, e no mesmo ano de 1958 o título de Doutor honoris causa pela Universidade de Oxford e pela Universidade de Dublin, em 1968. Em 1966 a medalha de ouro da Real Sociedade Filarmônica de Londres.

Apesar de todos as condecorações e prêmios recebidos, sua carreira foi marcada por perseguições e condenações do mesmo regime que o laureava, sob a acusação de realizar uma música antipopular e com excesso de modernidade. Este desamparo, sentido tantas vezes por ele, pode ser o que transparece principalmente no estilo das últimas composições, caracterizadas por um tom amargo e sombrio bem diferente das primeiras que encontravam com os tons mais alegres e românticos.

No decorrer de sua carreira, em 1936, Shostakovich sofreu um inesperado revés na sua vida, na época da apresentação de sua segunda ópera que é a Lady Macbeth de Mtsensk. A peça foi calorosamente bem recebida pelo público, tanto em Leningrado quanto em Moscou, mas foi retirada de cartaz pela crítica do Pravda, entitulada "Caos no lugar de Música", em que acusa o compositor de haver escrito um concerto fora dos propósitos de uma música socialista.

O Pravda classificou a música do compositor como rude, grosseira, atrapalhada e confusa. Ele só se reabilitou ao lançar sua 5 ª Sinfonia, até hoje uma de suas obras mais populares. Interessante que poucos meses antes do conflito da ópera citada, ele havia ganho o Prêmio Stalin e mil rublos pela apresentação de seu Quinteto para Piano.

A ópera em questão, Lady Macbeth de Mtsensk, descreve elementos da vida soviética, em fatos que ele teve o cuidado de disfarçar ao escolher um história do século precedente. Sob esta caricatura do bufo dos policiais, por exemplo, está presente seu desgosto com os mecanismos de um estado de polícia. Embora sua heroína seja uma assassina, ele é complacente com ela: ele a vê como a vítima de uma sociedade repressora, levada a um ponto onde não tem escolha.

Na época do ataque do Pravda, ele estava se preparando para realizar a sua 4 ª sinfonia, mas as críticas levaram-no a perder quase todos os seus financiamentos e os resultados foram decepcionantes, tendo que adiar a sua apresentação até 1961.

Também em 1936 ele viu a detenção de muitos de seus amigos e colegas durante o Terror da União Soviética "Grande". Além de seu caráter bastante tímido e retraído, os pesados golpes que caíram sobre sua cabeça, durante toda a sua vida e que ameaçaram a sua própria existência, ensinaram-no a ser reservado e cauteloso. Isto explica o porquê de suas declarações frequentemente enigmáticas sobre o seu próprio trabalho.

Assim se inicia uma grande contradição na vida deste grande músico, pois Shostakovich no Ocidente era considerado um autêntico compositor oficial soviético e em seu próprio país sofria interferências das autoridades culturais, denegrindo a sua obra com contaminações políticas. Apesar disso, e de sua aparente aceitação dos preceitos socialistas na música, ele sempre conseguiu manter-se com uma indepedência criativa.

Ele nunca foi um dissidente, porque no fundo acreditava nos princípios do regime e denunciava apenas os seus desvios e deformações, sentidos através da vida do povo e da imposição de uma coerção exagerada . Também nunca foi um homem do sistema, que se beneficiasse de privilégios. Se foi muito premiado, é porque – sobretudo após a morte de Prokófiev – era o maior compositor soviético vivo.

O compositor sempre passou por momentos de glória ou de desprezo junto às autoridades. Nicolas Slonimski observou que Shostakovich era o barômetro do humor dos políticos em relação à música soviética. Sua ópera Lady Macbeth, aclamada mundialmente, foi execrada por Stalin e colocou o cantor em péssima situação perante o Partido.

Em 1937, ele lançou sua 5ª Sinfonia, que não tinha o conteúdo político de seus trabalhos anteriores e teve permissão para ser executada . A sinfonia foi um grande sucesso e continua a ser um de seus trabalhos mais aplaudidos, um cartão de visita no exterior. Durante o trabalho da criação da sinfonia, ele começou com os experimentos de introdução de quartetos de cordas. Nessa mesma época assumiu o ensino de composição musical no Conservatório de Leningrado, o que lhe trouxe um maior prestígio.

Para atender aos ânimos das autoridades, o compositor também fez coisas de encomenda, como "O canto da floresta" e "O sol brilha sobre a pátria", que são peças para enaltecer o stalinismo, ou veleidades como marchas para o exército e a polícia, mas em suas obras essenciais ele foi íntegro e, mais que isto, ousado. 'O canto da floresta', mesmo se baseando em um texto de baixíssima qualidade poética, Shostakovich dá um jeito de ser fiel a si mesmo e escrever música que não é totalmente desprovida de qualidade.

Shostakovich, como já se viu pelas observações feitas, é um caso dúbio. Foi criticado por Stalin quando apresentou a ópera de vanguarda Lady Macbeth de Mtsensk, em 1936. Como bom comunista, aceitou as críticas e dedicou-se a obras de tom oficial, nas quais, porém, às vezes semeava suas dissonâncias. Compôs até uma trilha de "A Queda de Berlim", um filme de guerra propagandístico em que Stalin era retratado como herói. Sempre que o ditador aparecia em cena, o fundo musical era meloso, sem grandes inovações.

O sarcasmo e o humor negro são características do homem Dmitri, que se encontra nele antes mesmo de Sollertínski lhe ter revelado a obra de Mahler, na qual ele vai encontrar um tom grotesco, de deformação caricatural, com o qual tem toda afinidade. O tom irreverente de humor já está presente nas obras do início de sua carreira, e é muito forte, por exemplo, no scherzo da Primeira Sinfonia. Mas esse é um traço inato de sua personalidade, que explica, por exemplo, a atração que tem por Gogol, e que vai amadurecer e se refinar no contato com a música de Mahler.


Existe alguma semelhança? Pelo menos, na fotografia.


Levic